Folha de S.Paulo

Não. Porque aqui, eu acho que às vezes é muito perigoso.

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Você gosta de morar aqui no Itaim Paulista?

Gosto dele porque tem bastante lugar, como lojas, mercados. Aí, se a gente não tem nada, a gente vai no mercado. Então, a gente vai de carro porque quando a gente vai a pé demora muito para chegar no mercado, então a gente tem que ir de carro todo dia. Um dos principais problemas de grandes cidades brasileira­s, como São Paulo, é a questão da violência: roubo, assalto, mortes... Como você acha que a questão aparece no noticiário? Você vê muito isso?

Sim. Muito. Eu acho que a coisa que mais aparece no jornal é roubo, assalto, essas coisas. Porque notícia boa eu acho que são poucas. Por que será que destacam tanto a notícia ruim?

Porque agora o mundo atual tem muitas coisas ruins. Tem pessoas que não são do bem, são do mal. Elas gostam de fazer o mal, elas não gostam de fazer o bem. Tipo assim, roubar algum banco. Eles dizem: “Nossa, que legal! Eu roubei um banco.” Não é legal isso, porque tem tanta gente que não tem dinheiro e eles ficam roubando. Você acha que existe pessoa do bem e do mal?

Para mim, do bem é ajudar os outros, ter a sua opinião. Do mal é você fazer coisa errada: roubar, assaltar, matar. Acho muito errado isso. Mas o que você acha que leva a pessoa a ser do mal?

Para mim, eu acho que são as drogas, porque as drogas, eles falam que é do bem, mas não é. Faz muito mal para a gente e você fica até estranho, vendo alucinaçõe­s. Aqui no seu bairro você se sente seguro ao andar nas ruas? As pessoas deveriam ter direito a portar e ter armas?

Não. Porque a gente não confia em todas as pessoas. Porque tem gente que pega uma arma e fica brincando: “Ah, eu vou matar você!” Aí, ele fala que é brincadeir­a, mas acaba algum dia, ele matando, assaltando e fazendo muitas pessoas mortas.

Eu acho errado isso. Para mim, só os policiais, mas eles devem usar com muito cuidado. Porque tem pessoa que quer matar, de verdade, e tem pessoa que brinca, mas às vezes até mata de verdade. O que acha da Polícia Militar? A polícia dá segurança?

Sim. Mas tem policiais que agem errado. Igual eu vi no noticiário que o homem que foi atropelado estava na ambulância, aí o policial ficou atirando nele com arma [bala] de borracha, muito tempo. Que tipo de punição você acha que devia ter para as pessoas que cometem crimes?

Ser presos. Porque eles deveriam pensar nos outros. Alguma pessoa matou alguém, ou assaltou, deveria pensar no outros: como eles iam ficar, como seriam a vida deles depois disso que eu fiz? Eles deveriam pensar muito. Você já viu imagens de como são as cadeias no Brasil?

Eu já vi por fora, em noticiário­s. É muito sujo. Tem muitas paredes pichadas. Tem lixo jogado pelo chão. Tem gente brigando. Teoricamen­te, as cadeias são lugares onde as pessoas iriam para ficar presas e tentar ser recuperada­s, né? Você acha que as cadeias, os espaços que você viu, são lugares capazes De uma certa maneira, se está cercado por grades, você não fica um pouco prisioneir­o?

Sim. Muito. Eu quero sair, brincar, mas os meus pais não deixam. Então, eu só posso brincar quando eles ficam olhando. É certo isso. Quando eu vou brincar, meio que na rua, meus pais têm que ficar olhando e também em outros lugares, como casas que não têm tanta segurança, como não ter corrimão nas escadas, então eles têm que ficar atentos porque pode acontecer algum acidente. série ‘Criança do Dia’, de entrevista­s com crianças sobre temas presentes no noticiário. São 26 crianças, de 6 a 12 anos, de 19 escolas de SP. Um esforço para tentar entender como elas interpreta­m a avalanche de informaçõe­s do mundo atual.

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