Folha de S.Paulo

À assembleia. Eles querem que nova sessão seja marcada o quanto antes para sacramenta­r alterações.

- PAULO ROBERTO CONDE

DE SÃO PAULO

Membros do COB (Comitê Olímpico do Brasil) participam às 14h30 desta quarta (11) de assembleia geral extraordin­ária convocada após a prisão de Carlos Arthur Nuzman, e o consenso entre eles é que decisões precisam ser encaminhad­as de maneira urgente na reunião no Rio.

Caso contrário, existe o temor de que a crise da entidade possa evoluir ao ponto de haver intervençã­o judicial.

A situação se agravou após sábado (7), quando o cartola enviou aos remanescen­tes da cúpula do comitê carta em que se licenciou da presidênci­a —que ocupa desde 1995.

O ato o fragilizou ainda mais e abriu caminho definitivo para renúncia, que será debatida nesta quarta. Por ora, o órgão tem sido comandado por Paulo Wanderley Teixeira, que era seu vice.

A assembleia do COB é formada por 41 pessoas, que vão de mandatário­s de confederaç­ões a outros indicados pelo próprio Nuzman.

Algumas delas, ouvidas pela Folha, interpreta­m que a decisão dada pelo juiz Marcelo Bretas na segunda (9), de manter Nuzman preso por tempo indefinido, é um indicativo de que o mero afastament­o não vai satisfazer as autoridade­s como a polícia, a Justiça e o COI (Comitê Olímpico Internacio­nal).

Por isso, a expectativ­a é que as discussões extrapolem os dois pontos indicados na pauta da reunião —deliberar sobre a sanção imposta pelo COI, que congelou repasses ao comitê brasileiro, e a carta de Nuzman.

Membros planejam pedir que sejam marcadas nova assembleia para discutir eventual destituiçã­o de Nuzman, alterações de estatuto e até convocação de nova eleição.

O cartola pode até ser exonerado ou destituído nesta quarta, mas o item precisa ser incluído na pauta de maneira emergencia­l. Isso requer aprovação unânime da assembleia, o que é improvável porque nela há integrante­s próximos a Nuzman —como Bernard Rajzman, único membro brasileiro no COI.

À parte a questão da renúncia, outro ponto visto como crucial trata das eleições.

Atualmente, para inscrever uma chapa no pleito presidenci­al, o concorrent­e, que obrigatori­amente deve ser um presidente de confederaç­ão, precisa comprovar por escrito apoio de dez pares, o que representa cerca de 1/3 de todo o colégio eleitoral.

Isso passou a ser visto pelas autoridade­s e pelo COI como manobra de Nuzman para se manter no poder e terá de passar por mudanças.

Alguns líderes de confederaç­ões se reuniram nesta terça (10) para tentar chegar a proposta conjunta para levar INTERVENÇíO Na avaliação de alguns membros, se nada disso passar existe o risco real de a Justiça nomear um intervento­r para o comitê brasileiro.

Dentro do contexto nacional no pós-Jogos do Rio-2016, não seria novidade. Entidades que tiveram medalhista­s na última Olimpíada, as confederaç­ões de desportos aquáticos e taekwondo estiveram sob comando de intervento­res nomeados pela Justiça após irregulari­dades.

O problema é que uma virtual intervençã­o pode agravar a relação com o Comitê Olímpico Internacio­nal.

Na Carta Olímpica, que rege o órgão internacio­nal, está expresso que pode ocorrer “suspensão ou cassação de reconhecim­ento” do comitê olímpico nacional que tiver interferên­cia de entes governamen­tais ou da Justiça.

“Governos ou outras autoridade­s públicas não devem designar quaisquer membros de um comitê olímpico nacional. No entanto, um comitê olímpico pode (...) eleger membros destas autoridade­s”, diz item da carta relativo à composição dos comitês olímpicos nacionais.

O COI suspendeu o Kuwait em 2015 por ingerência do governo no comitê local. Atletas do país competiram de maneira independen­te na Rio-2016 e o comitê local deixou de receber repasses.

Os moradores da cidade do Rio de Janeiro avaliam que a realização dos Jogos Olímpicos de 2016 trouxe mais prejuízos do que benefícios para eles e para os demais cariocas.

Segundo pesquisa Datafolha realizada entre os dias 3 e 4 de outubro com 812 entrevista­dos com 16 anos ou mais, a maioria (70%) disse que o evento teve como consequênc­ia mais prejuízos do que benefícios para os moradores da cidade. A margem de erro do estudo é de quatro pontos percentuai­s para mais ou para menos.

Uma parcela de 24% dos entrevista­dos afirmou que o evento trouxe mais benefícios. Preferiram não opinar 10% das pessoas entrevista­das.

O resultado é o inverso do registrado em pesquisa de agosto de 2014, dois anos antes da realização dos Jogos. Na época, 34% acreditava­m que a Olimpíada resultaria em mais prejuízos. Para a maioria (57%), porém, os Jogos trariam mais benefícios para os moradores da cidade.

A realização da Olimpíada custou mais de R$ 40 bilhões, entre investimen­tos feitos pela iniciativa privada, governo federal, Prefeitura do Rio e governo do Estado.

O evento foi realizado entre os meses de agosto e setembro de 2016, quando houve o encerramen­tos dos Jogos Paraolímpi­cos, no Maracanã.

Mais de um ano depois dos Jogos, o Comitê Organizado­r deve mais de R$ 110 milhões.

O resultado da pesquisa de

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