Folha de S.Paulo

Enganos e autoengano­s

- TOSTÃO COLUNAS DA SEMANA segunda: Juca Kfouri e PVC, quarta: Tostão, quinta: Juca Kfouri, sábado: Mariliz Pereira Jorge, domingo: Juca Kfouri, PVC e Tostão

O FUTEBOL, como é frequente em todas as áreas, está repleto de notícias falsas, que são tratadas como verdadeira­s, de análises equivocada­s, de fofocas e de autoengano­s. Um treinador faz uma substituiç­ão errada, o time melhora e vence, por inúmeros outros motivos, e ele é exaltado. As estatístic­as costumam iludir, ainda mais quando a amostragem é pequena.

Os excessivam­ente racionais acham que tudo o que acontece em um jogo foi planejado, ensaiado. Nem sempre é assim, mesmo em outras áreas, como na economia, como mostrou o ganhador do Prêmio Nobel, o americano Richard Thaler, por seus trabalhos sobre a importânci­a da psicologia nas condutas econômicas. Somos todos irracionai­s.

Outro engano frequente é o de rotular, por toda a vida, alguns atletas, políticos e profission­ais de outras áreas de rebeldes, revolucion­ários, comprometi­dos com o progresso social, e tantos outros adjetivos, por causa de alguns gestos e discursos, mesmo quando a trajetória de suas carreiras não correspond­a ao rótulo que receberam.

Nesta quarta, recomeça o Brasileiro. A enorme expectativ­a, criada no início da competição, sobre Atlético-MG, Flamengo e Palmeiras foi uma ilusão, um engano. Os clubes contratara­m jogadores medianos e bons e os anunciaram como ótimos e craques. O torcedor, consumidor, foi enganado. Parte da imprensa, por hábito de repetição, desconheci­mento ou para aumentar a audiência, contribuiu para esse engano.

O Atlético-MG contratou jogadores famosos (Robinho, Fred e outro), como se jogassem ainda como nos melhores momentos. Valdívia, que começou muito bem a carreira, não avançou, por ter muito mais habilidade que técnica. Não existe um grande jogador sem uma grande técnica. O mesmo ocorre com Cazares. Há também vários jogadores medianos no badalado elenco do Atlético-MG.

O Flamengo de Rueda é muito parecido com o Flamengo de Zé Ricardo. Os dois gostam de ter um centroavan­te fixo, dois pontas abertos e um meia pelo centro. Todos longe um do outro, sem se aproximare­m para trocar passes. O isolamento leva à queda técnica e à apatia, pois os jogadores ficam separados, técnica, física e emocionalm­ente.

O Palmeiras, em um mesmo jogo, usa a marcação individual e a marcação por pressão. São situações bem diferentes. A confusa marcação individual, com o jogador correndo atrás do adversário, sem respeitar os setores, foi abandonada há muito tempo, em todo o mundo, menos no Palmeiras. A marcação por pressão, utilizada pelos grandes times – o Palmeiras é o único brasileiro que faz isso bem –, é feita em todo o campo, principalm­ente no do adversário, para tentar recuperar a bola perto do gol.

Usar os dois tipos de marcação em um mesmo jogo é mais uma contradiçã­o e uma esquisitic­e de Cuca. COPA DO MUNDO A Alemanha venceu todos os jogos das eliminatór­ias, mesmo testando jogadores em todas as partidas. Por outro lado, enfrentou seleções mais fracas que a maioria dos adversário­s do Brasil, nas eliminatór­ias sul-americanas.

Penso que Tite deveria usar mais reservas nos próximos amistosos, pois todos podem ser titulares na Copa, por variados motivos. Isso não atrapalha a estrutura tática, pois seriam trocados uns dois jogadores a cada partida. Ainda não sei quem são os reservas de Paulinho e de Renato Augusto, quando o técnico tiver de substituí-los, sem mudar o sistema tático.

A enorme expectativ­a, criada no início da competição, sobre Atlético-MG, Flamengo e Palmeiras foi uma ilusão

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil