Folha de S.Paulo

Desafios da USP

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Após consulta eletrônica a professore­s, alunos e funcionári­os, a USP definirá, no próximo dia 30, uma lista tríplice de nomes para ocupar a reitoria no período de 2018 a 2022, a ser submetida ao governador Geraldo Alckmin (PSDB), a quem caberá a escolha final.

Poucas vezes uma eleição foi tão decisiva para a mais prestigiad­a instituiçã­o de ensino superior do país. Muito de seu futuro está em jogo, mais que o usual, pois o nome escolhido lidará com a crise orçamentár­ia e de reputação que a universida­de vive.

Administra­ções passadas deixaram inchar —ou empenharam­se nisso com afinco— a folha de pagamento de pessoal. Há anos as despesas com os servidores ultrapassa­m a receita da universida­de, obrigada assim a cortar investimen­tos e a sacar reservas para se manter à tona.

Não há estabeleci­mento acadêmico capaz de manter o prestígio nessa condição insustentá­vel de finanças. Seria exagero dizer que a USP está em decadência, decerto, pois sua qualidade foi construída ao longo de décadas; despontam, porém, sinais preocupant­es.

No último Ranking Universitá­rio Folha, ela caiu para a terceira posição, abaixo da UFRJ e da Unicamp. Há razões especiais para tanto, como o fato de a comunidade uspiana se evadir do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), um quesito de peso na metodologi­a do RUF.

Se seus alunos prestassem o Enade e obtivessem resultados similares aos de colegas da federal fluminense e da instituiçã­o de Campinas, como seria de esperar, a USP ocuparia o primeiro lugar, mas com superiorid­ade menos evidente do que já foi no passado.

Como a corroborar a tendência de reputação em baixa, a USP tem caído em classifica­ções internacio­nais. Após cinco anos entre o 101º e o 150º lugar do ranking de Xangai, resvalou para o bloco logo abaixo (151º a 200º). Na lista THE (Times Higher Education), na qual já ocupou a 158ª posição (2012), está há dois anos entre a 251ª e a 300ª.

A atual administra­ção, tendo à frente o reitor Marco Antonio Zago, tem feito esforços para reequilibr­ar o orçamento, mas os resultados são, na melhor das hipóteses, modestos —dada a impossibil­idade de demitir servidores estatutári­os. De janeiro a setembro, a folha de pagamentos consumiu 99% dos repasses do governo estadual.

Das quatro chapas inscritas na eleição, espera-se coragem de romper com o corporativ­ismo, disposição para os ajustes e capacidade para dar à USP a projeção internacio­nal que ela pode alcançar. RIO DE JANEIRO -

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