A cidade e a criança
Olhe em volta e conte: quantas crianças você vê utilizando o espaço público? Quantas há no transporte público, indo a pé para a escola ou brincando na praça?
Essa conta simples de fazer, e que pode ser usada para comparar e analisar os locais e cidades que frequentamos, é um indicador rápido a ser usado por qualquer cidadão na hora de avaliar a qualidade de vida urbana. Mais crianças no espaço público significa uma cidade mais segura, agradável e com respostas eficientes a problemas tipicamente urbanos.
É a partir dessa perspectiva que a Fundação Bernard Van Leer convida prefeitos e urbanistas a inserir o cuidado com a criança nas políticas públicas. Ao se perguntar o que funciona para crianças pequenas, seus pais, cuidadores e mulheres grávidas, as respostas vão abranger os grandes desafios enfrentados por cidades pelo mundo: poluição, saúde, segurança, mobilidade, resiliência e mesmo a incorporação de tecnologias para uma “smart city”.
Os primeiros mil dias de uma criança são os mais importantes para sua formação: é quando 90% de seu cérebro se desenvolve. Essas conexões são como a fundação para sua vida, sua saúde e seu aprendizado. Ter uma base segura para viver esses dias, com ar limpo, espaços verdes, serviços de saúde e educação de qualidade e a curta distância, além de acessibilidade e boa mobilidade para seus pais e cuidadores, é essencial para garantir o bom desenvolvimento das crianças —e formar cidadãos integrados à cidade.
Ciente disso, a Fundação Bernard van Leer lançou um desafio para lideranças do mundo todo: se você pudesse ver a sua cidade de uma altura de 95 centímetros, o que você faria diferente?
Muitas cidades aceitaram e têm desenvolvido soluções pioneiras. Em Bogotá, na Colômbia, o projeto “Crezco con mi Barrio” (“cresço com meu bairro”) procura envolver a comunidade no planejamento urbano, criar espaços públicos seguros para a primeira infância; Bhubaneswar, na Índia, está desenvolvendo o Child-Friendly Smart City (“cidade inteligente amigável à criança”), para garantir que a cidade crie projetos de infraestrutura a partir da perspectiva da primeira infância.
No Brasil, Boa Vista, Recife e São Paulo também deverão entregar programas articulados com diferentes secretarias. Mas não só os governos estão envolvidos. Vários coletivos e organizações não-governamentais estão desenvolvendo atividades pioneiras por meio do edital Urban95 Challenge, o qual recebeu 151 projetos de 41 países.
Alguns dos vencedores, no Brasil, foram o Instituto Elos, em Santos (SP), que envolverá membros da comunidade no desenvolvimento de soluções para o espaço urbano focado na primeira infância; e a Universidade Presbiteriana Mackenzie, que desenvolverá um curso universitário para urbanistas da América Latina, em um espaço de pesquisa e design.
Em novembro, em parceria com a Fundação Bernard van Leer, a Rede Nossa São Paulo lançará uma experiência inédita: o Observatório da Primeira Infância, que se desdobrará no Mapa da Desigualdade da Primeira Infância e em dois guias para que outras cidades do país multipliquem a iniciativa.
O mapeamento revelará, por meio de indicadores regionalizados pelos 96 distritos, como São Paulo se relaciona com suas crianças. Programação de contação de histórias e ações para mediação de leitura, iluminação pública, transtornos mentais em crianças com idade inferior a 4 anos e transporte escolar público são alguns dos indicadores que, de forma pioneira, estarão reunidos no observatório.
Em tempos tão desafiadores, toda esta mobilização e o engajamento pelo mundo e no Brasil nos enchem de esperança por cidades mais humanas e acolhedoras, onde as crianças tenham a oportunidade de desenvolver seu potencial. IRENE QUINTÁNS, FERNANDA VIDIGAL,
ANTÔNIO C. DE PAULA
Justiça e Estado Roberto Caldas diz que maus costumes precisam ser enfrentados com educação. Ótimo, mas, na situação atual do Brasil, resolver a criminalidade com educação é o mesmo que querer curar câncer com homeopatia. A entrevista só demonstra quão distante da realidade vivem esses juristas (“O Estado tem de exercer o poder com a devida parcimônia”, “Poder”, 11/10).
EDUARDO DE LIMA
É óbvio que educação não é remédio para o crime praticado ou para o criminoso, mas, sem educação, a criminalidade se perpetua e não será reduzida jamais. Básico, não?
JOSÉ P. SIQUEIRA NETO
Análise segura e serena a de Roberto Caldas. Para onde caminhamos se queremos um Brasil justo, para todos e sem ódios? Para onde todos tenham vez e oportunidades. Uma Justiça equilibrada para todos. Um Brasil sem desigualdades.
JANE MEDEIROS
O texto de Reinaldo Figueiredo, “Ninguém tem saco de ler o manual” (“Ilustrada”, 11/10), é genial. Em pinceladas originais, ele descreve a hipocrisia religiosa e os ataques às manifestações artísticas e à liberdade de expressão. O museu é mais que um templo. Abriga as manifestações humanas, não aquelas de divindades imaginárias. Parabéns ao colunista e à Folha!
JOSÉ ROBERTO MASCARENHAS
Arte Saber por Silas Martí que o Masp, antes mesmo do início da mostra “Histórias da Sexualidade”, já vive um “clima tenso nos bastidores” me leva a constatar que, na verdade, o fascismo já ganhou (“Masp deve se tornar próximo alvo de onda mundial de puritanismo antiarte”, “Ilustrada”, 11/10). São fascistas não só as sociedades governadas por fascistas, mas também aquelas nas quais de repente nos flagramos com medo, em nome da possível reação fascista, dos nossos pensamentos e ações. Todos os que, nos últimos tempos, se mantiveram em silêncio têm um pouco de culpa. O que fazer agora?
LEANDRO VEIGA DAINESI
Planos de saúde