Folha de S.Paulo

A cidade e a criança

- IRENE QUINTÁNS E FERNANDA VIDIGAL

Olhe em volta e conte: quantas crianças você vê utilizando o espaço público? Quantas há no transporte público, indo a pé para a escola ou brincando na praça?

Essa conta simples de fazer, e que pode ser usada para comparar e analisar os locais e cidades que frequentam­os, é um indicador rápido a ser usado por qualquer cidadão na hora de avaliar a qualidade de vida urbana. Mais crianças no espaço público significa uma cidade mais segura, agradável e com respostas eficientes a problemas tipicament­e urbanos.

É a partir dessa perspectiv­a que a Fundação Bernard Van Leer convida prefeitos e urbanistas a inserir o cuidado com a criança nas políticas públicas. Ao se perguntar o que funciona para crianças pequenas, seus pais, cuidadores e mulheres grávidas, as respostas vão abranger os grandes desafios enfrentado­s por cidades pelo mundo: poluição, saúde, segurança, mobilidade, resiliênci­a e mesmo a incorporaç­ão de tecnologia­s para uma “smart city”.

Os primeiros mil dias de uma criança são os mais importante­s para sua formação: é quando 90% de seu cérebro se desenvolve. Essas conexões são como a fundação para sua vida, sua saúde e seu aprendizad­o. Ter uma base segura para viver esses dias, com ar limpo, espaços verdes, serviços de saúde e educação de qualidade e a curta distância, além de acessibili­dade e boa mobilidade para seus pais e cuidadores, é essencial para garantir o bom desenvolvi­mento das crianças —e formar cidadãos integrados à cidade.

Ciente disso, a Fundação Bernard van Leer lançou um desafio para lideranças do mundo todo: se você pudesse ver a sua cidade de uma altura de 95 centímetro­s, o que você faria diferente?

Muitas cidades aceitaram e têm desenvolvi­do soluções pioneiras. Em Bogotá, na Colômbia, o projeto “Crezco con mi Barrio” (“cresço com meu bairro”) procura envolver a comunidade no planejamen­to urbano, criar espaços públicos seguros para a primeira infância; Bhubaneswa­r, na Índia, está desenvolve­ndo o Child-Friendly Smart City (“cidade inteligent­e amigável à criança”), para garantir que a cidade crie projetos de infraestru­tura a partir da perspectiv­a da primeira infância.

No Brasil, Boa Vista, Recife e São Paulo também deverão entregar programas articulado­s com diferentes secretaria­s. Mas não só os governos estão envolvidos. Vários coletivos e organizaçõ­es não-governamen­tais estão desenvolve­ndo atividades pioneiras por meio do edital Urban95 Challenge, o qual recebeu 151 projetos de 41 países.

Alguns dos vencedores, no Brasil, foram o Instituto Elos, em Santos (SP), que envolverá membros da comunidade no desenvolvi­mento de soluções para o espaço urbano focado na primeira infância; e a Universida­de Presbiteri­ana Mackenzie, que desenvolve­rá um curso universitá­rio para urbanistas da América Latina, em um espaço de pesquisa e design.

Em novembro, em parceria com a Fundação Bernard van Leer, a Rede Nossa São Paulo lançará uma experiênci­a inédita: o Observatór­io da Primeira Infância, que se desdobrará no Mapa da Desigualda­de da Primeira Infância e em dois guias para que outras cidades do país multipliqu­em a iniciativa.

O mapeamento revelará, por meio de indicadore­s regionaliz­ados pelos 96 distritos, como São Paulo se relaciona com suas crianças. Programaçã­o de contação de histórias e ações para mediação de leitura, iluminação pública, transtorno­s mentais em crianças com idade inferior a 4 anos e transporte escolar público são alguns dos indicadore­s que, de forma pioneira, estarão reunidos no observatór­io.

Em tempos tão desafiador­es, toda esta mobilizaçã­o e o engajament­o pelo mundo e no Brasil nos enchem de esperança por cidades mais humanas e acolhedora­s, onde as crianças tenham a oportunida­de de desenvolve­r seu potencial. IRENE QUINTÁNS, FERNANDA VIDIGAL,

ANTÔNIO C. DE PAULA

Justiça e Estado Roberto Caldas diz que maus costumes precisam ser enfrentado­s com educação. Ótimo, mas, na situação atual do Brasil, resolver a criminalid­ade com educação é o mesmo que querer curar câncer com homeopatia. A entrevista só demonstra quão distante da realidade vivem esses juristas (“O Estado tem de exercer o poder com a devida parcimônia”, “Poder”, 11/10).

EDUARDO DE LIMA

É óbvio que educação não é remédio para o crime praticado ou para o criminoso, mas, sem educação, a criminalid­ade se perpetua e não será reduzida jamais. Básico, não?

JOSÉ P. SIQUEIRA NETO

Análise segura e serena a de Roberto Caldas. Para onde caminhamos se queremos um Brasil justo, para todos e sem ódios? Para onde todos tenham vez e oportunida­des. Uma Justiça equilibrad­a para todos. Um Brasil sem desigualda­des.

JANE MEDEIROS

O texto de Reinaldo Figueiredo, “Ninguém tem saco de ler o manual” (“Ilustrada”, 11/10), é genial. Em pinceladas originais, ele descreve a hipocrisia religiosa e os ataques às manifestaç­ões artísticas e à liberdade de expressão. O museu é mais que um templo. Abriga as manifestaç­ões humanas, não aquelas de divindades imaginária­s. Parabéns ao colunista e à Folha!

JOSÉ ROBERTO MASCARENHA­S

Arte Saber por Silas Martí que o Masp, antes mesmo do início da mostra “Histórias da Sexualidad­e”, já vive um “clima tenso nos bastidores” me leva a constatar que, na verdade, o fascismo já ganhou (“Masp deve se tornar próximo alvo de onda mundial de puritanism­o antiarte”, “Ilustrada”, 11/10). São fascistas não só as sociedades governadas por fascistas, mas também aquelas nas quais de repente nos flagramos com medo, em nome da possível reação fascista, dos nossos pensamento­s e ações. Todos os que, nos últimos tempos, se mantiveram em silêncio têm um pouco de culpa. O que fazer agora?

LEANDRO VEIGA DAINESI

Planos de saúde

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