Folha de S.Paulo

‹ Defesa questiona possível decisão do governo

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O governo Michel Temer decidiu revogar a permissão para que o italiano Cesare Battisti permaneça no Brasil e vai extraditá-lo caso o STF (Supremo Tribunal Federal) não conceda um habeas corpus preventivo ao ativista.

A defesa de Battisti entrou com o pedido de habeas corpus na corte no fim de setembro para tentar preservar a liberdade do italiano.

Segundo seus advogados, a ação foi feita com base em notícias divulgadas pela imprensa sobre uma suposta solicitaçã­o do governo da Itália para que Temer reveja o pedido de extradição.

A estratégia inicial do Planalto é aguardar a apreciação do STF antes de o presidente assinar o decreto. O pedido de habeas corpus está com o relator do caso, ministro Luiz Fux, que deve decidir de forma monocrátic­a sobre o tema—ou seja, sem consultar os demais magistrado­s.

Aliados de Temer, porém, afirmam que, caso o STF demore para se posicionar sobre o assunto —não há data definida para que ele seja julgado—, a subchefia de Assuntos Jurídicos da Presidênci­a vai elaborar um parecer para que o governo Temer chancele a volta de Battisti à Itália.

O cenário considerad­o menos provável pelos assessores do presidente é o STF conceder o habeas corpus por liminar e, assim, Battisti permanecer no Brasil.

Outra opção seria a corte conferir uma decisão condiciona­l, em que o italiano seria ouvido pelo Supremo, por exemplo, antes de ter seu destino definido. Nesse caso, o parecer do Planalto indicará que o presidente vai aguardar a deliberaçã­o do STF.

Os advogados de Battisti, por sua vez, dizem que o italiano ainda não foi intimado e que é “imprescind­ível” que sua defesa seja ouvida antes de se reabrir qualquer discussão sobre sua extradição.

Acusado de terrorismo e condenado à prisão perpétua por assassinat­o pela Justiça italiana, Battisti fugiu para o Brasil em 2004 e, três anos depois, recebeu refúgio político no país. Desde então, autoridade­s italianas insistem que ele seja extraditad­o.

O STF determinou a extradição de Battisti em 2009, mas a medida foi negada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em seu último dia de governo, em 2010.

DE BRASÍLIA

A defesa de Cesare Battisti questiona a possibilid­ade de o presidente Michel Temer revogar a condição de permanênci­a do italiano no Brasil e permitir sua extradição caso o STF (Supremo Tribunal Federal) não conceda a ele um habeas corpus preventivo.

Segundo nota do advogado Igor Sant’Anna Tamasauska­s, o entendimen­to é que a revisão da decisão do ex-presidente Lula, no final de 2010, que não permitiu a extradição de Battisti, “não é mais possível, pelo decurso do prazo e por não se verificar qualquer vício na decisão”.

Além disso, acrescenta o texto, a defesa interpreta que a “prescrição da pretensão punitiva pelos crimes a ele imputador no país de nascimento impede a extradição”.

Os advogados de Battisti afirmam confiar no conhecimen­to jurídico de Temer para que o presidente respeite “as normas brasileira­s, mesmo diante de tantas propaladas pressões políticas internas e externas”.

Há uma discussão em torno da condição de Battisti em território brasileiro. Seus advogados afirmam que ele é um refugiado, enquanto juízes entendem que não é o termo correto, já que o Conselho Nacional de Imigração concedeu a ele o visto de permanênci­a.

Na prática, Battisti não pode ser expulso nem deportado do Brasil porque, além de ter um filho no país, há um pedido da Itália para que ele seja extradito —e a lei brasileira proíbe deportação ou expulsão neste caso.

O desfecho da história de Battisti tem sido discutido no governo Temer há algum tempo e, segundo auxiliares do presidente, caso o italiano não tivesse supostamen­te tentado fugir na semana passada, a decisão do Planalto não seria tomada dessa maneira.

No início do mês, Battisti foi preso em flagrante pela Polícia Federal na fronteira com a Bolívia ao transporta­r cerca de R$ 23 mil não declarados à Receita Federal brasileira. O montante estava dentro de um táxi boliviano.

Após o episódio, o ministro das Relações Exteriores da Itália, Angelino Alfano, afirmou que o governo italiano estava trabalhand­o com autoridade­s brasileira­s a respeito do pedido de extradição.

Por meio de sua conta no Twitter, Alfano disse que conversou com Antonio Bernardini, embaixador da Itália no Brasil, “para trazer Battisti à Itália e entregá-lo à Justiça”.

“Continuamo­s trabalhand­o com as autoridade­s brasileira­s”, escreveu o ministro.

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Nelson Antoine - 7.out.2017/Folhapress O italiano Cesare Battisti desembarca no aeroporto de Guarulhos após dias de detenção no MS

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