Folha de S.Paulo

Menina síria que descreveu na internet sua rotina de sofrimento em Aleppo lança livro

- MEGAN SPECIA

DO “NEW YORK TIMES”

Sob ataques aéreos constantes em Aleppo enquanto o go v erno sírio arranca vç

a a cidade do controle de f or as rebeldes, Bana al-Abed e sua mãe ,F atemah, escreviam diariament­e no Twitter sob rea vida na cidade cercada.

“Bom dia de Aleppo”, diz Bana ,f alando inglês com dificuldad­e, em um vídeo postado em outubro de 2016. “Ainda estamos vivas.”

Menos de um ano mais tarde, sua v idaeadesua­m ãe deixaram de ser ditadas pelos ataques aéreos e pela incerteza, graças em parte à atenção internacio­nal.

Hoje vivendo na Turquia , a ummundoded­ist â nciada zo

,x na de guerra Bana , 8,eam ã e escre v eram um li vê

ro em que relatamsua­e peri ncia ,“D ear Na World ”( querido mundo).

semana passada, a me nina visitou Nova York, onde conversou com crianças de uma escola no Harlem e conheceu Colin Kaepernick, o jogador de futebol americano cujos protestos contra a brutalidad­e policial e a opressão racial desencadea­ram uma discussão nacional.

Com seus ca b elos compri - dos , olhoscasta­nhosescuro­s e dentes da frente faltando, Bana rapidament­e atraiu milhares de seguidores quando primeiro começou a tuitar e virou símbolo do sofrimento imposto a crianças sírias.

Como milhares de outras famílias em Aleppo, adeBana penou para sobreviver durante o cerco. Primeiro faltaram água e alimentos; mais tarde, um ataque aéreo destruiu a casa dos al-Abed.

Finalmente, a família se juntou a milhares de outros moradores de Aleppo que partiram da cidade em dezembro, rumo àT urquia.

“Os últimos dias foram horríveis”, descreve Fatemah Abed .“E mno vemb ro e de- zem b ro ,f oi um in f erno.”

E laea filha agora passam a impressão de estar bem .O rosto de Bana parece mais redondo, e ela já tem os dentes da frente .F ala inglês com facilidade e tem nas mãos uma boneca American Girl.

As duas ainda usam a conta @AlabedBana, hoje com mais de 363 mil seguidores, para postar mensagens pessoais e comentário­s sobre acontecime­ntos recentes.

Descontraí­da e autocon f i - ante, Bana demonstra um autocontro­le incomum para algu é mdesuaidad­e .C anta versos de uma cançã ode J Bieb vustines

Tfala ere de sua no a cola na urquia .S ua matéria favorita é matemática, e ela quer ser pro f essora de inglês quando crescer. éQuando sériafala Aleppo , po

de ,vf r m ica e escolha as pala ras com cuidado.

“Foi muito difícil”, diz, lembrando como sua casa foi destruída .“E minha amiga, sabe, o pai e o irm ão dela morreram.”

Quando sua conta no Tw it - ter f oia b erta , emsetem b rode 2016, milhares de pessoas enviaram mensagens de apoio a Bana .M as também houve quem a criticasse.

Mesmo depois de comprovada a v eracidade de muitos de seus vídeos e f otos e de outros corroborad­osuahist moradoresó­terem,

ria algumas pessoas du v ida v am que a fa- mília esti v esse de fato em Aleppo .O utros sugeriram que Bana estava sendo utilizada como instrument­o de propaganda política, ou por

,b elde. defender seus pais ou para a agenda re

Jornalista­s ocidentais não tinham acesso a Aleppo havia meses, e, embora a conta no Twitter oferecesse uma visão especial da cidade, muitos dos detalhes informados eram impossívei­s de checar.

Em Nova York, porém ,F atemah defende a decisã ode abrir a conta para a filha e afirma que Bana se envolveu desde o início.

“Decidimos ir ao Twitter para ter acesso direto ao mundo”, diz ela, explicando que BANA AL-ABED queria promo v er a consciênci­a públicados­o f rimentoque enfrentava­m na Síria.

Fatemah acredita também que as mensagens de apoio rece b idas de desconheci­dos a j udaram a ele v ar os ânimos dela e de sua filha .“S entíamos que n o estávamos sozinhas”, elaãexplic­ou.

A mãe lembra ter tido dificuldad­e em alimentar a famílianoa­nopassado . Banasentia muita fome. “Só ha v ia macarrão e arro z.A gente comia isso todo dia, e eu odiava .Não queria mais comer isso”, conta a menina.

Quando a família f inalmen - te deixou a cidade ,j untou-se a milhares de outras pessoas emôni b us v erdesqueas­levariamao­campo , comoparted­o cessar-fogo .U m tra j eto que consumiria­umahoraaca b ou le v ando 19. Mãe e f ilha passaram f ome e f rio.

Fatemah se lem b ra do mau cheiro no ônibus, devido à presen ç a de crian ç as que n ã o podiam sair para ir ao banheib ro . Banaguarda­mem ób ebês

riasdo arulho . “T odos os choravam”, diz ela .“E un ão podia dormir .E stava com muita fome e sede.”

Q uando chegaram ao des - tino , Bana e seus dois irm ã os menores ficaram f - mos .“V imos muitas elicíssi,frutas muita comida .C omemos tanto que vomitamos.”

No campo ,f ora da cidade, ativistas locais aguardavam pelo ônibus. Bana conta que muita gente a conhecia devido à conta no Twitter.

Graças àf ama da menina, a família pôde se esta b elecer na T urquia , com apoio do governo local, participar de esfor ç os em prol dos re vf

ugiados e , mais tarde , escre er o livro.

Bana diz que ficou surpresa com a acolhida que teve. “As pessoas tiravam fotos. Porque muita gente me conhecia, queriam me fotografar e entrevista­r .F iquei tipo famosa.”

CLARA ALLAIN

tipo famosa

 ??  ?? A garota síria Bana al-Abed, 8, que fugiu com a família para Turquia, posa em Nova York, onde foi lançar livro
A garota síria Bana al-Abed, 8, que fugiu com a família para Turquia, posa em Nova York, onde foi lançar livro

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