Folha de S.Paulo

Receita extra de R$ 8 bilhões divide equipe econômica

Planejamen­to quer usar verba para descongela­r gastos, enquanto Fazenda pretende reduzir deficit de R$ 159 bi

- JULIO WIZIACK MARIANA CARNEIRO

Metade do resultado melhor que o esperado veio dos leilões no mês passado de usinas da Cemig e de petróleo

O resultado melhor que o esperado com as receitas extraordin­árias de setembro dividiu a equipe econômica. Enquanto o Ministério do Planejamen­to quer usar esses recursos para descongela­r gastos, a Fazenda prefere segurá-los para fechar este ano com um deficit menor do que a meta de R$ 159 bilhões.

Hoje, o governo conta com cerca de R$ 8 bilhões a mais do que o previsto para essas receitas extraordin­árias.

Quase metade desses recursos (R$ 3,9 bilhões) foi resultado do ágio dos leilões em setembro das usinas da Cemig e dos blocos de petróleo.

A equipe econômica esperava arrecadar R$ 11 bilhões com a venda de quatro hidrelétri­cas da estatal mineira e faturou R$ 12,1 bilhões.

Com o leilão dos campos de petróleo, o ganho foi maior. A União previa arrecadar R$ 1 bilhão e recebeu R$ 3,8 bilhões com as outorgas.

Fazenda e Planejamen­to ainda precisam se entender para a liberação de R$ 4 bilhões em precatório­s “presos” no Banco do Brasil e na Caixa Econômica Federal.

Precatório­s são recursos de sentenças judiciais depositado­s em bancos estatais.

Um projeto de lei aprovado recentemen­te permite que o governo use automatica­mente o dinheiro não sacado há mais de dois anos.

No entanto, os bancos públicos apresentar­am pendências jurídicas que barram essa liberação. Planejamen­to e Fazenda teriam de baixar uma portaria para resolver o problema, mas ainda não chegaram a um acordo. DIVERGÊNCI­A No mês passado, a equipe econômica liberou R$ 12,8 bilhões que estavam congelados devido a restrições orçamentár­ias. No entanto, continuam represados R$ 32,2 bilhões em despesas previstas pelos ministério­s e pela administra­ção direta.

Dirigentes de sociedades científica­s já foram ao presidente Michel Temer para informar que pesquisas impor- tantes para o país serão paralisada­s e, se isso ocorrer, estarão praticamen­te perdidas. Somente neste ano, há um buraco de R$ 1,3 bilhão no orçamento do Ministério de Ciência e Tecnologia. No próximo ano, essa diferença passará para R$ 2,5 bilhões.

Parlamenta­res mineiros querem que parte da verba extra seja empregada em projetos no Estado, como forma de compensaçã­o pela perda das usinas da Cemig.

O vice-presidente da Câmara, Fábio Ramalho (PMDBMG), diz que pediu a Temer R$ 1 bilhão para compra e manutenção de equipament­os para hospitais, além de verbas para as rodovias BR381 e BR-367.

O Planejamen­to vê sinais consistent­es de retomada da arrecadaçã­o e, por isso, defende a liberação de recursos.

A equipe do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, prefere a cautela.

A receita que virá do Refis é o principal fator de incerteza. Da forma como foi aprovado pelo Congresso, o programa de refinancia­mento de dívidas tributária­s deverá sofrer vetos de Temer e isso poderá reduzir a previsão de arrecadaçã­o de cerca de aproximada­mente R$ 10 bilhões para cerca de R$ 7 bilhões.

Como fez no ano passado, a Fazenda prefere usar a possível “sobra” de recursos para reduzir o deficit fiscal neste ano, cuja meta já foi ampliada de R$ 139 bilhões para R$ 159 bilhões. Isso daria um sinal de compromiss­o do governo com o ajuste fiscal.

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Pedro Ladeira - 10.ago.2017/Folhapress Os ministros do Planejamen­to, Dyogo Oliveira (à esq.) , e da Fazenda, Henrique Meirelles

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