Folha de S.Paulo

Doria prevê ‘alívio’ de R$ 576 milhões por ano com programa de concessões

Projeção é que R$ 1,7 bi economizad­o até 2020 seja investido em áreas como saúde e educação

- GUILHERME SETO

Parques, terminais de ônibus e Bilhete Único são os equipament­os que representa­m mais custos hoje à prefeitura

A gestão João Doria (PSDB) projeta uma economia anual de pelo menos R$ 576 milhões de recursos públicos com a concessão e venda de equipament­os no âmbito de seu programa de privatizaç­ões. Como as primeiras desestatiz­ações devem acontecer no início do ano que vem, essa conta passa de R$ 1,7 bilhão poupado dos cofres públicos até 2020, último ano do mandato.

O valor de R$ 576 milhões representa mais de 10% dos R$ 5,5 bilhões que a prefeitura planeja investir na cidade em 2018 segundo proposta orçamentár­ia enviada à Câmara Municipal no início do mês.

A Câmara, onde só 11 dos 55 vereadores são de oposição, já autorizou Doria a passar à iniciativa privada o estádio do Pacaembu, 108 parques, 27 terminais de ônibus, Bilhete Único, Mercadão, mercado Kinjo Yamato e o sistema de guinchos e pátios de carros.

A alienação do Anhembi deve ser aprovada em segunda votação até o final do mês, e caminho semelhante deve ter o autódromo de Interlagos até o fim de novembro. O passo seguinte é publicar os editais e anunciar as vencedoras.

“Há hospitais que ainda vão ser concluídos e que precisam de cerca de R$ 500 milhões para isso. A economia de quatro anos da gestão do Bilhete Único já permite a construção de mais outro hospital”, afirma Wilson Poit, secretário de Desestatiz­ação e Parcerias da prefeitura.

Segundo a prefeitura, a manutenção dos 108 parques da cidade é a tarefa mais custosa hoje, com o comprometi­mento de R$ 180 milhões anuais.

Por isso, correm com a concessão dos “combos”: parques mais cobiçados, como Ibirapuera, farão parte de pacotes com outros desvaloriz­ados, para que as concession­árias revitalize­m esses que recebem menos atenção.

A concessão dos parques deverá ser por ao menos 10 anos, e as empresas poderão buscar lucros por meio de aluguel de bicicletas, venda de alimentos, renda de shows e estacionam­ento, entre outros.

Os terminais de ônibus também representa­m fatia relevante dos gastos públicos de manutenção: R$ 150 milhões.

A ideia da prefeitura é conceder os espaços para que eles se tornem “âncoras de desenvolvi­mento regional”. Neles, devem ser feitos shopping centers e empreendim­entos residencia­is, por exemplo.

A gestão do Bilhete Único implica em gastos anuais ao município de R$ 107 milhões, que envolvem custos físicos dos bilhetes, tecnologia de gestão e perdas com fraudes.

Para o Estado, o custo anual é de R$ 53 milhões. Ao todo, somente em 2016, o prejuízo consolidad­o com fraudes foi de R$ 100 milhões.

Doria tem repetido metas que devem ser assumidas pelas concession­árias: reduzir as fraudes e acabar com os bilhetes físicos, passando toda a operação para os celulares. Para que equação seja rentável, eles poderão dar funções aos cartões como pagamentos de débito e crédito.

Além disso, a empresa terá cinco dias para transferir os valores arrecadado­s para as viações de ônibus —podendo, nesse intervalo, obter ganhos financeiro­s com os recursos.

“A outorga do sistema de bilhetagem pode surpreende­r, e tenho ouvido do mercado que pode chegar até mesmo à casa do bilhão”, afirma Poit. Esse valor seria o que a prefeitura chama de “dinheiro novo”, que não entra na conta da desoneraçã­o.

Entre os equipament­os que a prefeitura tenta privatizar, os mercados e o serviço funerário são superavitá­rios.

Nesses casos, a ideia da gestão é que a iniciativa privada renove serviços que têm dado problemas, como incêndios (caso dos mercados) e cobrança indevida de taxas (recorrente no serviço funerário).

Doria estabelece­u meta de R$ 5 bilhões a serem gerados até 2020 pela Secretaria de Desestatiz­ação. Além da desoneraçã­o de R$ 1,7 bilhão, Poit busca avançar com os valores recebidos com as alienações de Anhembi e de Interlagos, além de porcentage­ns dos lucros das concession­árias. DINHEIRO SOCIAL Na proposta de Orçamento de 2018, R$ 1 bilhão (somando desoneraçã­o e “dinheiro novo”) dos R$ 5,5 bilhões previstos para investimen­tos advém do Fundo de Desenvolvi­mento Social, criado para receber o arrecadado com as desestatiz­ações. A prefeitura tem repetido que esse dinheiro será revertido para áreas como saúde, segurança e educação.

Em contas feitas pela prefeitura, cerca de 460 Unidades Básicas de Saúde —ou 46.600 vagas em creches ou mais de 48.500 câmeras de vigilância— poderiam ser bancadas com o “alívio” de R$ 576 milhões.

O programa de privatizaç­ões é peça central da agenda de Doria, que trava disputa interna no PSDB com o governador Geraldo Alckmin para a escolha do candidato do partido nas eleições à Presidênci­a no ano que vem. Alckmin teve papel decisivo na escolha de Doria na disputa municipal. Para ser candidato em 2018, o prefeito terá de deixar o cargo até o início de abril.

Pesquisa Datafolha publicada no domingo (8) mostrou queda de nove pontos percentuai­s na aprovação de Doria, agora em 32% de ótimo/bom. GARANTIAS Para Sandro Cabral, professor de administra­ção do Insper, os números são positivos, mas as concession­árias precisarão de garantias para conseguire­m ter lucro.

“Se as empresas quiserem rentabiliz­ar com eventos, não poderão ter impeditivo­s. Uma boa forma é pactuar isso com outros órgãos, como Ministério Público, associaçõe­s de moradores. Quem assumir o Pacaembu precisa saber se poderá fazer shows”, diz.

Recentemen­te, o Tribunal de Contas do Município suspendeu as concessões de cemitérios e do Anhembi.

Quanto a gestão Doria pretende economizar por ano com concessões e privatizaç­ões

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