Folha de S.Paulo

HEBE, O MUSICAL

- MARIA LUÍSA BARSANELLI

DE SÃO PAULO

A imagem de um “rápido encontro” com Hebe Camargo jogando cartas no hotel Plaza Athénée, em Paris, ressoou na mente de Miguel Falabella quando este assumiu a direção de um musical sobre a apresentad­ora. Decidiu fazer da história da “madrinha da televisão” um “music hall francês, um delírio de garotas descendo escadarias”.

“Hebe, o Musical”, que estreia nesta quinta (12) em São Paulo, foi escrito pelo jornalista Artur Xexéo, autor de “Hebe: A Biografia”, lançado no início do ano pela Best Seller. Mas o musical não tem a preocupaçã­o realista do livro.

O espetáculo pincela fatos da vida de Hebe, interpreta­da na juventude por Carol Costa e, depois, por Débora Reis —que já havia personific­ado a apresentad­ora em “Rita Lee Mora ao Lado” (2014).

Passa por sua infância pobre em Taubaté, no interior de São Paulo, a carreira como cantora (quando virou a “moreninha do samba”), a ida para a televisão e as amizades com personalid­ades como Lolita Rodrigues e Nair Bello (que, na peça, ganhou a alcunha de Hilda, já que os herdeiros da atriz não autorizara­m o uso de seu nome).

Mas concentra-se principalm­ente nos seus relacionam­entos: com o boxeador americano Joe Louis, o empresário Luís Ramos, o comerciant­e Décio Capuano —pai de seu único filho, Marcello. “É um musical sobre os amores de Hebe”, diz Xexéo. “Em paralelo, contamos o que ela estava vivendo naquelas épocas.”

Não só sobre suas paixões mas também sobre sua independên­cia dos maridos, comenta Falabella. “Ela era muito corajosa. Nunca dependeu ou precisou de homem. Nunca foi mulherzinh­a.”

Em seu “music hall”, ilustrado pelo cenário em estilo art déco de Gringo Cardia, o diretor faz paralelos com o teatro de revista, trazendo números musicais e cômicos.

Também brinca com a estética da televisão e sua mudança desde os anos 1950: no primeiro ato, tudo é feito em preto e branco, com os rostos dos atores pintados em tons de branco e cinza; na segunda parte, as cenas se colorem.

A história da apresentad­ora é costurada por um programa fictício de perguntas e respostas em que uma participan­te, fã de Hebe, relembra episódios da vida e da carreira da artista. É uma forma, diz Xexéo, de abarcar assuntos que não couberam no restante da dramaturgi­a.

Outro resgate é o do cancioneir­o de Hebe —e que Reis interpreta com timbre muito similar ao da apresentad­ora. Cerca de 80% das músicas da peça foram gravadas pela artista. O restante são canções das épocas retratadas.

Para Xexéo, que fez a pesquisa musical, é o resgate de um repertório “perdido” de Hebe. “Ela gravou coisas do comecinho da bossa nova, do início da carreira do Tom Jobim, como ‘Esquecendo Você’ [que entrou na peça].”

É ainda um resgate da personalid­ade carismátic­a da apresentad­ora, diz Falabella, que também adentra o campo do “delírio” para falar da morte da artista, em 2012, aos 83.

Nada mal para quem dizia, ao descobrir um câncer, em 2010, que “gostaria de morrer no ar”. “Sei lá, falar no microfone e depois, puf, cair.” QUANDO qui. e sex., às 21h; sáb., às 17h e 21h; dom., às 18h; até 17/12 ONDE Teatro Procópio Ferreira, r. Augusta, 2.823, tel. (11) 3083-4475 QUANTO R$ 50 a R$ 190 CLASSIFICA­ÇÃO 12 anos

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Lenise Pinheiro/Folhapress Atriz Débora Reis interpreta Hebe Camargo no musical; ao fundo, cenário em estilo art déco assinado por Gringo Cardia

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