Folha de S.Paulo

Mudança no esporte

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A prisão preventiva de Carlos Arthur Nuzman e sua previsível renúncia ao cargo de presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB) deram mais uma vez visibilida­de ao descalabro na gestão de entidades esportivas que tem longeva tradição no Brasil.

Nuzman —acusado de participar da compra de voto de representa­nte do Comitê Olímpico Internacio­nal (COI) para assegurar a vitória da candidatur­a do Rio, entre outros ilícitos, que nega— assumiu o COB em 1995, ungido pela vitória do vôlei brasileiro na Olimpíada de Barcelona, em 1992.

À frente da confederaç­ão daquela modalidade, projetou-se no meio esportivo como um dirigente modernizad­or, que representa­va a passagem do modelo decadente e carcomido da ditadura militar para um padrão mais condizente com os novos tempos.

Ideias mais arejadas não bastaram, porém, para promover mudanças significat­ivas. Nuzman manteve-se no cargo por mais de duas décadas aproveitan­do-se de um sistema que permitia sucessivas reeleições em um colégio eleitoral facilmente manipuláve­l.

Na mais recente recondução, em 2016, para o sexto mandato, apresentou-se como candidato único.

O quadro pouco difere do que se observa na Confederaç­ão Brasileira de Futebol. Em 2012, cercado de suspeitas e investigaç­ões, Ricardo Teixeira licenciou-se depois de 23 anos no comando da entidade.

Seu substituto, José Maria Marin, foi preso pela polícia federal americana sob acusação de corrupção. Marco Polo Del Nero, o atual presidente, não deixa o país por temer o mesmo destino.

Escândalos de corrupção, digase, são frequentes em entidades internacio­nais do gênero. Mas isso não exime os brasileiro­s, óbvio, de reformular o sistema aqui vigente.

Foi um passo importante nesse sentido a lei, sancionada em 2013 pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT), destinada, com restrições ao repasse de dinheiro público às entidades, a limitar a quatro anos o mandato de dirigentes, com direito a apenas uma reeleição. Há que prosseguir no aperfeiçoa­mento da governança esportiva.

Que o caso de Nuzman sirva de exemplo e favoreça pressões por mudanças, num momento em que a sociedade clama por transparên­cia e padrões éticos mais elevados.

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