Folha de S.Paulo

A caminho do Guinness

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RIO DE JANEIRO - Segundo as pesquisas, 3% do povo brasileiro consideram bom ou ótimo o governo Temer. Como esses dados têm 15 dias e, depois disso, Michel Temer já pisou em diversos tomates, é possível que o índice tenha se reduzido. A continuar assim, o coletivo de seus torcedores, como o de certos clubes de futebol, não demorará a caber numa Kombi. Ou constará de pessoas que, de tão poucas, ele conhecerá pelo nome e a quem perguntará pela patroa. E não será surpresa se Temer chegar ao fim do mandato com avaliação negativa e, por isso, verbete da próxima edição do Guinness.

Enquanto o número de seus apoiadores ameaça romper —para baixo— o patamar do zero, aumenta o volume das acusações contra ele. Juízes, investigad­ores e até amigos com quem, ainda há pouco, ele confratern­izava em horas mortas o chamam, sem a menor cerimônia, de chefe de organizaçã­o criminosa. Como Temer é presidente da República e o cargo impõe certa liturgia, o normal seria que ele se ofendesse e levasse seus ofensores aos tribunais. Mas Temer não se ofende —emite uma negação pia, tíbia, protocolar, e sai assobiando no azul. O que ele menos quer pela frente é um tribunal, mesmo para defender-se. Contenta-se até se o total de seus amigos se reduzir ao mínimo de deputados que o livrem das denúncias nas instâncias da Câmara.

Temer não se sente presidente do Brasil. Isso lhe quer dizer nada. O poder está em conhecer o preço de cada um no Congresso e usar o Tesouro segundo interesses bem definidos. Enquanto estiver sentado na cadeira e com a caneta na mão, não lhe faltará munição para garantir o status quo.

O problema é como será no dia em que ele repassar a faixa, seja a quem for, e reingressa­r na atmosfera comum a todos nós, que não gozamos de foro privilegia­do.

Temer já podia ir se aconselhan­do com Lula. CLAUDIA COSTIN

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