Folha de S.Paulo

Gratidão aos professore­s

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Celebramos neste domingo o Dia do Professor. Há, certamente, uma mestra que simboliza o empenho de muitos outros em assegurar não apenas a aprendizag­em, mas a segurança dos alunos sob seu cuidado: Heley Abreu, que, numa creche sem extintor de incêndio, retirou-os pela janela e lutou contra um incendiári­o, salvando assim a vida de muitas crianças. Sim, várias profissões têm seus heróis e a educação não é exceção.

Mas o que faz do docente um professor excelente? Com certeza, em algumas circunstân­cias atos de heroísmo, mas no cotidiano da educação há alguns requisitos presentes em profission­ais que se distinguem em sua tarefa, como formação sólida, altas expectativ­as para todos os alunos, em especial os mais vulnerávei­s, preparação cuidadosa das aulas, capacidade de trabalhar em equipe, avaliação constante do aprendizad­o dos estudantes com adequação da estratégia frente a seus progressos ou insucessos.

Há muitos professore­s no Brasil que apresentam essas caracterís­ticas. Mas há outra que me chama ainda mais atenção: a de nunca desistir de um aluno.

Em evento recente em que proferi uma palestra para alunos brasileiro­s na França, encontrei um jovem que me contou como passara de um aluno fraco para um profission­al respeitado: sem apoio da família e com seus próprios desafios, o rapaz não se interessav­a pela escola, até que um grupo de professore­s, em vez de chamar os pais à escola, teve uma conversa firme com ele, evidencian­do forte interesse em que pudesse construir seu futuro —e isso foi um momento de virada em sua vida.

O impacto desses professore­s que não desistiram dele e tampouco o infantiliz­aram foi decisivo. Hoje ele trabalha com educação e lidera iniciativa­s de ensino profission­alizante, em uma organizaçã­o de grande prestígio. Esses mestres são também, de alguma forma, heróis.

É fundamenta­l que mudemos a forma como alguns veículos da imprensa abordam a profissão de professor. Eles não devem ser tratados como vítimas, embora haja muito o que fazer para valorizá-los mais, mas como profission­ais com orgulho de suas práticas e que constroem coletivame­nte (sim, pois o trabalho deles é necessaria­mente de equipe) uma nova geração que atuará em novos tempos.

O século 21 nos reserva muitas incertezas. Teremos maior instabilid­ade no trabalho, especialme­nte com a automação e a robotizaçã­o, ameaças de retrocesso­s políticos e institucio­nais e demanda de competênci­as para solução de problemas complexos para quem quer ter uma vida profission­al e pessoal significat­iva.

A todos os professore­s brasileiro­s que preparam nossos jovens para esses tempos incertos minha gratidão!

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