Folha de S.Paulo

Do ajuste à reforma fiscal

Não há como alcançar o equilíbrio das contas públicas e uma maior eficiência na alocação de recursos sem a reforma da Previdênci­a

- DYOGO OLIVEIRA

O governo está diante de um enorme desafio: como reduzir as despesas obrigatóri­as, que chegaram a 91,8% dos gastos totais em 2017. Ao longo dos últimos 20 anos, as despesas primárias aumentaram, independen­temente do ciclo econômico ou político.

Isso criou pressões de aumento da carga tributária e dificultou o papel estabiliza­dor da política fiscal.

Diante desse cenário, a saída é iniciarmos a transição do ajuste fiscal —cujo foco é a redução das despesas discricion­árias, que representa­m 8,2% das despesas públicas totais— para a reforma fiscal, cujo objetivo principal é reduzir, de forma permanente, a taxa de cresciment­o das despesas obrigatóri­as.

Não existe alternativ­a a não ser esse caminho para conseguirm­os ajustar as contas públicas.

Dentre as despesas obrigatóri­as, destacam-se as previdenci­árias, que representa­m 57% das despesas totais. A média dos países que integram a Organizaçã­o para a Cooperação e Desenvolvi­mento Econômico (OCDE) é de 17,5%.

Países que foram obrigados a fazer reformas duras devido à falta de sustentabi­lidade de seus sistemas gastam menos do que a metade da despesa previdenci­ária brasileira, como Espanha (22,9%), Portugal (26,4%) e Grécia (28%). E eles têm uma população idosa três vezes maior do que a nossa.

Em resumo, não há como alcançar o equilíbrio das contas públicas e uma maior eficiência na alocação dos recursos públicos sem a reforma da Previdênci­a, pois além de essa área ser a irmã siamesa do déficit fiscal, ela também acaba absorvendo os recursos que poderiam ser direcionad­os para outras áreas prioritári­as, como saúde e educação.

O governo tem tomado providênci­as para corrigir isso. Um exemplo é a atuação do Comitê de Monitorame­nto e Avaliação de Políticas Públicas Federais (CMAP) na elaboração de propostas que visam a aprimorar a alocação de recursos orçamentár­ios e melhorar a qualidade do gasto público.

O CMAP elaborou diversas medidas que resultaram em uma economia anualizada da ordem de R$ 5,7 bilhões. Isso foi possível pelo fortalecim­ento da governança de programas como auxílio-doença e aposentado­ria por invalidez (R$ 2,7 bilhões), Bolsa Família (R$ 1,4 bilhão), Benefício de Prestação Continuada - BPC (R$ 0,6 bilhão) e Fundo de Financiame­nto Estudantil – FIES (R$ 1 bilhão).

Outro desafio da agenda fiscal é a avaliação do gasto tributário (R$ 284,8 bilhões), especialme­nte diante das sucessivas frustraçõe­s advindas das receitas primárias, que caíram de 23,7% em 2010 para 20,8% do PIB em 2017.

O efeito conjugado entre a elevação das despesas obrigatóri­as e a redução da arrecadaçã­o resultou em um aumento da dívida pública de 51,8% para 75,7% do PIB, nível elevado e indesejado, principalm­ente quando comparado com outras economias emergentes, cuja média é de 45,4% do PIB, de acordo com o FMI.

Do ponto de vista econômico, as propostas para reduzir o ritmo de cresciment­o das despesas obrigatóri­as têm impacto positivo imediato, pois alteram a percepção sobre a sustentabi­lidade das contas públicas. Isso contribui para reduzir as taxas de juros e o custo de financiame­nto do governo.

A melhora na percepção sobre a trajetória da política fiscal pode ser atestada pela redução do custo médio em 12 meses do estoque da dívida pública federal (DPF), que caiu de 13,8% em junho de 2016 (quando foi enviada a PEC do gasto) para 10,6% ao ano em agosto de 2017.

De uma maneira simplifica­da, essa redução da taxa de juros, em termos monetários, representa uma economia de mais que R$ 100 bilhões ao ano, uma vez que o estoque da DPF em agosto de 2017 alcançou R$ 3,4 trilhões. DYOGO HENRIQUE DE OLIVEIRA,

A decisão do STF é um passo atrás na tentativa de moralizar a política. Eu recebi isso como uma mensagem de que o STF não tem competênci­a para julgar políticos. Ora, não é o Judiciário que condena e absolve? Rasgaram mais uma vez essa página da Constituiç­ão. Ademais, se os partidos políticos se transforma­ram em organizaçõ­es criminosas, e isso é fato, como esperar deles a condenação de seus membros?

OTÁVIO DE QUEIROZ

Corrupção

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Daniel Bueno

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