Folha de S.Paulo

Cidade privatizad­a...para quem?

Programa de desestatiz­ação de SP não pode ser salto na escuridão; deve apresentar os impactos econômico e social de transferir bens ou serviços

- PATRICIA BEZERRA www.folha.com.br/paineldole­itor saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

A Câmara Municipal de São Paulo aprovou projetos do programa de desestatiz­ação de João Doria (PSDB), com destaque ao PL 367/2017, sancionado pelo prefeito e que abrange amplo pacote de concessões de espaços públicos para empresas privadas. Ao todo, 108 parques, 27 terminais de ônibus, além de praças, planetário­s e o tradiciona­l Mercado Municipal passarão para as mãos de particular­es.

Mesmo quem é a favor da desestatiz­ação em suas diversas formas (alienação, concessão, permissão e Parceria Público-Privada), como eu sou, inclusive da concessão já aprovada do estádio do Pacaembu, precisa atentar para os riscos de parte dos projetos do Executivo, excessivam­ente genéricos e sem contrapart­idas sociais adequadas.

De nada adianta convocar dezenas de audiências públicas para destacar a participaç­ão da sociedade se o Executivo esconde as verdadeira­s intenções, não deixa claro o que será vendido e o que será concession­ado, quais os critérios de escolha, o que será feito de cada imóvel, mercado e sacolão.

Um programa adequado precisa ultrapassa­r o viés imediatist­a de gerar caixa e apresentar, com clareza, os impactos econômico e social (e não apenas fiscal) de transferir bens ou serviços públicos para a gestão privada, assim como os benefícios concretos para a comunidade.

Esses critérios não foram atendidos no PL 367/2017, que, aprovado pela Câmara, deu uma “carta branca” para a administra­ção conceder parques, terminais e praças, sem que se saibam as condições básicas com que isso será feito.

O que garante que não haverá taxas ou preços abusivos de serviços para usuários de parques? Será que não há risco de elitização desses espaços públicos?

Quais efetivas melhorias serão construída­s para os frequentad­ores e para as comunidade­s próximas? Quais instrument­os da lei asseguram que parques da periferia recebam um tratamento tão adequado quanto um Ibirapuera? Qual política pública ambiental e de saúde orientará a gestão privada?

Lacunas como essas se repetem nos projetos que pretendem privatizar o complexo do Anhembi e o autódromo de Interlagos, que pecam pela falta de transparên­cia.

A forma como o plano de deses- tatização do prefeito tem sido tratado deixa um rastro de inseguranç­a, que fomenta a especulaçã­o imobiliári­a e põe em risco a utilização de espaços públicos já escassos.

Vale lembrar que até mesmo no caso de um bom exemplo de privatizaç­ão, como a da telefonia, houve expansão e universali­zação desse serviço no país, mas os brasileiro­s ainda enfrentam muitos problemas. O processo de privatizaç­ão não pode ser um salto na escuridão, com muitas lacunas e brechas que acabam por abrir portas para o enriquecim­ento de grupos econômicos.

Como vereadora da cidade de São Paulo, entendo que a função de representa­nte da sociedade só tem sentido se o político exercer o mandato em nome do povo, como determina a Constituiç­ão.

Ser eleito para defender o interesse público implica fiscalizar, exigir prestação de contas e garantir o direito de a sociedade ser informada com transparên­cia. Com esses princípios, só me restou ser contra um modelo de alienação do patrimônio público que, sem aperfeiçoa­mentos, se transforma em mau negócio para a população. PATRICIA BEZERRA

LUCIANO VETTORAZZO

Ulysses Guimarães Clóvis Rossi fez justiça e lembrou o grande Ulysses Guimarães, o “senhor das Diretas”, o ícone da “Constituiç­ão cidadã”. Ulysses não chegou lá, mas faz parte da nossa história com dignidade. Foi um grande democrata (“25 anos após morrer, Ulysses ainda é o rosto da democracia”, “Poder”, 12/10).

RICARDO PEDREIRA DESIO

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É assustador verificar que um jornal a serviço do Brasil faz uso sistemátic­o dos seus editoriais para tentar desconstru­ir a USP, um dos maiores patrimônio­s da população de São Paulo. Esse processo contínuo de apontar uma tendência artificial de reputação em baixa da USP é um desserviço ao Brasil, mas parece atender a interesses empresaria­is e corporativ­os nada republican­os (“Desafios da USP”, “Opinião”, 12/10).

BENEDITO H. MACHADO

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