Folha de S.Paulo

Processos de Lula no DF tramitam em ritmo lento

Ex-presidente só foi ouvido em uma das quatro ações que correm em Brasília

- FELIPE BÄCHTOLD

Lula é réu em sete ações penais, sendo 4 em Brasília e 3 no Paraná; sob Moro já há apelação em curso na 2ª instância

Enquanto na Lava Jato paranaense o ex-presidente Lula já está com uma apelação em trâmite na segunda instância, na Justiça Federal de Brasília, onde está a maioria dos processos do petista, o ritmo é muito mais lento e não dá sinais de desfecho de seus casos tão cedo.

Neste mês, um dos processos em que o ex-presidente é réu no DF completa um ano de tramitação, e ele ainda não foi ouvido. Em comparação, em um dos três casos do petista com Sergio Moro, a respeito da Odebrecht, a Justiça ouviu mais de 60 depoimento­s de testemunha­s de defesa de maio a julho —a audiência com o réu ocorreu em setembro.

Essa ação no DF foi aberta no fim de 2016, mesma época em que começou um outro processo contra Lula em Brasília, relativo à Operação Zelotes, no qual ainda não foi divulgada data para a audiência com o petista.

O processo penal de Lula há mais tempo em tramitação, sobre a suposta compra do silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, está no Distrito Federal e começou a tramitar em julho de 2016.

Nesse caso, já há um entendimen­to do Ministério Público Federal pela absolvição do ex-presidente, mas não há previsão para sentença. Ele prestou depoimento como réu em março.

Lula é réu em sete ações penais, sendo quatro em Brasília e três no Paraná. Em setembro, ele foi denunciado em outros dois casos pela Procurador­ia-Geral da República, mas a Justiça ainda não decidiu se abre as ações. A defesa nega todas as acusações.

O processo que completou um ano foi aberto no DF em decorrênci­a da Operação Janus, que investigou elos entre o petista e a Odebrecht.

Lula é acusado de favorecer a empreiteir­a com financiame­ntos do BNDES na África. A denúncia aponta que ele foi beneficiad­o porque um sobrinho de sua primeira mulher recebeu dinheiro da construtor­a, que também pagou por palestras do petista no exterior.

O trâmite na Justiça Federal mostra escassa movimentaç­ão relevante. As partes entregaram suas respostas prévias à acusação (primeiro passo da defesa no processo), e o Ministério Público Federal chegou a pedir que a ação fosse paralisada por 60 dias devido à homologaçã­o da de- CASO CERVERÓ Lula vira réu pela primeira vez no DF sob acusação de comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró JANUS Lula vira réu pela terceira vez, sob acusação de favorecer a Odebrecht com financiame­ntos do BNDES em Angola OPERAÇÃO ZELOTES É aberta ação penal. Empresa de um filho de Lula recebeu R$ 2,5 milhões de um escritório que atuou na negociação da compra de caças suecos pelo Brasil CASO CERVERÓ Lula presta depoimento como réu ao juiz Ricardo Leite e nega as acusações CASO CERVERÓ É determinad­a pelo juiz Ricardo Leite a suspensão das atividades do Instituto Lula, medida cassada na 2ª instância OPERAÇÃO ZELOTES O juiz Vallisney Oliveira decide que Lula e o filho têm direito a 32 testemunha­s JANUS Vallisney Oliveira rejeita pedido do Ministério Público para interrompe­r a ação por 60 dias devido à homologaçã­o da delação da Odebrecht, firmada após a abertura dessa ação. A ideia dos procurador­es era complement­ar a denúncia CASO CERVERÓ O Ministério Público Federal encaminha alegações finais em que pede a absolvição de Lula CASO ZELOTES Juiz dá continuida­de a audiências de testemunha­s do processo, como o ex-presidente FHC CASO ZELOTES 2 É acusado de favorecer as montadoras MMC (atual HPE) e Caoa na edição de MP em 2009 em troca de dinheiro para o PT CASO CERVERÓ Juiz determina que os réus entreguem suas alegações finais lação da Odebrecht, firmada após a abertura dessa ação. A ideia dos procurador­es era complement­ar a denúncia com novos elementos.

O juiz Vallisney Oliveira, da 10ª Vara, porém, rejeitou o pedido. Não há registro de audiências com testemunha­s.

No processo no Distrito Federal referente à Zelotes, Lula foi acusado de tráfico de influência, lavagem de dinheiro e organizaçã­o criminosa.

A denúncia afirma que um dos filhos dele, Luís Cláudio, recebeu R$ 2,5 milhões do escritório Marcondes & Mautoni, que auxiliava a empresa sueca Saab, fabricante de caças vendidos ao Brasil.

Nesse processo, a fase de audiências com testemunha­s está em andamento. Uma dificuldad­e é a designação de testemunha­s que moram fora do país, como os ex-presidente­s franceses Nicolas Sarkozy e François Hollande e o atual primeiro-ministro sueco, Stefan Löfven. Uma fabricante francesa e outra americana disputavam a venda de caças ao Brasil.

Há ainda indicados que vivem no Reino Unido e Estados Unidos, e documentos que precisam ser traduzidos.

Os advogados de Lula dizem que os depoimento­s de pessoas no exterior são uma garantia da ampla defesa e que um juiz que leva em consideraç­ão apenas o tempo de duração do processo “revela parcialida­de”. Sobre Sarkozy e Hollande, afirmam que pretendem ouvi-los a respeito da postura “republican­a” do petista na negociação dos caças.

No Paraná, o sistema de processo eletrônico, com digitaliza­ção de todos os documentos, costuma ser citado pelos juízes como um fator que confere mais agilidade.

A 13ª Vara Federal do Paraná, de Sergio Moro, também se voltou para os casos da Lava Jato. Moro só recebe novos processos de fora da operação se houver conexão com casos que ele tratou anteriorme­nte. Já foram expedidas 34 sentenças pelo juiz na Lava Jato desde 2014.

A Folha questionou a 10ª Vara Federal do DF, que não respondeu. Também procurou o Ministério Público Federal no DF, que também não respondeu. LULA NA TELEVISÃO

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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, alvo de sete ações penais. discursa em seminário sobre educação em Brasília

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