ANÁLISE Documento é avanço que deve ser visto com ceticismo
O acordo entre as facções palestinas Fatah e Hamas é um avanço considerável. Em especial para a população palestina, prejudicada pela fricção política desde 2007.
Mas é razoável manter o cinismo e evitar, por ora, embelezar as negociações com palavras como “históricas”. Quando Fatah e Hamas tentaram se reconciliar em 2011, por exemplo, o líder palestino Mahmoud Abbas disse: “Viramos a página negra da divisão para sempre”. Mas a página se desvirou, naquele ano e em outros.
Os mesmos desafios ameaçam os acordos desta semana.
Uma das questões fundamentais é o improvável desarmamento do Hamas. O governo do Fatah só incluirá a facção rival em seus ministérios caso esta aceite desmobilizar seus 25 mil homens armados.
A presença desses militantes no governo conjunto da Cisjordânia e de Gaza teria sérias implicações nas relações dos palestinos com Israel e EUA, que consideram o Hamas uma organização terrorista.
As armas também desencorajariam os doadores internacionais, cuja verba hoje é essencial para a manutenção do frágil governo palestino.
Outro empecilho é a distância entre as ideologias dessas facções. Palestinos em Gaza, sob o mando do Hamas, viram seu território se tornar cada vez mais conservador. A facção tentou impor o véu às mulheres, além de ter perseguido homossexuais. Não que a Cisjordânia seja um bastião da liberdade individual —jornalistas são detidos ali por criticar o governo do Fatah—, mas existe bem mais autonomia.