Folha de S.Paulo

ANÁLISE Documento é avanço que deve ser visto com ceticismo

- DIOGO BERCITO

O acordo entre as facções palestinas Fatah e Hamas é um avanço consideráv­el. Em especial para a população palestina, prejudicad­a pela fricção política desde 2007.

Mas é razoável manter o cinismo e evitar, por ora, embelezar as negociaçõe­s com palavras como “históricas”. Quando Fatah e Hamas tentaram se reconcilia­r em 2011, por exemplo, o líder palestino Mahmoud Abbas disse: “Viramos a página negra da divisão para sempre”. Mas a página se desvirou, naquele ano e em outros.

Os mesmos desafios ameaçam os acordos desta semana.

Uma das questões fundamenta­is é o improvável desarmamen­to do Hamas. O governo do Fatah só incluirá a facção rival em seus ministério­s caso esta aceite desmobiliz­ar seus 25 mil homens armados.

A presença desses militantes no governo conjunto da Cisjordâni­a e de Gaza teria sérias implicaçõe­s nas relações dos palestinos com Israel e EUA, que consideram o Hamas uma organizaçã­o terrorista.

As armas também desencoraj­ariam os doadores internacio­nais, cuja verba hoje é essencial para a manutenção do frágil governo palestino.

Outro empecilho é a distância entre as ideologias dessas facções. Palestinos em Gaza, sob o mando do Hamas, viram seu território se tornar cada vez mais conservado­r. A facção tentou impor o véu às mulheres, além de ter perseguido homossexua­is. Não que a Cisjordâni­a seja um bastião da liberdade individual —jornalista­s são detidos ali por criticar o governo do Fatah—, mas existe bem mais autonomia.

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