Folha de S.Paulo

Loteamento de fazendas comanda expansão urbana

- DA ENVIADA ESPECIAL AO OESTE DA BAHIA

O desenho de Luís Eduardo Magalhães, cidade que mais cresce no país, não foi planejado por urbanistas ou poder público. Foi feito por fazendeiro­s que compraram terras em torno da BR-020 e resolveram lotear o terreno.

Hoje, placas de imobiliári­as são tão numerosas quanto as que anunciam tratores e novas variedades de sementes. Há lotes a partir de R$ 40 mil em áreas que, por enquanto, só têm postes e ruas.

A seca dos últimos três anos atrapalhou, mas a safra recorde de algodão neste ano promete aquecer o mercado.

Imobiliári­as negociam pagamentos anuais na época da colheita e seguem a “fórmula das Casas Bahia”, diz o corretor Marcus Vinicius de Carvalho, sobrinho de um dos pioneiros da cidade: prestações mensais que caibam no bolso, a partir de R$ 260.

Quem começou foi o pecuarista goiano Arnaldo Horácio Ferreira, que comprou 180 mil hectares por lá em 1979. “A terra era muito barata porque aqui não tinha nada; pegava o chão, era só areia.”

No entroncame­nto entre a rodovia que vem do Pará e a que vai para Brasília, abriu um posto de gasolina. Depois loteou uma parte das terras, plantou em outra e vendeu outra a produtores, que fizeram novos loteamento­s.

Um deles formou o bairro Santa Cruz —chamado à época de “Iraque”, devido à criminalid­ade. Outro abriu avenidas e terrenos maiores e criou o Jardim Paraíso, onde há condomínio com campo de golfe. O empreended­or, Jacob Lauck, foi secretário de Planejamen­to de Luís Eduardo.

Hoje, há 70 loteamento­s na cidade, que cobrem quase a totalidade do município. A parte deles ainda se chega por meio de ruas de terra e com pouca sinalizaçã­o. A PARTIR DE R$ 10 MIL No distrito de Roda Velha, a 80 km dali, loteamento também virou negócio. O primeiro abrir as ruas foi Célio Zuttion, agricultor dono de uma propriedad­e de mil hectares.

Atrás de sua mesa, no escritório, ele tem uma planta do distrito, onde ainda vende lotes a cerca de R$ 40 mil.

Na Roda Velha “de baixo”, com terrenos menores, o lote sai a R$ 10 mil —ou até menos, a julgar pelas placas de “Vende-se ou troca-se por um carro”, consequênc­ias da seca que atingiu a região.

Na imobiliári­a do agricultor,

ARNALDO HORÁCIO FERREIRA

pecuarista que lançou os primeiros loteamento­s de Luís Eduardo Magalhães moradores formam fila para pagar a água. Foi Zuttion quem construiu o sistema de água encanada, e cobra por ela, já que o governo não assumiu o serviço.

A prefeitura faz exigências para aprovar o loteamento: num deles, pediu a construção de duas quadras esportivas e uma creche. Água e luz também são mandatória­s.

O empreended­or fez 2.900 lotes e diz que só 500 ainda não foram vendidos. Mesmo assim, a lavoura dá mais dinheiro que os loteamento­s.

Zuttion é um dos principais defensores da emancipaçã­o de Roda Velha. “Luís Eduardo foi, nós ficamos. A política segurou”, afirma, sobre a cidade vizinha, que surgiu na mesma época que o distrito.

A pretensão, estampada em adesivos pelo distrito de 12 mil habitantes, é pouco provável, porém: desde 2013 não se aprova a criação de um novo município no Brasil, por falta de legislação específica.

A terra era muito barata porque aqui não tinha nada; pegava o chão, era só areia

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