Folha de S.Paulo

Tira-dúvidas de gramática atende de graça por telefone e redes sociais

Professore­s e alunos trabalham há 22 anos em iniciativa da universida­de de Londrina

- WILHAN SANTIN COLABORAÇíO PARA A EM LONDRINA (PR)

Um pintor de letreiros quer saber a ortografia correta de uma palavra que vai escrever em uma parede. Já a funcionári­a do TRT (Tribunal Regional do Trabalho) tem uma dúvida de concordânc­ia nominal. A moça que estuda para concursos viu a palavra emeio, referindo-se a correio eletrônico, em um texto jornalísti­co, e ficou intrigada.

Todos essas pessoas entraram em contato com o Disque-Gramática, um projeto de extensão mantido há 22 anos pela UEL (Universida­de Estadual de Londrina).

Duas professora­s e cinco estudantes de letras fazem plantão todas as tardes, de segunda a sexta, para atender a telefonema­s e responder a e-mails e mensagens que chegam por redes sociais de pessoas que têm dúvidas gramaticai­s. São aproximada­mente cem atendiment­os por mês.

“Muitas vezes, as pessoas procuram na internet e não encontram respostas. Nós também não sabemos tudo, mas sabemos onde procurar”, afirmou a professora Cristina Valéria Bulhões Simon, coordenado­ra do projeto, cercada de dicionário­s e gramáticas.

Uma das alunas que atendem no Disque-Gramática, Natália Marques de Jesus, 22, disse que os amigos costumam estranhar seu trabalho.

“O pessoal utiliza bastante as redes sociais e muitos não acham importante escrever corretamen­te. Outros pas- sam a achar que sou um dicionário ambulante e começam a fazer várias perguntas. Meu pai, que é vendedor, não escreve mais nada sem me consultar”, afirmou a estudante.

Segundo a professora, o campeão de dúvidas é o hífen, sobretudo depois da reforma ortográfic­a que começou a vigorar em 2009. Concordânc­ia fica em segundo lugar, seguida por pontuação —com destaque para a vírgula— e acentuação, que tem a crase como a vilã principal.

Muitos dos usuários nem se identifica­m. Outros prolongam o papo por telefone.

“São professore­s, estudantes que estão escrevendo artigos, jornalista­s, publicitár­ios, advogados e profission­ais que trabalham escrevendo, como os que fazem convites de casamento, faixas, letreiros. Uns têm vergonha e desligam rapidinho. Outros agradecem bastante”, disse a estudante Ana Clara Anunciação, 18.

O serviço é gratuito, e as consultas podem ser feitas por pessoas de qualquer lugar, do Brasil ou do exterior. Por telefone, as dúvidas são respondida­s imediatame­nte. Se a res- posta não estiver na ponta da língua dos plantonist­as, eles retornam em até meia hora para quem ligou, desde que o telefone seja fixo e de Londrina. Não podem ligar para celulares ou fazer interurban­os por norma da universida­de.

Por e-mail ou pelas redes sociais as respostas costumam chegar em dois dias, com explicaçõe­s técnicas e referência­s bibliográf­icas. “O serviço é gratuito, mas nós ganhamos muito, pois ficamos sabendo quais são as dúvidas reais da população e as estudamos. Assim, tornamo-nos melhores”, disse a professora.

Para quem preza por escrever ou pronunciar as palavras corretamen­te, ter um especialis­ta de plantão é muito útil. “Muitas vezes busco em livros, dicionário­s, internet e não consigo chegar a uma conclusão sobre como montar corretamen­te uma frase. Daí, só pedindo socorro para eles”, afirmou Neusa Maria Cabrera, servidora do TRT.

O Disque-Gramática começou com o professor Joaquim Carvalho da Silva, que era constantem­ente requisitad­o para tirar dúvidas e resolveu montar o plantão gramatical.

Para entrar em contato, o telefone é (43) 3371-4619. O atendiment­o é das 14h às 18h. Dúvidas também podem ser enviadas para o e-mail disque-gramatica@uel.br.

A propósito, emeio não estará errado. O Volp (Vocabulári­o Ortográfic­o da Língua Portuguesa), da ABL (Academia Brasileira de Letras), registra a palavra assim, como a falamos em português.

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Wilhan Santin/Folhapress A professora Cristina Valéria Bulhões Simon (à dir.) e a aluna Natália Marques de Jesus atendem no plantão de dúvidas

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