Folha de S.Paulo

ENTREVISTA Neste novo colégio eleitoral, os atletas terão que ser protagonis­tas

EX-ATLETA OLÍMPICO E EX-SECRETÁRIO DE ALTO RENDIMENTO DO MINISTÉRIO DO ESPORTE AFIRMA QUE MODELO ATUAL PARA ELEIÇÃO NO COB É INACEITÁVE­L

- SERGIO RANGEL

“tem transparên­cia e não dá protagonis­mo aos atletas, está na hora [do governo] fechar as torneiras [do dinheiro da Lei Piva]

Ex-secretário nacional de alto rendimento do Ministério do Esporte, o carioca Luiz Lima, 39, travou nos bastidores uma queda de braço com Carlos Arthur Nuzman.

Em junho, ele pediu demissão do Ministério do Esporte. Três meses depois, o ex-nadador que participou de duas edições dos Jogos Olímpicos (Atlanta-96 e Sydney-00) é um dos articulado­res do movimento para dar aos atletas protagonis­mo no comando do COB (Comitê Olímpico do Brasil). Na quarta (11), antes de Nuzman renunciar à Presidênci­a, ele liderou protesto na frente da sede da entidade pedindo “diretas já”.

Acusado de corrupção, o cartola de 75 anos foi preso no último dia 5 e entregou o poder. A assembleia-geral do COB criou comissão para reformar o estatuto.

Em entrevista à Folha, Lima diz ser favorável à mudança do colégio eleitoral do COB e pede para o governo cortar o repasse da Lei Piva, principal receita da entidade até o comitê “ter transparên­cia”.

Na última eleição, 30 representa­ntes de confederaç­ões, um dos atletas e três membros natos do COB votaram. “Vejo um dilema para as confederaç­ões: mudam [o colégio eleitoral para ter participaç­ão maior dos atletas] ou vão perder a cabeça”, disse. Folha - Qual será o futuro do esporte olímpico no Brasil

LUIZ LIMA

Ex-secretário Nacional de Alto Rendimento do Ministério do Esporte após a saída do Nuzman?

Luiz Lima - Temos que fazer eleição direta o mais rápido possível. Neste novo colégio eleitoral, os atletas terão que ser protagonis­tas. O meu sonho é que cada atleta vivo que participou dos Jogos pudesse votar para escolher o presidente e está perto de acontecer. E também vejo dilema para as confederaç­ões: ou elas mudam ou vão perder a cabeça. O COB é muito fechado. Para concorrer ao cargo de presidente lá, só falta falarem que a pessoa tem que subir o Everest [Uma chapa só pode ser registrada com a assinatura de pelo menos dez presidente­s de confederaç­ões]. Acho que só com os atletas votando o COB pode se reformular. Faria apelo ao governo federal para que o COB só volte a receber a verba milionária da Lei Piva [R$ 179 milhões em 2016] se permitir o protagonis­mo dos atletas. O governo está sendo omisso nessa crise no esporte?

Meu sonho é ver o COB caminhar com as próprias pernas. Se você tem um vazamento na sua casa, fecha o registro. Se o COB não tem a transparên­cia e não dá protagonis­mo aos atletas, está na hora de fechar as torneiras. Temos que trazer o dinheiro privado. No mundo todo é assim. A Comissão de Atletas do COB fez uma carta apoiando a investigaç­ão contra Nuzman, mas defendendo o comitê. Os atletas também são culpados? atletas foram passivos nestes anos todos. Eu me incluo nessa. Tem a corrupção ativa e a passiva. Quando nos calamos, estamos sendo passivos e aceitando a corrupção. Foram poucos que não se calaram. O brasileiro é brando no combate à corrupção. Quem está fazendo governança no esporte é a Lava Jato. É o [juiz] Marcelo Bretas e a [procurador­a] Fabiana Schneider. O Ministério Público Francês, que começou a investigar. Se não fosse pelos atos deles, correríamo­s o sério risco de continuar com o mesmo sistema.

Quem está fazendo governança no esporte é a Lava Jato [...] Se não fosse pelos atos deles, correríamo­s o sério risco de continuar com o mesmo sistema É como se fizesse uma eleição para presidente do Brasil e apenas as grandes empresas do país votassem, a Nestlé, a CocaCola, a Petrobras. Esse modelo não pode existir mais

Por que o maioria dos atletas se calou?

têm 30

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