Folha de S.Paulo

A falou com pessoas que tiveram contato direto com o diretor em suas diversas

- GIANCARLO GIAMPIETRO DE SÃO PAULO PAULO PASSOS EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

Quando o São Paulo apresentou o atacante argentino Ricardo Centurión, em fevereiro de 2015, havia no palco também uma figura enigmática, que se introduzia como torcedor e investidor para bancar a contrataçã­o.

Pouco mais de dois anos depois, em maio de 2017, Vinícius Pinotti, 41, era a própria notícia, ao ser nomeado como diretor-executivo de futebol do clube.

“Sempre sonhei em estar aqui, mas não imaginava que seria tão rápido assim”, disse à Folha.

Pinotti passou a ocupar o cargo justamente quando o time enfrenta uma das fases mais complicada­s de sua história, envolvido, pelo segundo ano seguido, na luta contra o rebaixamen­to.

Chegou lá ao se projetar como novo quadro político de uma instituiçã­o desesperad­a por reformulaç­ão e respaldado por sua fortuna, por mais que não goste da observação.

“Foi um investimen­to barato”, diz sobre os 4 milhões de euros (R$ 15 milhões em valores atuais) por 70% dos direitos de Centurión.

Ele é dos poucos dirigentes que seguiu no cargo após a renúncia de Aidar, em outubro de 2015, e a primeira eleição de Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco.

Na verdade, se fortaleceu com a mudança. Sua influência extravasou a área que chefiava na gestão anterior, o marketing. Voltou a ajudar o clube em 2016. Os empréstimo­s somaram cerca de R$ 21 milhões.

Diz ainda ter colaborado financeira­mente com a campanha do atual presidente.

Com o segundo mandato de Leco assegurado em abril e a mudança estatutári­a, Pinotti foi um dos quatro executivos nomeados. Recebe salário em torno de R$ 10 mil, remuneraçã­o simbólica, até dez vezes menor que a de alguns antecessor­es.

As dívidas do clube com o dirigente são pagas em longas prestações, seguindo correção monetária.

Não há pressa. A família herdou do pai, Anizio, ações da Natura, da qual representa um dos blocos do grupo de controle da empresa.

Em seu antebraço direito, estampa tatuagem que diz: “Pai, meu herói”.

Com seu capital, passou a atuar como investidor. Mas gosta de lembrar a origem de baixa classe média, na zona sul paulistana.

Não descarta colocar mais dinheiro no clube. Diz que, por ora, não é necessário.

“É algo que se fala, até por ter sido feito recentemen­te em um co-irmão [o Palmeiras]. Mas o São Paulo também precisa caminhar com as próprias pernas. Hoje estamos em posição superavitá­ria.” SUBINDO Folha

VINÍCIUS PINOTTI

Diretor de futebol do São Paulo atribuiçõe­s em meio à ascensão repentina no clube.

Existe a crença de que Pinotti seria capaz de oferecer ao futebol mais profission­alismo e reestrutur­ação gerencial. É visto como alguém que sabe mexer com finanças.

A dedicação ao trabalho e ao clube é apontada como diferencia­l, antes mesmo de abrir expediente no centro de treinament­o da Barra Funda.

Por outro lado, há ressalvas quanto a sua escalada.

Uma linha crítica questiona quais seus predicados para ser o diretor de futebol.

Aponta-se que não seria do ramo e não teria a experiênci­a para lidar com o vestiário.

Pinotti diz poder oferecer “governança” – termo que lhe é muito caro – e que, para questões esportivas, estaria cercado por especialis­tas.

Registre-se também a presença constante do presidente Leco no CT. A palavra final será dele, tal como aconteceu na demissão de Rogério Ceni.

Em termos de chegadas e partidas, batalhou persistent­emente pela volta de Hernanes.

Na contramão, com habilidade, costurou a rescisão do meia Wesley, hoje no Sport, economizan­do R$ 5 milhões.

Seus defensores dizem que talvez o futebol precise justamente de uma visão de fora.

Lembram que, no marketing, também poderia ser considerad­o um “forasteiro”, mas que deu resultado.

Em época de vacas magras, trouxe patrocínio­s. O clube não fechava um acordo de longo prazo para marcas na camisa havia dois anos. Embora os valores sejam considerad­os baixos para o mercado, internamen­te os contratos foram pontos a seu favor.

Foi ele, porém, que contratou o ex-gerente de marketing Alan Cimerman, demitido em agosto por justa causa sob acusação de práticas corruptas relacionad­as a shows no Morumbi (ver ao lado).

Pinotti também tem se dedicado a incrementa­r o estafe em torno do time profission­al. A contrataçã­o de Altamiro Bottino, ex-Palmeiras, como coordenado­r científico, foi um passo nessa direção. JOGO ARRISCADO Alguns aliados creem que o diretor possa ter se precipitad­o em assumir o cargo nas atuais circunstân­cias.

Não só pela fase delicada do time, mas também pela instabilid­ade política do clube, deflagrada durante o terceiro mandato de Juvenal Juvêncio e agravada pelos escândalos envolvendo Aidar.

“Sabia dos riscos, mas isso me move”, disse Pinotti.

O temor é de que não esteja preparado para as pressões de um cargo de repercussã­o pública. Está agora exposto à opinião de milhões de torcedores e ao jogo político do clube.

Seus aliados reconhecem que pode ser impulsivo, se provocado. “Não sabe ouvir não” foi uma das frases usadas para descrevê-lo.

Profission­ais ligados à campanha de Leco citam uma postura excessivam­ente defensiva diante de notícias contrárias.

Tendia a ver as digitais da oposição. O grupo rival contava com o apoio de outro milionário de papel recente no Morumbi: Abílio Diniz.

Ao menos o time vive paz momentânea com a torcida.

Em setembro, Leco articulou visita de representa­ntes das organizada­s e de outros grupos ao CT do clube.

Pinotti já esteve próximo da Independen­te. Admite que, na arquibanca­da, tendia a se posicionar ao lado da organizada. Mas nunca foi filiado.

Agora diretor, sabe que será avaliado apenas pelos resultados do time em campo.

O São Paulo luta para evitar o rebaixamen­to no Brasileiro. Seria um duro golpe ao seu projeto, mesmo que só tenha assumido o cargo em maio.

Espera que não haja mais nenhuma entrevista coletiva tão cedo com mudanças no departamen­to de futebol.

A troca de comando é algo já recorrente no São Paulo. Com Leco, desde outubro de 2015, entre diretores e vicepresid­entes, Pinotti foi o oitavo dirigente nomeado.

“O clube precisa acreditar numa ideia e seguir em frente”, disse o executivo. Folha,

cá, pelos resultados, não estava dando certo. Já foram muitas trocas. O clube agora tem de acreditar numa ideia e seguir em frente

 ?? Marcello Fim - 29.set.2017/Raw Image ?? Ao lado do técnico Dorival Júnior, Vinícius Pinotti (centro) enfrenta das fases mais complicada­s de seu time de coração
Marcello Fim - 29.set.2017/Raw Image Ao lado do técnico Dorival Júnior, Vinícius Pinotti (centro) enfrenta das fases mais complicada­s de seu time de coração

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil