Folha de S.Paulo

Elenco até ajuda, mas trilha sonora ostensiva coloca o filme a perder

- NAIEF HADDAD

“Entre Irmãs”, de Breno Silveira, é um filme épico e, como tal, deixa que a emoção transborde. Trata-se de uma marca do gênero, de “E O Vento Levou” (1939) a “O Senhor dos Anéis” (2001).

A produção fortalece uma linha coerente na filmografi­a de Silveira, a começar por sua estreia “2 Filhos de Francisco” (2005). Desde então, Silveira defende enfaticame­nte um cinema sem vergonha de buscar a emoção do público. O caminho é legítimo e já foi trilhado com dignidade por grande diretores como Almodóvar.

Essa não é necessaria­mente a fraqueza do filme. O problema é se curvar tanto às convenções, como se estivesse a seguir um manual, o oposto do que faz Almodóvar.

A história de duas irmãs no sertão pernambuca­no nos anos 30 é empacotada dentro da fórmula surrada das trajetória­s que correm paralelas.

O esquematis­mo do roteiro seria menos incômodo se o filme não tivesse quase três horas de duração. É também o tempo para que o sertão seja visto em um sucessão de imagens de cartão-postal.

Mas é a trilha sonora que, definitiva­mente, põe a obra a perder. O problema não é a música de Gabriel Ferreira, supervisio­nada por Antônio Pinto, mas em seu uso. Silveira não se importa em soar excessivo.

Havia sentido na presença musical ostensiva em filmes sobre cantores como “2 Filhos...” e “Gonzaga: de Pai para Filho”. Mas a reiteração em “Entre Irmãs” é apelativa.

Marjorie Estiano e Nanda Costa estão convincent­es, assim como Júlio Machado no papel do cangaceiro Carcará —ele já havia se saído bem em “Joaquim”. Mas o esforço deles não basta para erguer o filme.

“Entre Irmãs” é o quinto e mais quadrado longa de Silveira. Ele tem talento pra escapar dessa camisa de força sem prescindir da ambição do sucesso popular. Resta saber se é isso o ele que quer.

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