Folha de S.Paulo

No mesmo período em que iniciou o trabalho de “Doce Pássaro”, no início do semestre,

- MARIA LUÍSA BARSANELLI

ENVIADA ESPECIAL AO RIO

Gilberto Gawronski encontrou em Tennessee Williams (1911-1983) metáforas de seus próprios trabalhos. Ao menos em duas obras do dramaturgo americano que ele dirige em palcos cariocas.

Em “Doce Pássaro da Juventude”, que estreia nesta semana, Vera Fischer interpreta Alexandra del Lago, uma atriz decadente que se esconde por trás de um nome falso e concorda em ajudar um jovem e atraente ator (Pierre Baitelli) com a carreira.

É um projeto antigo de Vera, que há cerca de dez anos quer montar o texto —e comprou os direitos três vezes até conseguir levá-lo ao palco. A personagem, diz a atriz, sofre com sua identidade. Sai à rua e ouve o bochicho das pessoas de que envelheceu.

Para Gawronski, é “uma coragem” de Vera, hoje aos 65, colocar em cena uma questão que também é a dela: a beleza marcante na juventude e a dificuldad­e (dela e do público) em lidar com a idade. Como diz a personagem em cena: “Não é que eu estou velha, eu só não sou mais jovem”.

Nos ensaios abertos, ele ouvia dos espectador­es comentário­s como “nossa, ela engordou” ou “até que está conservada”. “Isso é o doce pássaro da juventude, a podridão”, afirma o diretor, que coloca ao centro da cena uma cama — símbolo do sexo como poder. MEMÓRIA Gawronski foi chamado a dirigir uma turma de formandos da CAL - Casa das Artes de Laranjeira­s, escola onde se formou 33 anos antes.

Já mergulhado no universo de Tennessee, selecionou outro texto do autor, “Vieux Carré”, inédito por aqui.

Peça-memória do dramaturgo, a obra se passa num pensionato na cidade de Vieux Carré, em Nova Orleans, onde o próprio autor havia se hospedado. É um escritor (alter ego de Tennesse) quem narra as desventura­s dos moradores desiludido­s.

“A CAL é o meu ‘Vieux Carré’”, brinca Gawronski, agora como professor da instituiçã­o.

Foi a própria equipe quem fez a tradução, apoiando-se numa edição de Portugal e buscando as metáforas de Tennessee também nos nomes dos personagen­s: a empregada Nursie (algo como “enfermeira”) aqui é Socorro.

O diretor cria um cenário com plataforma­s de madeira e objetos quase todos comprados em camelôs no centro do Rio. Encontrou até uma máquina de escrever Underwood (“uns R$ 20 ou R$ 30”), como a usada por Tennessee e pelo narrador de“Vieux Carré”.

Após três sessões no prédio da CAL na Glória, a produção quer levar a peça a um pensionato na Lapa, fazendo um percurso pelos quartos. QUANDO qui. sáb., às a 19h; dom., às 18h; até 26/11 ONDE Teatro Carlos Gomes, pça. Tiradentes, s/ nº, Centro, tel. (21) 2215-0556 QUANTO R$ 60; 14 anos QUANDO sex. (13), sáb. (14) e dom. (15), às 18h e às 21h ONDE Instituto CAL de Arte e Cultura, r. Santo Amaro, 44, Glória, tel. (21) 3850-5750 QUANTO grátis; 16 anos

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