Os impotentes saem dos bueiros
Ultranacionalistas são contra imprensa, museus, enfim, a universidade; sempre quando quiseram estar nesses lugares, foram ridicularizados
O que faz com que a direita pareça engraçada e folclórica quando não ameaça chegar ao poder é o fato de vir do âmbito da semiescolarização. Não raro, conservadores vêm desse campo. Um indivíduo assim pode criar algo que ele pensa ter estatuto de teoria, mas que nada é senão uma série de enunciados que desrespeitam o bom senso.
Entra aí o restolho de uma astrologia e sai a astronomia, entra a alquimia barbárica e sai a química, entra a teoria da conspiração em que o mundo está sob manipulação de “incas venusianos” (vilões do Nacional Kid), ou seja, “comunistas” e “pedófilos”, e cai por terra a filosofia política. Esse tipo de liderança de direita, mutatis mutandis, repete Hitler.
Hitler escreveu o “Mein Kampf”, livro chato e de tremenda confusão mental. Ele pintava segundo as técnicas de um realismo medíocre e odiava a arte que não entendia. Era inadaptado à modernidade. Como a turba que arrebanhou, foi um “loser” diante da sociedade liberal.
O neofascismo de hoje guarda muito disso tudo. Os líderes ultranacionalistas do mundo todo são anti-intelectualistas: contra a imprensa liberal, os museus e teatros e, enfim, a universidade. Tudo que é feito nesses ambientes lhes é estranho, e eles querem que tais coisas desapareçam, pois todas as vezes que quiseram estar nesses lugares foram ridicularizados e se sentiram impotentes. Mas, se é a inveja como fruto da impotência que move tais pessoas, como explicá-la?
A interpretação clássica da inveja social moderna é de Tocqueville, em “A democracia na América” (1835). Ele diz que sociedades mais igualitárias criam a possibilidade de cada um olhar ao lado, considerar-se igual aos que em aristocracias não seriam iguais e, então, poder universalizar o modo de percepção comparativo.
Analisando os dias atuais, Gilles Lipovetsky, em “A felicidade paradoxal” (2006), diz que vivemos sob o hiperconsumo e o hiperindividualismo, em que vinga a sociedade que deixou de lado a inveja vinda da aquisição de bens. As pessoas consomem bens para uso individual, quase que solitariamente, e buscam um tipo de satisfação de uso de produtos que tem a ver com corpo, conforto solitário, single style.
A inveja deslocou-se de bens materiais para posições de visibilidade social, um certo tipo de fama e “famosidade”, própria de um hiperindividualismo recoberto por mídias que anunciam a felicidade centrada na vida particular.
Para entendermos a nova fonte de impotência, ressentimento e inveja, devemos recorrer à noção de “sociedade da visibilidade máxima”. O filósofo germano-coreano Byung-Chul Han, em “A sociedade da transparência”, lembra o excesso de positividade da vida atual, a ênfase na perspectiva de Rousseau de secundarizar uma “sociedade de máscaras”. Assim, no âmbito da mercadorização atual, nosso destino elege a vitrine como a arquitetura de todos os lugares. Se assim é, o ressentimento e a inveja, no que restam, são produzidos à medida que se faz necessário ser mostrado mais amado e “querido” que outros.
A inveja, então, é alimentada pela impotência e ódio contra quem pode se apresentar como visível, querido à medida que aprovado pela grande TV e pela Universidade, pela comunidade intelectual.
O guru raivoso lança seus exércitos de Brancaleone contra tais instituições. Ele tem como lema o “fracassados do mundo, uni-vos” e quer que o espectro do neofascismo paire sobre a Terra. Ele lidera impotentes invejosos exatamente na medida em que é o maior entre eles. PAULO GHIRALDELLI,
Os empresários Marcelo Odebrecht e Joesley Batista afirmaram que não é possível investir no Brasil sem pagamento de bilionárias propinas. Como ninguém consegue construir algo no país sem aprovação de órgãos governamentais, as obras acabam ficando bem mais caras e quem paga é o povo. Por essas e outras é que os governos perderam capacidade para construir obras do porte de Itaipu, Angra dos Reis, ponte Rio-Niterói (“Delatores da Odebrecht vivem limbo jurídico”, “Poder”, 2/10).
JOÃO HENRIQUE RIEDER
Somos surpreendidos com aumentos sem aviso prévio, como gás de cozinha, água, luz, essenciais para o nosso dia a dia. Em seguida vemos motoristas no trânsito sendo assaltados por bandidos. Qual assusta mais: os que aumentam nossos impostos ou aqueles que nos assaltam, aproveitando as nossas distrações?
SOLANGE GARCIA
SERVIÇOS DE ATENDIMENTO AO ASSINANTE: OMBUDSMAN: Colunistas Marcus Melo na Folha vai proporcionar aos brasileiros conhecer um pernambucano que analisa o Brasil com muita competência e profundo conhecimento. Parabéns!
JOSÉ ANÍBAL,
Como lembra Ruy Castro, em pesquisa recente 3% da população diz achar o governo Temer bom ou ótimo. Como a margem de erro estatístico varia de 1 a 3%, é possível que só o presidente possa estar se achando ótimo, ou talvez nem ele mesmo tenha esta convicção (“A caminho do Guinness”, “Opinião”, 13/10).
ROSA LINA KRAUSE
Horário de verão Sendo o tempo uma das commodities mais valiosas, considero o horário de verão um furto de uma hora do meu patrimônio. (“Horário de verão começa à 0h deste domingo com apoio da maioria”, “Cotidiano”, 14/10).
EDUARDO BRITTO