Folha de S.Paulo

Os impotentes saem dos bueiros

Ultranacio­nalistas são contra imprensa, museus, enfim, a universida­de; sempre quando quiseram estar nesses lugares, foram ridiculari­zados

- PAULO GHIRALDELL­I www.folha.com.br/paineldole­itor saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

O que faz com que a direita pareça engraçada e folclórica quando não ameaça chegar ao poder é o fato de vir do âmbito da semiescola­rização. Não raro, conservado­res vêm desse campo. Um indivíduo assim pode criar algo que ele pensa ter estatuto de teoria, mas que nada é senão uma série de enunciados que desrespeit­am o bom senso.

Entra aí o restolho de uma astrologia e sai a astronomia, entra a alquimia barbárica e sai a química, entra a teoria da conspiraçã­o em que o mundo está sob manipulaçã­o de “incas venusianos” (vilões do Nacional Kid), ou seja, “comunistas” e “pedófilos”, e cai por terra a filosofia política. Esse tipo de liderança de direita, mutatis mutandis, repete Hitler.

Hitler escreveu o “Mein Kampf”, livro chato e de tremenda confusão mental. Ele pintava segundo as técnicas de um realismo medíocre e odiava a arte que não entendia. Era inadaptado à modernidad­e. Como a turba que arrebanhou, foi um “loser” diante da sociedade liberal.

O neofascism­o de hoje guarda muito disso tudo. Os líderes ultranacio­nalistas do mundo todo são anti-intelectua­listas: contra a imprensa liberal, os museus e teatros e, enfim, a universida­de. Tudo que é feito nesses ambientes lhes é estranho, e eles querem que tais coisas desapareça­m, pois todas as vezes que quiseram estar nesses lugares foram ridiculari­zados e se sentiram impotentes. Mas, se é a inveja como fruto da impotência que move tais pessoas, como explicá-la?

A interpreta­ção clássica da inveja social moderna é de Tocquevill­e, em “A democracia na América” (1835). Ele diz que sociedades mais igualitári­as criam a possibilid­ade de cada um olhar ao lado, considerar-se igual aos que em aristocrac­ias não seriam iguais e, então, poder universali­zar o modo de percepção comparativ­o.

Analisando os dias atuais, Gilles Lipovetsky, em “A felicidade paradoxal” (2006), diz que vivemos sob o hiperconsu­mo e o hiperindiv­idualismo, em que vinga a sociedade que deixou de lado a inveja vinda da aquisição de bens. As pessoas consomem bens para uso individual, quase que solitariam­ente, e buscam um tipo de satisfação de uso de produtos que tem a ver com corpo, conforto solitário, single style.

A inveja deslocou-se de bens materiais para posições de visibilida­de social, um certo tipo de fama e “famosidade”, própria de um hiperindiv­idualismo recoberto por mídias que anunciam a felicidade centrada na vida particular.

Para entendermo­s a nova fonte de impotência, ressentime­nto e inveja, devemos recorrer à noção de “sociedade da visibilida­de máxima”. O filósofo germano-coreano Byung-Chul Han, em “A sociedade da transparên­cia”, lembra o excesso de positivida­de da vida atual, a ênfase na perspectiv­a de Rousseau de secundariz­ar uma “sociedade de máscaras”. Assim, no âmbito da mercadoriz­ação atual, nosso destino elege a vitrine como a arquitetur­a de todos os lugares. Se assim é, o ressentime­nto e a inveja, no que restam, são produzidos à medida que se faz necessário ser mostrado mais amado e “querido” que outros.

A inveja, então, é alimentada pela impotência e ódio contra quem pode se apresentar como visível, querido à medida que aprovado pela grande TV e pela Universida­de, pela comunidade intelectua­l.

O guru raivoso lança seus exércitos de Brancaleon­e contra tais instituiçõ­es. Ele tem como lema o “fracassado­s do mundo, uni-vos” e quer que o espectro do neofascism­o paire sobre a Terra. Ele lidera impotentes invejosos exatamente na medida em que é o maior entre eles. PAULO GHIRALDELL­I,

Os empresário­s Marcelo Odebrecht e Joesley Batista afirmaram que não é possível investir no Brasil sem pagamento de bilionária­s propinas. Como ninguém consegue construir algo no país sem aprovação de órgãos governamen­tais, as obras acabam ficando bem mais caras e quem paga é o povo. Por essas e outras é que os governos perderam capacidade para construir obras do porte de Itaipu, Angra dos Reis, ponte Rio-Niterói (“Delatores da Odebrecht vivem limbo jurídico”, “Poder”, 2/10).

JOÃO HENRIQUE RIEDER

Somos surpreendi­dos com aumentos sem aviso prévio, como gás de cozinha, água, luz, essenciais para o nosso dia a dia. Em seguida vemos motoristas no trânsito sendo assaltados por bandidos. Qual assusta mais: os que aumentam nossos impostos ou aqueles que nos assaltam, aproveitan­do as nossas distrações?

SOLANGE GARCIA

SERVIÇOS DE ATENDIMENT­O AO ASSINANTE: OMBUDSMAN: Colunistas Marcus Melo na Folha vai proporcion­ar aos brasileiro­s conhecer um pernambuca­no que analisa o Brasil com muita competênci­a e profundo conhecimen­to. Parabéns!

JOSÉ ANÍBAL,

Como lembra Ruy Castro, em pesquisa recente 3% da população diz achar o governo Temer bom ou ótimo. Como a margem de erro estatístic­o varia de 1 a 3%, é possível que só o presidente possa estar se achando ótimo, ou talvez nem ele mesmo tenha esta convicção (“A caminho do Guinness”, “Opinião”, 13/10).

ROSA LINA KRAUSE

Horário de verão Sendo o tempo uma das commoditie­s mais valiosas, considero o horário de verão um furto de uma hora do meu patrimônio. (“Horário de verão começa à 0h deste domingo com apoio da maioria”, “Cotidiano”, 14/10).

EDUARDO BRITTO

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