Folha de S.Paulo

Recuo na reforma mantém vantagem a candidato rico

Temer vetou 3 medidas elaboradas no Congresso para equilibrar disputa

- RANIER BRAGON

Propostas de restrição a financiame­nto para 2018 foram barradas devido à pressão dos próprios parlamenta­res

Políticos com mandato, patrimônio elevado ou boa relação com os formadores do PIB terão larga vantagem sobre os demais concorrent­es na disputa de outubro de 2018, apesar de essa ser a primeira eleição geral em que empresas estarão proibidas de financiar os candidatos.

O Congresso Nacional chegou até a esboçar na atual reforma política a aprovação de três medidas para conferir maior equilíbrio ao jogo, mas todas foram vetadas pelo presidente Michel Temer em acordo com parcelas significat­ivas do Senado e da Câmara dos Deputados.

Em setembro de 2015, o STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu acabar com a possibilid­ade de empresas doarem a políticos justamente com o discurso de que as eleições pressupõem igualdade de chances entre os candidatos.

No ano anterior, 70% de todo o dinheiro gasto na campanha tinha como origem grandes bancos, empreiteir­as e assemelhad­os, com destaque para a campeã JBS — R$ 391 milhões, em valores da época. Em 2017, a empresa fechou delação premiada em que afirma ter subornado 1.828 políticos eleitos.

Com a decisão de 2015 do STF, as eleições de outubro do ano que vem serão bancadas exclusivam­ente com recursos dos cofres públicos (cerca de R$ 3 bilhões, fora a renúncia fiscal da propaganda eleitoral), doações de pessoas físicas e autofinanc­iamento, que é o dinheiro injetado pelo candidato na própria campanha. A restrição também foi colocada em prática nas eleições municipais de 2016. VAIVÉM No atual debate da reforma política, a Câmara dos Deputados e o Senado chegaram a aprovar, em momentos distintos, três medidas que dialogavam com a decisão do Judiciário de 2015 e que poderiam assegurar relativa igualdade de armas na disputa.

A primeira delas era a limitação das doações de pessoas físicas a 10 salários mínimos (R$ 9.700) para cada cargo em disputa. Temer vetou a medida.

Com isso, mantém-se o teto de 10% do rendimento da pessoa física, o que permite Limitadas a 10% do rendimento bruto do ano anterior Limitado ao teto estabeleci­do para cada cargo em disputa

Teto de doação de 10 salários mínimos para pessoa física, o que vedaria as doações milionária­s Teto de R$ 200 mil para o autofinanc­iamento

Regras para distribuiç­ão mais equânime, pelos partidos, dos recursos públicos entre os candidatos Presidente Governador Senador Deputado federal Deputado estadual Congresso aprovou, mas Michel Temer vetou a medida Senado rejeitou a medida Em acordo com os deputados, Temer vetou proposta de R$ 2,8 milhões a R$ 21 milhões* de R$ 2,5 milhões a R$ 5,6 milhões* R$ 2,5 milhões R$ 1 milhão R$ 70 milhões a burla à vedação da doação empresaria­l. Basta, para isso, o financiame­nto ser feito por meio do CPF do dono da empresa ou de diretores.

Em 2014, por exemplo, as 100 maiores doações de pessoas físicas somaram quase R$ 30 milhões, uma média de R$ 300 mil, valor 30 vezes superior ao limite vetado por Temer.

A segunda medida era o limite ao autofinanc­iamento. A Câmara estipulou um teto de R$ 200 mil, mas os senadores só não o derrubaram devido a uma trapalhada regimental. Mas depois Temer, em acordo com o Senado, também vetou a proposta.

Com isso, fica liberada em 2018 a repetição de ocorrência­s como a de 2016, quando João Doria (PSDB), cujo patrimônio declarado é de R$ 180 milhões, injetou R$ 4,44 milhões do próprio bolso em sua campanha (36% do total de suas receitas).

Doria é pré-candidato ao Palácio do Planalto e, na categoria “poupança recheada”, não tem rival entre os nomes colocados: Luiz Inácio Lula da Silva (PT), cuja candidatur­a corre o risco de ser barrada pela Justiça, declarou patrimônio de R$ 8,8 milhões em 2015. Jair Bolsonaro (PSC), R$ 2,1 milhões em 2014. Geraldo Alckmin (PSDB), R$ 1,1 milhão no mesmo ano.

A presidenci­ável que declara o menor patrimônio é Marina Silva (Rede) —R$ 181 mil, também em 2014.

A terceira medida que naufragou foi a exigência de uma distribuiç­ão relativame­nte equânime, aos candidatos, do dinheiro público que será colocado nas campanhas.

Esse ponto foi aprovado pelo Senado, mas, por exigência da Câmara, Temer vetou a medida.

Com isso, a decisão ficará na mão das cúpulas partidária­s, que tendem a beneficiar políticos já com mandato, que são os que têm a maior chance de êxito. CRUCIAL A importânci­a do dinheiro de campanha para a eleição de um candidato é fartamente documentad­a e só encontra paralelo na propaganda na TV e rádio —cuja qualidade e transforma­ção em votos também necessita em boa parte de alto investimen­to financeiro.

Na Câmara dos Deputados, por exemplo, os 513 eleitos em 2014 declararam patrimônio médio de R$ 2,5 milhões naquele ano, exatamente o teto definido pelo Congresso Nacional para o gasto dos candidatos a deputado federal no ano que vem.

 ??  ?? » VIROU PASSEIO Os prefeitos de São Paulo, João Doria (PSDB), e de Veneza, Luigi Brugnaro (à esq.), passeiam pelos canais da cidade italiana neste sábado (14); eles assinaram acordo de cooperação cultural entre as duas capitais
» VIROU PASSEIO Os prefeitos de São Paulo, João Doria (PSDB), e de Veneza, Luigi Brugnaro (à esq.), passeiam pelos canais da cidade italiana neste sábado (14); eles assinaram acordo de cooperação cultural entre as duas capitais

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil