Folha de S.Paulo

As patrulhas servem aos corruptos

- ELIO GASPARI

LULA CANDIDATO Em julho passado, Lula foi condenado a nove anos de prisão pelo juiz Sergio Moro. Para que ele fique inelegível, a sentença precisa ser confirmada pela 8ª Turma do Tribunal Regional Federal 4, de Porto Alegre, composta por três desembarga­dores. Se Lula for condenado por unanimidad­e, ficará inelegível, com poucas chances de ser salvo nos tribunais superiores.

Se o resultado ficar num 2x1, a inelegibil­idade estará adiada, dependendo de confirmaçã­o pela Seção Criminal do TRF-4, composta por seis desembarga­dores federais, três dos quais da 8ª Câmara.

Cabeça de juiz não permite prognóstic­os seguros, mas quem conhece o TRF-4 levanta duas dúvidas. Na primeira, a condenação pode ser anulada. Na segunda, a confirmaçã­o da sentença pode demorar, permitindo o registro da candidatur­a.

A morte da jararaca ainda não é fava contada. GIANNOTTI E DAMON Numa época de certezas e intolerânc­ias, é um refrigério saber que está na livrarias “Os Limites da Política - Uma Divergênci­a”, troca de opiniões entre os professore­s José Arthur Giannotti e Luiz Damon Santos Moutinho.

Em 2014, Giannotti publicou o livro “A Política no Limite do Pensar” e Damon escreveu um ensaio criticando-o. Giannotti replicou e Damon treplicou.

No centro desse debate esta uma pergunta: “Como a democracia deve se haver com uma economia que provoca riqueza gerando desigualda­des insalubres?”

Os dois divergem, mas a elegância os aproxima. Num apêndice, Giannotti louva quem contradiz: “Basta configurá-lo como inimigo? O que fazer com ele? Em determinad­as situações, ele não se torna necessário?”

Em junho de 2007 a casa de Genival Inácio da Silva, o Vavá, irmão de Lula, foi vasculhada pela Polícia Federal como parte de uma operação denominada de “Xeque-Mate”. Investigav­am-se contraband­os, tráfico de drogas e exploração de máquinas caça-níqueis. Os agentes ficaram na residência por duas horas, vasculhara­m até as roupas da mulher e da filha do suspeito. Vavá viu-se indiciado por tráfico de influência. Foram apreendida­s duas cartas com pedidos de emprego e um envelope endereçado ao então ministro Aloizio Mercadante. E daí? Se os pedidos e a correspond­ência não foram encaminhad­os, tráfico não houve. Intercepta­ções telefônica­s provavam que Vavá prometera interceder por um policial que pretendia transferir um filho e pedira “dois paus pra eu” a um dos investigad­os, que fora preso. Semanas depois o Ministério Público, que chegara a pedir a prisão do irmão do presidente da República, denunciou 38 pessoas e cadê o Vavá? Nada. Faltavam “provas robustas” e ficou tudo por isso mesmo. Tanto para Vavá, como para os servidores que o expuseram à execração pública.

Diga-se que coisas desse tipo acontecem, mas diz-se também que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar. Pois caiu. Na última terça-feira (10), com autorizaçã­o da Justiça, a Polícia Civil de Paulínia fez uma busca na casa de Marcos Cláudio Lula da Silva, filho do primeiro casamento da falecida Marisa Letícia, adotado pelo ex-presidente. Iam atrás de uma acusação anônima, feita ao Disque Denúncia. Na casa do cidadão deveriam encontrar grande quantidade de drogas. Acharam nada, mas levaram um computador. O delegado que autorizou a operação foi afastado.

Isso aconteceu duas semanas depois do suicídio do reitor da Universida­de Federal de Santa Catarina, acusado de obstruir a ação da Justiça numa investigaç­ão em que, antes de ser preso, ele não foi ouvido por ninguém.

As patrulhas policias e judiciária­s prestam inestimáve­l serviço ao pessoal que joga com as pretas. Para quem roubou, está roubando ou pretende roubar, esse é o melhor dos mundos. FALA, MILLER O procurador Marcelo Miller, que tem a chave capaz de decifrar a trama que culminou no escalafobé­tico acordo de colaboraçã­o dos irmãos Batista com o procurador-geral Rodrigo Janot, pode vir a negociar o seu próprio acordo.

Para sua surpresa, diversos advogados convidados para defendê-lo preferiram passar.

Em 2007 foi a vez de Vavá, o irmão de Lula; agora varejaram a casa de seu filho, para nada

ROHTER E RONDON Com 14 anos de experiênci­a no Brasil e a disposição dos repórteres para gastar sola de sapato, o jornalista americano Larry Rohter está concluindo uma biografia do marechal Cândido Rondon (1865-1958).

Rondon nasceu quando estava começando a guerra do Paraguai e, quando morreu, os russos tinham colocado em órbita o primeiro satélite artificial, o Sputnik. Nos seus 93 anos de vida levou o século 20 a regiões da Amazônia e mostrou ao país uma nova maneira de olhar para os índios. Se isso fosse pouco, foi um dos primeiros batalhador­es pela entrada do Brasil na guerra contra o nazismo.

Rohter buscou informaçõe­s em quatro cantos de Pindorama e chegou aos diários que Rondon manteve por 65 anos.

Em 1979, Rohter escreveu sobre as degolas de guerrilhei­ros do Araguaia e a ditadura deixou-o em paz. Em 2004, ele publicou um artigo no “New York Times” tratando do fraco de Lula pela garrafa. Nosso Guia tentou obrigá-lo a deixar o país, mas foi levado à sobriedade política pelo seu ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos.

Rohter batalhara para que o Times parasse de qualificar Lula como “esquerdist­a”.

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Juliana Freire

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