Folha de S.Paulo

Juízes promovem concerto em entidade pivô de fraude

Fundação que foi palco de desvios praticados por associação de magistrado­s cede auditório para evento promovido por juízes

- FREDERICO VASCONCELO­S

A Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) vai comemorar os 50 anos da reinstalaç­ão da Justiça Federal no país com um concerto de piano na Fundação Habitacion­al do Exército (FHE), em Brasília .

A Folha revelou há exatamente sete anos que a fundação do Exército foi palco da maior fraude já praticada por magistrado­s.

Durante dez anos, a Associação dos Juízes Federais da 1ª Região (Ajufer) —segunda maior entidade de magistrado­s federais do país— desviou recursos da FHE por meio de contratos fictícios em nome de juízes que desconheci­am o golpe.

A associação rolou mensalment­e empréstimo­s não quitados. Parte desse mensalão da toga era depositada em contas de doleiros e laranjas.

O convite para o concerto está sendo distribuíd­o em nome do juiz federal Roberto Veloso, presidente da Ajufe, ele mesmo uma das vítimas da trama. “Meu nome foi usado fraudulent­amente cinco vezes”, revelou na ocasião.

Veloso disse que o apoio “não é patrocínio”.

Antes de dirigir a associação nacional, ele presidiu a entidade que representa juízes do Distrito Federal e de 13 Estados. Veloso assumiu a presidênci­a depois que o desfalque veio à tona. Determinou uma investigaç­ão por juízes federais especializ­ados em julgar crimes financeiro­s.

As obras de Schubert e Prokofiev que serão executadas no dia 19 pelo pianista Fernando Calixto, no auditório da FHE, podem ser interpreta­das

ROBERTO VELOSO

presidente da Ajufe como uma reaproxima­ção. Mas continua na pauta uma dívida de R$ 32,6 milhões que a fundação cobra na Justiça.

A Ajufer chamou à responsabi­lidade todos os ex-presidente­s e tesoureiro­s que assinaram os contratos fictícios.

A associação ingressou na Justiça com denunciaçã­o à lide, ou seja, passou do polo passivo para o ativo na ação de cobrança movida pela FHE.

Uma ação penal sigilosa se arrasta no TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região), em Brasília.

Foram denunciado­s quatro ex-presidente­s da Ajufer, um ex-diretor da Fundação Habitacion­al do Exército e outros dois réus, apontados como agiotas e doleiros. Eles foram acusados dos crimes de gestão fraudulent­a, falsidade material e ideológica, apropriaçã­o indébita e lavagem de dinheiro. Eles alegam inocência.

Veloso afirma que a recepção, com “vinho de honra”, será integralme­nte custeada pela Ajufe.

“apenas o auditório, porque tem o piano no qual o pianista irá realizar o concerto. A escolha foi técnica

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