Juízes promovem concerto em entidade pivô de fraude
Fundação que foi palco de desvios praticados por associação de magistrados cede auditório para evento promovido por juízes
A Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) vai comemorar os 50 anos da reinstalação da Justiça Federal no país com um concerto de piano na Fundação Habitacional do Exército (FHE), em Brasília .
A Folha revelou há exatamente sete anos que a fundação do Exército foi palco da maior fraude já praticada por magistrados.
Durante dez anos, a Associação dos Juízes Federais da 1ª Região (Ajufer) —segunda maior entidade de magistrados federais do país— desviou recursos da FHE por meio de contratos fictícios em nome de juízes que desconheciam o golpe.
A associação rolou mensalmente empréstimos não quitados. Parte desse mensalão da toga era depositada em contas de doleiros e laranjas.
O convite para o concerto está sendo distribuído em nome do juiz federal Roberto Veloso, presidente da Ajufe, ele mesmo uma das vítimas da trama. “Meu nome foi usado fraudulentamente cinco vezes”, revelou na ocasião.
Veloso disse que o apoio “não é patrocínio”.
Antes de dirigir a associação nacional, ele presidiu a entidade que representa juízes do Distrito Federal e de 13 Estados. Veloso assumiu a presidência depois que o desfalque veio à tona. Determinou uma investigação por juízes federais especializados em julgar crimes financeiros.
As obras de Schubert e Prokofiev que serão executadas no dia 19 pelo pianista Fernando Calixto, no auditório da FHE, podem ser interpretadas
ROBERTO VELOSO
presidente da Ajufe como uma reaproximação. Mas continua na pauta uma dívida de R$ 32,6 milhões que a fundação cobra na Justiça.
A Ajufer chamou à responsabilidade todos os ex-presidentes e tesoureiros que assinaram os contratos fictícios.
A associação ingressou na Justiça com denunciação à lide, ou seja, passou do polo passivo para o ativo na ação de cobrança movida pela FHE.
Uma ação penal sigilosa se arrasta no TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região), em Brasília.
Foram denunciados quatro ex-presidentes da Ajufer, um ex-diretor da Fundação Habitacional do Exército e outros dois réus, apontados como agiotas e doleiros. Eles foram acusados dos crimes de gestão fraudulenta, falsidade material e ideológica, apropriação indébita e lavagem de dinheiro. Eles alegam inocência.
Veloso afirma que a recepção, com “vinho de honra”, será integralmente custeada pela Ajufe.
“apenas o auditório, porque tem o piano no qual o pianista irá realizar o concerto. A escolha foi técnica