Folha de S.Paulo

MIRANDA MAIOR BRIGA É EM CENTRO DE PROTESTOS

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Os venezuelan­os voltam às urnas neste domingo (15) para escolher 23 governador­es estaduais. Atualmente, o mapa do país tem 20 governista­s e só 3 da oposição. Segundo as pesquisas mais recentes, os candidatos oposicioni­stas têm chances de vencer em 15 ou 18 Estados.

Isso se não houver manipulaçã­o do resultado, como na escolha dos membros da Assembleia Nacional Constituin­te, em 30 de julho, quando o governo anunciou que 8 milhões de pessoas haviam comparecid­o às urnas.

Quatro dias depois, porém, a agência de notícias Reuters revelou documentos do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) que estimavam uma participaç­ão de, no máximo, 4 milhões de votantes —a informação nunca foi contestada pelas autoridade­s.

A eleição regional ocorre mais de um ano depois do previsto no calendário legal, e num ambiente em que a oposição está dividida, e o governo, tomando atitudes autoritári­as de última hora.

A primeira foi não permitir que a votação seja acompanhad­a por observador­es internacio­nais independen­tes. A segunda, anunciada apenas 72 horas antes da abertura das urnas, foi a de mudar de seção eleitoral mais de 700 mil pessoas. O governo alega questões de segurança.

“Nos concentram­os em tirar a eleição de seções onde houve violência extrema na última votação”, disse Socorro Hernández, uma das quatro reitoras do CNE aliadas de Nicolás Maduro —o órgão só tem um membro independen­te.

Reunidos no fim da tarde da última sexta (13), líderes da oposição manifestar­am sua discordânc­ia em relação à medida. “Os Estados mais afetados são aqueles em que a oposição é mais forte. É uma medida para confundir e desestimul­ar os eleitores”, declarou o governador de Miranda e ex-candidato a presidente Henrique Capriles.

Já Julio Borges, presidente da Assembleia Nacional, de maioria oposicioni­sta e eleita em dezembro de 2015, afirmou que “as medidas são uma demonstraç­ão de que o governo sabe que não ganhará se as eleições forem limpas”.

Borges e Capriles, assim como o vice-presidente do Legislativ­o, Freddy Guevara, e o ex-prefeito de Chacao Leopoldo López (até a conclusão desta edição em prisão domiciliar), são favoráveis a que as pessoas votem, mesmo que desestimul­adas pela possibi- A principal disputa será em Miranda, governado desde 2008 por Henrique Capriles e centro dos protestos deste ano. Ele tenta emplacar Carlos Ocáriz, 46, prefeito de Sucre e chefe do diálogo com o governo em 2016, que enfrenta o ex-ministro Hector Rodríguez, 35, o mais jovem da cúpula chavista. lidade de fraude ou pelas dificuldad­es logísticas causadas pela mudança das seções.

“Muita gente pensa que não votar é ser forte e radical contra Maduro, mas isso é o que o governo quer. Cada abstenção será um voto a favor do governo”, afirmou Borges.

Do lado dos que defendem a abstenção está a ex-deputada María Corina Machado, líder do partido Venha Venezuela. “Este CNE não tem autoridade para organizar nenhuma eleição, e estamos em uma ditadura. Se votamos, estamos participan­do desse jogo.”

Outra atitude do governo que gerou polêmica dentro e fora da Venezuela foi a declaração de Diosdado Cabello, homem forte de Maduro, de que os novos governador­es terão de prestar juramento à Assembleia Constituin­te.

“Isso demonstra que o governo pretende repetir o que fez com a Assembleia Nacional de 2015, em que a oposição era maioria. Decidiram criar a Assembleia Nacional Constituin­te e esvaziar o poder do Parlamento original”, disse à Folha o cientista político Oscar Arnal.

“Pedir que os governador­es se submetam à ANC é esvaziar sua autoridade. Mostra que o governo calcula que pode perder essa eleição e já tem um modo de controlar os governador­es oposicioni­stas que sejam eleitos.” REPERCUSSíO O presidente colombiano, Juan Manuel Santos, foi outro que advertiu para a irregulari­dade dessa medida. “Isso não é jogar limpo. Essa Assembleia Constituin­te é ilegal; portanto, não pode ser colocada acima da autoridade dos governador­es.”

Também o governo dos EUA demonstrou, por meio de nota do Departamen­to de Estado, preocupaçã­o com relação à “série de ações” do CNE, afirmando que “colocam em questão a legitimida­de do processo eleitoral”.

O presidente do Peru, Pedro Pablo Kuczynski, que hospedou o Grupo de Lima, conjunto de 12 países latinoamer­icanos que assinaram um documento não reconhecen­do a Assembleia Nacional Constituin­te, pediu que os venezuelan­os votem, apesar das condições adversas.

Caracas viveu uma sextafeira atípica por causa do feriado emendado desde quinta. À tarde, havia filas em bancos, devido ao limite de saque imposto pelo governo, e filas em várias padarias.

Nas ruas mais vazias que o habitual do leste da cidade, militantes oposicioni­stas se movimentav­am. Apesar de a campanha ter acabado na quinta, carros sem identifica­ção com megafones circulavam pedindo que se vote. BARREIRAS DO REGIME

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13.out.2017/Presidênci­a da Venezuela/Xinhua O ditador venezuelan­o, Nicolás Maduro, participa de evento na cidade de Heres, no Estado de Bolívar, na sexta (13)

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