Folha de S.Paulo

A miséria da educação em 2018

- VINICIUS TORRES FREIRE

CIENTISTAS E professore­s de universida­des federais dizem que seus laboratóri­os e escolas estão depenados e vão fechar, por falta de dinheiro. Fizeram alguns protestos por aí, mas foram mais desprezado­s do que de hábito, pois o universo das pessoas em tese menos iletradas do Brasil estava envolvido na querela do homem pelado no museu e outros debates indecentes.

O orçamento federal para a ciência pode ter um corte de até 40% no ano que vem. A despesa prevista para a educação não terá destino muito melhor. O Orçamento do governo federal começa a implodir em 2018.

Sem reformas e impostos, haverá ainda mais pressão pela derrubada do teto de gastos ou pela cobrança de mensalidad­es nas universida­des. Tenso.

Antes de descrever tristezas, é preciso lembrar que o projeto de Orçamento federal para 2018 é ainda mais fictício que o de costume. Será remendado, pois a meta de deficit e as receitas serão muito revisadas.

Isto posto, a despesa prevista para a educação cai mais de 3% de 2017 para 2018 (comparadas as previsões orçamentár­ias), sem levar em conta a inflação. Na prática, é uma redução real de uns 7%.

A despesa com salários e aposentado­rias dos servidores federais da educação vai aumentar 7,5%. As demais caem quase 15%. A rubrica relevante que mais perde é a de educação básica. Mais da metade do orçamento do Ministério da Educação vai para o ensino superior.

Como já deveria ser evidente, o Orçamento do governo está sendo comido por despesas com Previdênci­a e com servidores (aposentado­rias, pensões e salários).

As despesas federais não podem crescer mais do que a inflação: em termos reais, estão congeladas. O bolo fica, pois, do mesmo tamanho. É o chamado teto. Se algum gasto cresce, os demais devem encolher. É o que está acontecend­o com o investimen­to “em obras” e com as de ciência e tecnologia.

O orçamento previsto para a educação federal é de R$ 104,3 bilhões em 2018. Descontada­s as despesas com pessoal, sobram R$ 44,4 bilhões. No restante do governo, apenas a despesa com benefícios previdenci­ários deve crescer uns R$ 30 bilhões em 2018, afora a inflação (chute conservado­r e que não inclui a despesa com aposentado­rias e pensões de servidores). Quase engole o gasto da educação.

Mesmo que não houvesse o teto constituci­onal de gastos, a despesa ainda estaria estourada, pois a arrecadaçã­o do governo é um fracasso, devido a recessão e mumunhas. Com ou sem teto, por ora é preciso cortar.

No entanto, despesas com salários de servidores crescem de modo desproposi­tado e as da Previdênci­a aumentam de modo descontrol­ado, por lei. As despesas de investimen­to “em obras”, no entanto, caem 40% neste 2017.

Na execução (gasto de fato) do Orçamento deste ano, o dinheiro despendido em educação federal caiu 7% nos últimos doze meses (desconside­radas as despesas obrigatóri­as); em 2015, ainda sob Dilma 2, caíam a 17% ao ano.

Dado o teto constituci­onal de gastos, a Previdênci­a sem reformas e o aumento de salários dado por Michel Temer a servidores, a situação será de guerra em 2019. O dinheiro para obras ou para a ciência tende a zero no início do próximo governo.

Se o país continuar inerte, o Orçamento vai explodir. Na nossa cara. vinicius.torres@grupofolha.com.br

Gasto com pessoal e INSS come dinheiro de ciência, educação e obras; Orçamento vai explodir

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