Folha de S.Paulo

Custo baixo e pai ‘real’ dão gás a inseminaçã­o caseira

- MARIANA ZYLBERKAN

Pelo menos uma vez por mês, Espermatoz­oide vai buscar o filho Lorenzo, 4, para passear. O apelido é uma brincadeir­a, mas usado de maneira recorrente pelas duas mães da criança para se referir ao pai. No caso, um doador de sêmen que fez questão de registrar e participar do cresciment­o do menino.

O primeiro contato entre os três foi por meio de uma rede social e, após um breve encontro, a concepção foi agendada para o dia fértil da enfermeira Ana Carolina Jesus Rodrigues Stancato, 33, na casa onde vivia com a mulher, a também enfermeira Maria Luiza Sanches Stancato Rodrigues, 35, em Campinas (SP).

O clima era de nervosismo, elas lembram. Em um quarto separado, Espermatoz­oide encheu um frasco esteriliza­do de plástico com seu sêmen e logo o passou para uma seringa. No cômodo ao lado, Maria Luiza introduziu o material em Ana Carolina, que passou os 40 minutos seguintes com as pernas para cima e quase imóvel.

Algumas semanas depois, o teste positivo só confirmou o que já era latente por causa das crises de choro e das idas constantes ao banheiro, sintoma típico de gravidez. “Fazia teste de farmácia todo dia. Era um sonho ser mãe”, diz Ana Carolina.

Apesar de não ser reconhecid­a por entidades médicas, já que a legislação brasileira

ANA CAROLINA RODRIGUES, 33

que engravidou por meio do método de inseminaçã­o caseira permite apenas doações anônimas de células germinativ­as, a inseminaçã­o caseira é amplamente oferecida nas redes sociais.

Entre os motivos para a procura cada vez maior da técnica estão o baixo custo, em comparação com a fertilizaç­ão in vitro, que custa, em média, entre R$ 15 e 20 mil por tentativa, e a possibilid­ade das crianças em conhecer os pais no futuro. DE NOVO Recentemen­te foi a vez de Maria Luiza engravidar da mesma forma. Assim como na gravidez de Lorenzo, elas recorreram à internet para achar um doador. Um grupo virtual de mães deu a dica de um casal que atende em sua casa no bairro do Butantã, na zona oeste de São Paulo.

Em uma madrugada, o casal saiu de Campinas rumo à casa do doador. O processo todo foi rápido, como lembra Maria Luiza: a mulher do doador trouxe a seringa com o sêmen, “após o casal namorar”, enquanto ela aguardava no quarto do lado deitada em uma cama com uma almofada sob o quadril.

Ana Carolina fez a aplicação e, algumas semanas depois, Maria Luiza soube que esperava Mariana, que completou três meses. “Quase não acreditei que conseguimo­s de novo de primeira.”

A bebê foi a 17ª nascida a partir da inseminaçã­o feita no quarto alugado pelo doador e sua mulher desde o início do ano passado.

As mães de Lorenzo e Mariana dizem que não tiveram nenhum gasto com o procedimen­to, com exceção do deslocamen­to, mas é cobrada uma taxa de R$ 100 por dia para quem se hospedar no endereço. A estadia não é obrigatóri­a, mas acaba sendo comum já que a maioria recorre a mais de uma tentativa durante o período fértil.

Uma das únicas exigências é fazer a inseminaçã­o de madrugada, quando os sete filhos do doador estão dormindo, além de apresentar exames de saúde recentes para HIV, hepatite e HPV.

“[de gravidez] de farmácia todo dia. Era um sonho ser mãe”

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Rômulo Saad, um dos cabeleirei­ros voluntário­s

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