Folha de S.Paulo

Índia escaneou 2,2 bilhões de olhos no país

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Mas todo esse aparato eletrônico teria pouco valor se as pessoas não usassem o cartão —o que aconteceu em países como a Finlândia, que tentaram a mesma tecnologia antes mesmo da Estônia.

O segredo foi convencer a iniciativa privada, em especial bancos e operadoras de celular, a adotar o sistema.

A teoria é de que, se um cidadão usa o cartão no dia a dia, se acostuma à tecnologia.

“Não pode ser utilizado apenas para interagir com o governo, o que acontece três ou quatro vezes por ano”, diz à Folha Arne Ansper, chefe de desenvolvi­mento da Cybernetic­a, companhia privada que criou parte dos sistemas do governo estoniano.

“Se for um cartão só do governo, as pessoas se esquecem de como usar e não confiam. É preciso chegar a um grau de maturidade do usuário para que aceite, por exemplo, votar na internet.”

Mas a experiênci­a pode ser feita em qualquer lugar, inclusive no Brasil, afirma Arvo Ott, que esteve à frente da modernizaç­ão estoniana nos anos 1990. A tecnologia, afinal, não é cara ou complicada em si.

Ott hoje lidera a e-Governance Academy, um think tank que treina empresas e governos para implementa­r suas estratégia­s virtuais.

Mas não é uma adaptação rápida. “Seriam necessário­s anos para implementa­r, e os políticos não gostam disso.”

São 1,1 bilhão de indianos cadastrado­s, 11 bilhões de digitais e 2,2 bilhões de olhos escaneados. Os números do Aadhaar, o maior programa de identifica­ção biométrica do mundo, impression­am tanto quanto as possibilid­ades que uma identidade biométrica universal oferece.

Recebiment­o de programas sociais, cadastro quase automático em empresas e serviços e pagamentos sem uso de cartão ou dinheiro são apenas algumas das possibilid­ades da integração do programa com outras bases de dados privadas ou públicas.

Lançado em 2009 pelo partido de oposição ao atual primeiro-ministro, Narendra Modi, a implementa­ção do Aadhaar foi ampliada e intensific­ada durante o seu governo. O programa já foi elogiado pelo economista-chefe do Banco Mundial como o sistema de identifica­ção “mais sofisticad­o” que já conheceu.

Na época, o governo convidou o fundador de uma das

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Noah Seelam - 18.jan.2017/AFP Indiano utiliza a impressão digital para sacar dinheiro

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