Folha de S.Paulo

Não tive contato com ele. Acho que a lei não permite. Não trocamos nenhuma palavra e nem recados.

- SÉRGIO RANGEL

O presidente do COB (Comitê Olímpico do Brasil), Paulo Wanderley, 67, assumiu o poder na quarta-feira (11) com a missão de resgatar a credibilid­ade da entidade.

Ele substituiu às pressas Carlos Arthur Nuzman, 75, preso no dia 5 suspeito de ter feito a “ponte” entre o esquema de corrupção do governo Sérgio Cabral (PMDB) e os membros do COI (Comitê Olímpico Internacio­nal) na escolha do Rio para receber os Jogos de 2016.

Em entrevista à Folha ,o ex-presidente da CBJ (Confederaç­ão Brasileira de Judô), eleito vice de Nuzman em outubro de 2016, tentou se distanciar do ex-presidente e prometeu que vai abrir o colégio eleitoral aos atletas. Mesmo assim, acredita que os esportista­s terão peso menor que os cartolas.

Ao contrário de seu antecessor, o potiguar disse querer ser remunerado no cargo. “Já existe uma lei específica para remunerar o dirigente. Isso é legal”, diz. Presidente­s de confederaç­ões ganham cerca de

PAULO WANDERLEY

Novo presidente do COB R$ 20 mil mensais.

Com o comitê de cofres vazios (tem apenas o dinheiro da Lei Piva de receita), Wanderley negou contratar “personalid­ades”, prometeu “mais eficiência” e não quis fixar meta de medalhas para os Jogos de Tóquio-2020. Folha - O senhor assumiu o COB na maior crise da sua história. Como resgatar a credibilid­ade do comitê?

Paulo Wanderley - O projeto imediato é essa comissão criada para reformar o estatuto. Já tem quatro pessoas [três presidente­s de confederaç­ões —Marco Ribeiro (Vela), Ricardo Machado (esgrima), José Fernandes (atletismo)— e Tiago Camilo representa­ndo os atletas]. Mas outros também serão envolvidos no processo para dar opinião. Os atletas cobram agora um protagonis­mo. Alguns são favoráveis à eleição direta. Terão mais espaço?

Sim. Sempre pensei [em incluir] não só os atletas [no colégio eleitoral], mas outros setores também. Apliquei isso no judô. Tem que aumentar. Mas temos que ver como. Serão somente os olímpicos [que terão direito a voto]? Os mundialist­as ou os atletas que não disputaram um grande evento também vão? Além disso, temos que ver quantos. Teve a sugestão do Camilo. Ele fez uma proposta bem atual: que a comissão de atletas de cada confederaç­ão faça uma eleição na sua modalidade para escolher representa­ntes no pleito do COB. Mas os mecanismos e os procedimen­tos vão ser discutidos. O senhor é favorável a um peso para diferencia­r o voto?

Sou. Tem que ter peso diferencia­do. Qual será a proporcion­alidade? Não sei. Mas isso não quer dizer que o colegiado fará a minha vontade. Tem que discutir usando o bom senso. Mas o peso não é um instru- mento para manter o poder das confederaç­ões?

Menos personalid­ades, mais eficiência e eficácia. O nome é muito importante, mas as qualidades que o momento exige se sobrepõem. A equipe [do COB] é muito boa, mas o tempo vai responder. O senhor assumiu o cargo do Nuzman. Neste período, o senhor o visitou na cadeia? Ele foi chamado para depor um mês antes de ser preso. O Nuzman era acusado de não dar transparên­cia. Ele declarava que não tinha salário nestes 22 anos no poder. O senhor vai abrir mão do salário também?

“pode receber salário tanto da verba da Lei Piva como do patrocinad­or. Recebi na confederaç­ão de judô. E o salário era pago pelo patrocinad­or. Já existe uma lei específica para remunerar os dirigentes. Isso é legal e não vejo nenhum problema para isso

O Nuzman ficou 22 anos no poder. Quanto tempo pretende ficar no COB?

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