Folha de S.Paulo

Mim é a solidão, você voltar ao começo de tudo, sabe?”

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“Eu tento transforma­r tudo em poesia. Porque, senão, como é que você vai sobreviver? Como é que você vai viver pensando nas desgraças da sua vida? Você tem que pensar também na beleza que isso te trouxe.”

Ela diz que vive um momento “de se reinventar”. “Quero outras possibilid­ades de amar, também. Quero encontrar um novo amor, casar de novo. Porque, senão, o Hector ia ficar muito puto. Ele queria me ver feliz, que eu continuass­e minha vida. Ele sabe que eu sou melhor amando. O sentido da nossa existência é isso. É amar.”

“Depois de uma perda, você volta ao autoconhec­imento. Você é obrigado a mergulhar em você de novo. Nos seus fantasmas, naquilo que te falta. Acho que a palavra luto é muito forte. Não acho que é luto. O mais forte pra

Hector, conta, foi o integrante mais recente da “nova família” que construiu com “namorados, amigos e pessoas de teatro” em São Paulo, para onde se mudou após a morte da mãe. Ela diz que, recémchega­da de Campo Bom, uma cidade de 65 mil habitantes no RS, o teatro a “abraçou de uma forma que não conhecia”.

Hoje, há quase um ano fora dos palcos, ela afirma que voltar a fazer peças é “uma questão de sanidade”. “Chega quinta-feira [dia de apresentaç­ões nos teatros], eu não consigo. Começa a ficar uma leve deprê. O teatro realmente é minha segunda casa. Ou talvez minha primeira, porque eu sinto falta do camarim, do cheiro, de estar ali.”

Diz também que pretende dar mais atenção ao trabalho como cineasta. Seu apartament­o tem as paredes repletas de referência­s de cinema, como um trecho do “storyboard” de “A Insustentá­vel Leveza do Ser” (1988). Ela conta que tem roteiros guardados de sua autoria que gostaria de dirigir ou interpreta­r no cinema.

Em uma de suas incursões no ofício, Bárbara subiu o morro da Rocinha para fazer um documentár­io na noite de Natal e passou a ceia com três famílias diferentes, que conheceu no dia. “Eu ainda vou terminar esse meu filme. Mas, na metade da noite, eu já estava parando de filmar porque eu achava que aquilo ali era pra mim, não era um filme.”

Voltou recentemen­te, depois da operação do Exército no morro, para ver se os amigos que fez estavam bem. “Pra que eu vou ter medo? Eu não tenho medo de gente.”

Por outro lado, diz que tem medo da solidão. “[O artista] é muito solitário, né? A gente acaba uma peça e o buraco que dá… A plateia aplaude, a casa cheia, e você vai pra casa ficar sozinho. Dá uma solidão que não dá pra explicar. Tanto que eu falo para as pessoas ficarem para me abraçar no final.”

“E, por ser solitário, [o artista] já é inseguro. Então, precisa de uma pessoa que acredita em você pra você acreditar. Eu preciso. Para mim, a parceria em vida é fundamenta­l. A felicidade existe com um outro, compartilh­ada. A vida é esse ‘dividir’. Eu sou triste sozinha. Sou mais feliz junto.”

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Fotos Ricardo Borges/Folhapress Bárbara Paz em seu apartament­o no Rio de Janeiro
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Com o cineasta Hector Babenco, que morreu em julho de 2016
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