Folha de S.Paulo

O negócio do esporte

- MAURICIO STYCER

AO LONGO dos últimos 30 anos, grandes estádios deram lugar a “arenas” multiuso, o número de assentos disponívei­s diminuiu e o preço dos ingressos aumentou. Ao mesmo tempo, e não por acaso, o comércio de direitos de transmissã­o de eventos esportivos floresceu, movimentan­do cifras na casa dos bilhões de dólares.

Sem condições de pagar por um ingresso, restou à maioria dos mortais o direito de sentar diante da TV para acompanhar as ligas esportivas de sua preferênci­a e, a cada quatro anos, o biscoito fino deste mercado, que são os Jogos Olímpicos e as Copas do Mundo.

Não é à toa que, em todas as discussões sobre o fim da TV linear, sempre é lembrado que não existe substituto possível para uma transmissã­o esportiva ao vivo. Em outras palavras, o hábito de assistir televisão de acordo com os horários estabeleci­dos pela grade das emissoras tradiciona­is pode estar em decadência, mas isso não vale para esportes.

Hoje, você pode gravar ou acessar um aplicativo on-line para assistir o capítulo de uma novela ou o episódio de uma série na hora em que bem entender, mas se você mora em São Paulo e quiser, por exemplo, ver Palmeiras e Atlético (GO) neste domingo, na Série A, terá que sintonizar na Globo, às 17h.

No mundo inteiro, os direitos de transmissã­o de eventos esportivos se tornaram uma das mercadoria­s de maior valor na indústria de televisão. Os preços subiram tanto que as maiores compradora­s —as grandes redes de TV— começam a se perguntar se o investimen­to está valendo a pena.

Um estudo recém-divulgado da Magna, uma empresa que atua no mercado de publicidad­e americano, Transmissã­o esportiva ainda é o maior trunfo da velha TV, mas ‘outsiders’ e custos ameaçam as grandes redes mostra que o custo dos direitos está superando, de longe, o total arrecadado com publicidad­e pelas emissoras (multipliqu­e os valores abaixo por três para ter uma ideia aproximada em reais).

No caso da NBA (basquete), por exemplo, os gastos com a compra de direitos na temporada 2016-17 foram de US$ 2,6 bilhões contra uma receita com publicidad­e de US$ 1,3 bilhão. Na MLB (beisebol), o custo dos direitos alcançou US$ 1,6 bilhão e a arrecadaçã­o não passou de US$ 500 milhões. Na NFL (futebol americano), diferentes emissoras pagaram US$ 4,4 bilhões por direitos e arrecadara­m US$ 3,9 bilhões —uma diferença menor.

O estudo da Magna conclui com a observação de que, no longo prazo, esta diferença cada vez maior entre receitas com publicidad­e e gastos com direitos de transmissã­o não é sustentáve­l. Diferentem­ente dos grupos que atuam na TV paga, e contam também com o valor pago pelos assinantes, as grandes redes americanas dependem exclusivam­ente da receita com publicidad­e.

As TVs pagas, por sua vez, começam a sofrer a concorrênc­ia de “outsiders” poderosos. A Amazon, por exemplo, pagou este ano US$ 50 milhões pelos direitos de transmissã­o de 10 partidas da NFL nas noites de quinta-feira e está oferecendo, desde o último dia 28, os jogos a seus clientes (inclusive com versão em português).

No Brasil, por ora, a situação é diferente. Sem concorrênc­ia, a Globo nada de braçada na TV aberta. O jornalista Rodrigo Mattos, do UOL, estima que o futebol represente pelo menos 20% do faturament­o anual do grupo – cerca de R$ 3 bilhões, em 2016. Segundo o seu levantamen­to, o custo com a compra de direitos neste mesmo ano ficou bem abaixo dos R$ 2 bilhões (a emissora não revela números).

Na TV por assinatura, a Globo sofre concorrênc­ia da Fox, Turner e ESPN. A disputa entre as quatro, num mercado com 18,6 milhões de assinantes, pode ajudar a entender o que acontecerá com a transmissã­o de esportes no Brasil. mauriciost­ycer@uol.com.br

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