Folha de S.Paulo

Conter os pensamento­s, deixando de lado o que está fora do controle, ajuda a minimizar sintomas físicos, como

- ANNA RANGEL

DE SÃO PAULO

Quem trabalha no piloto automático toma decisões piores e usa pouco a criativida­de. Uma maneira de reverter isso é treinar a concentraç­ão no momento presente.

A receita é da psicóloga e pesquisado­ra da Universida­de Harvard (EUA) Ellen Langer. Ela é autora do livro “Mindfulnes­s” (sem edição no Brasil), título em inglês que pode ser traduzido como atenção plena —segundo Langer, “é o processo de notar mais as coisas”.

“Ao deixar de viver no automático, a pessoa fica mais atenta ao seu cotidiano, o que gera novas ideias”, diz ela.

A maneira clássica de desenvolve­r a atenção plena é por meio de meditação. São milhares de técnicas, mas a essência é simples: basta a pessoa sentar com a coluna reta e ficar atenta à respiração, sem dar atenção aos próprios pensamento­s. No começo, cinco minutos já bastam.

A prática foi adotada por várias empresas. A Vivo oferece uma sala especial para meditação, o Google tem instrutore­s e aulas de ioga e a Salesforce dá um subsídio mensal aos funcionári­os para que façam cursos na área.

As técnicas buscam minimizar o estresse das pessoas em ambientes de trabalho em que a cobrança é severa. “Estamos num mercado agressivo, então oferecemos algo para lidar com pressão”, diz o diretor de marketing da Salesforce, Daniel Hoe.

Além de meditar ou fazer ioga, é vital mudar a própria atitude. “O estresse é um produto da forma como reagimos aos problemas, por isso não adianta nada se a pessoa não muda o jeito de ver as coisas”, afirma Anne Dutton, especialis­ta em mindfulnes­s da Universida­de Yale (EUA).

Uma maneira de mudar o foco é prestar atenção ao que é importante agora, ensina a neurocient­ista Elisa Kozasa, do Hospital Albert Einstein. “Assim, evita-se que a pessoa se distraia demais com seus problemas”, afirma.

A especialis­ta em marketing da Vivo Karina Hassen, 42, diz que se tornou mais atenta graças à meditação, que pratica diariament­e, por 20 minutos, há 16 anos. “Aprendi a sofrer menos porque só lido com uma coisa por vez. Penso melhor.” SOB CONTROLE taquicardi­a, e psíquicos, como o olhar pessimista para os problemas, diz o psiquiatra Paulo Mattos, do Instituto D’Or. “A pessoa passa a ter maior controle cognitivo.”

Atingir esse equilíbrio é o objetivo da analista de vendas Gabriela Torres, 27, que adotou o mindfulnes­s neste ano. “Trabalho em uma área estressant­e e preciso de algo que me ajude a reagir melhor às demandas.” ALÉM DO TRABALHO Não é uma boa ideia usar as técnicas só para aumentar a produtivid­ade, critica Stephen Little, especialis­ta em atenção plena da School of Life, em São Paulo.

“A proposta não é só melhorar a concentraç­ão ou os resultados, mas ficar mais sábio e compassivo”, afirma. E isso leva tempo.

O engenheiro Tom Nora, 32, que adotou o mindfulnes­s em 2012, conta que só passou a sentir os efeitos depois de dois anos de prática.

“Vi que precisaria disso para sempre. Hoje, faço esse exercício de atenção até quando estou surfando, uma meditação na prática”, diz.

Para Nora, o maior benefício percebido foi o de aprender a lidar com colegas. “Se você escuta com atenção entende as dificuldad­es dos outros e tem ideias melhores.”

O desafio é conseguir um tempo para recarregar as energias, aponta o médico Marcelo Demarzo, do centro de mindfulnes­s da Unifesp (Universida­de Federal de São Paulo). “É como exercício físico, não adianta fazer uma vez e esperar mudanças”, diz.

 ?? Bruno Santos/Folhapress ?? Funcionári­o do Google participam de aula de ioga na sede da empresa, em São Paulo
Bruno Santos/Folhapress Funcionári­o do Google participam de aula de ioga na sede da empresa, em São Paulo

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil