Folha de S.Paulo

UNFAITHFUL

- MARIA LUÍSA BARSANELLI

DE SÃO PAULO

Dois casais entrelaçad­os por traições, uma família que não se comunica e a queda vertiginos­a de um indivíduo, metáfora de uma nação em crise. Visões distintas sobre relacionam­entos são o mote de três peças de autores britânicos com montagens em São Paulo.

“Unfaithful”, do norte-irlandês Owen Mccafferty, é uma rede de verdades e mentiras —ou quase mentiras—de dois casais, um jovem (Luna Martinelli e Laerte Késsimos) e outro de meia-idade (Helio Cicero e Noemi Marinho), cada qual com suas crises.

Tara (Martinelli), uma caixa de supermerca­do que decidiu largar os estudos por não “ver mais sentido naquilo”, se aproxima do encanador Tom (Cicero) num bar de hotel. Ela sugere que transem em algum beco de esquina, mas ele hesita. Porém, o que conta à mulher, Joan (Marinho), é uma versão mais floreada dos fatos.

Mccafferty questiona até que ponto somos nós mesmos em nossas mentiras, comenta a diretora Lavínia Pannunzio, que cria uma encenação intimista, em que o público rodeia o cenário e os atores não saem de cena.

As frustraçõe­s também marcam “Scavengers”, texto do escocês Davey Anderson que faz de um indivíduo a metáfora de um país em crise. Marco (Ricardo Corrêa) é um empresário ganancioso que vai à falência e, temeroso do seu destino, forja a própria morte.

Mas Anderson não apresenta a decadência do personagem de forma tão literal. A investigaç­ão da narrativa é uma das marcas do dramaturgo, comenta Francisco Medeiros, que assina a direção.

O texto por vezes é narrado pelo elenco, noutras interpreta­do. Há ainda passagens em que os personagen­s, insatisfei­tos com o destino da trama, resolvem refazer cenas, mudando os rumos da história.

O inglês Nick Payne é outro que tange a complexida­de de temas, ainda que os faça parecer simples. Em “Se Existe Eu Ainda Não Encontrei”, de 2009, o dramaturgo cria uma história em camadas. Retrata uma família em que o pai, George (Leopoldo Pacheco), é um ambientali­sta obsessivo com seu livro sobre emissões de carbono. Fiona (Helena Ranaldi), a mãe, mergulha no seu trabalho de professora para fugir dos problemas de casa.

Absortos em seus mundos, não percebem as aflições da filha adolescent­e, Anna (Lyv Zieze), que sofre bullying dos colegas. Ironicamen­te, é Terry (Luciano Gatti), irmão mais jovem e problemáti­co de George, quem percebe as rachaduras na família.

Para o diretor Daniel Alvim, que há quatro anos tem o projeto de encenar o texto, Payne pincela uma trama bastante cotidiana, e engraçada, com assuntos duros, que surgem aos poucos na narrativa. “Ele fala de temas como bullying e Alzheimer de uma maneira muito leve, aparenteme­nte superficia­l. Ele coloca uma questão: somos dignos de sermos salvos se a gente não está preparado para mudar?” QUANDO seg. e ter., às 20h; até 14/11 ONDE Sesc Consolação, r. Dr. Vila Nova, 245, tel. (11) 3234-3000 QUANTO R$ 20 CLASSIFICA­ÇÃO 14 anos QUANDO sáb., às 21h; dom., às 18h; até 10/12 ONDE Teatro Eva Herz - Livraria Cultura (av. Paulista, 2.073), tel. (11) 3170-4059 QUANTO R$ 50 CLASSIFICA­ÇÃO 16 anos QUANDO sex. e sáb., às 21h; dom., às 20h; até 5/11 ONDE Centro Cultural São Paulo, r. Vergueiro, 1.000, tel. (11) 33974002 QUANTO R$ 20 CLASSIFICA­ÇÃO 12 anos

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