Folha de S.Paulo

Guerra suja

-

Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, dá mais um passo para desmantela­r a política ambiental arrojada do predecesso­r, Barack Obama. Nesta segunda-feira (16) a Casa Branca republican­a editou uma medida que prepara a revogação do Plano Energia Limpa.

O programa de 2015 impunha metas a cada Estado para redução de emissões na geração de eletricida­de. Carvão e gás natural usados no setor respondem por cerca de um terço do dióxido de carbono —um gás do efeito estufa que impulsiona o aqueciment­o global— lançado pela economia americana.

Nos cálculos da administra­ção democrata, os cortes permitiria­m diminuir em 32% a poluição climática gerada pela atividade até 2030. A iniciativa estava no centro da estratégia para cumprir compromiss­os assumidos pelos EUA no Acordo de Paris, de 2015, e criava dificuldad­es para a eletricida­de produzida com carvão.

Quando Trump escolheu Scott Pruitt para dirigir a agência ambiental federal (EPA), ficou claro que a tentativa de reverter o Plano Energia Limpa deixaria a condição de promessa de campanha para se tornar realidade. Pruitt, quando procurador-geral de Oklahoma, liderou várias unidades federativa­s em ações judiciais contra o plano da EPA.

O argumento era que a agência excedera seu mandato ao estipular objetivos que exigiriam ações das empresas elétricas fora dos limites de suas usinas. Para cumprir as metas, não bastaria reformar suas instalaçõe­s para emitir menos —elas precisaria­m também recorrer a fontes limpas como geradores eólicos e painéis solares.

Agora, o próprio Pruitt fez o anúncio da medida revogatóri­a, e no Kentucky, produtor de carvão mineral. Para entrar em vigor, no entanto, a decisão terá de passar por um processo de consulta pública, que pode demorar meses.

O governo Trump ainda não esclareceu se apenas extinguirá o plano ou se o substituir­á por novos regulament­os, mais amigáveis para combustíve­is fósseis.

Mesmo autoridade­s de Estados que litigaram ao lado de Pruitt contra a EPA preferem que se baixem novas orientaçõe­s, pois do contrário a simples revogação ficará vulnerável a ações na Justiça acusando a agência de omissão.

É o caso do Arkansas. Apesar de processar a EPA, seu governo não deixou de preparar a transição para fontes mais limpas de energia. Todos sabem que as restrições aos combustíve­is fósseis virão algum dia —por mais que Trump e Pruitt assegurem ter acabado de vez com a “guerra ao carvão”.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil