Folha de S.Paulo

Em carta a políticos, Temer se diz vítima de ‘conspiraçã­o’

CCJ da Câmara deve votar até quinta parecer sobre denúncia contra presidente

- MARINA DIAS DANIEL CARVALHO

Segundo assessores, documento pretendia alertar sobre o poder conferido ao Ministério Público Federal

O presidente Michel Temer decidiu apelar para o espírito de corpo dos parlamenta­res e enviar uma carta, em caráter pessoal, a deputados e senadores da base para tentar se livrar de mais uma denúncia contra ele, que deve ser votada até o fim deste mês no plenário da Câmara.

Com a nova crise provocada pela divulgação dos vídeos da delação premiada do operador Lúcio Funaro, que implicam diretament­e o presidente, Temer resolveu redigir um longo texto no fim de semana em que se diz “vítima” de uma “conspiraçã­o” para tirá-lo do cargo.

A carta, que foi encaminhad­a nesta segunda (16) aos gabinetes do Congresso e a governador­es, vereadores e dirigentes do PMDB, tem o objetivo, segundo assessores do Planalto, de convencer os parlamenta­res de que é preciso barrar o avanço do poder conferido ao Ministério Público Federal e ao Judiciário com o avanço da Lava Jato.

“Jamais poderia acreditar que houvesse uma conspiraçã­o para me derrubar da Presidênci­a da República. Mas os fatos me convencera­m. E são incontestá­veis”, diz.

No documento, Temer admite que está fazendo um “desabafo”, com críticas ao exprocurad­or-geral da República Rodrigo Janot e aos delatores Joesley Batista, da JBS, e Funaro. Ele desqualifi­ca as delações e diz que elas têm o intuito apenas de atingi-lo.

Segundo o presidente, Janot participou de forma ativa de uma “trama”, com a ajuda do procurador Marcello Miller, para fechar a delação da JBS com o objetivo de tirar o peemedebis­ta do Planalto.

Aos parlamenta­res, o presidente afirma que está defendendo sua honra e que Janot queria impedir que ele nomeasse um novo titular para a Procurador­ia-Geral da República e “ser ou indicar” o novo candidato à Presidênci­a.

Temer cita na carta a entrevista do procurador Ângelo Goulart Vilela à Folha em que ele diz ter permanecid­o preso durante 76 dias, sem que fosse ouvido: “Nela [entrevista], evidenciou que o único objetivo do ex-procurador-geral era derrubar o presidente da República [...] Veja que trama”.

Temer afirma ainda que as

pela Constituiç­ão, cabem aos deputados autorizar o Supremo Tribunal Federal a analisar a denúncia, com o voto de pelo menos Caso isso não ocorra, o caso fica congelado até o fim do mandato de Temer, em 31 de dezembro de 2018 Temer e dois de seus ministros: (Casa Civil) e (Secretaria-Geral) declaraçõe­s do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso em Curitiba há quase um ano, à revista “Época” indicam que a delação de Funaro só foi aceita porque a de Cunha não entregava o presidente.

“Esta negativa levou o procurador Janot a buscar alguém disposto a incriminar o presidente. Que, segundo o ex-deputado, mentiu na sua delação para cumprir com as determinaç­ões da PGR. Ressaltand­o que ele, Funaro, sequer me conhecia.”

A carta começou a ser distribuíd­a apenas dois dias depois de a Folha divulgar vídeos de depoimento­s de Funaro, que implicam Temer em diversos crimes.

A delação de Funaro foi usada por Janot para embasar a segunda denúncia contra o presidente, desta vez por obstrução de Justiça e formação de organizaçã­o criminosa, acusação que recai também sobre os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral).

Auxiliares do presidente acreditam que, com a carta, os deputados da base —mesmo insatisfei­tos com promessas não cumpridas pelo governo, como liberação de cargos e emendas—, tenderão a barrar a segunda denúncia.

Nas palavras de um ministro, Temer quis mostrar que estava “lavando a alma”, numa espécie de desabafo.

Aliados do presidente dizem que é preciso não deixar que se alastre pela base a polêmica deflagrada com as críticas do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), à defesa do peemedebis­ta.

Maia embarca na quarta (18) para o Chile, onde terá agenda oficial. Este é justamente o dia previsto para a votação na CCJ sobre a denúncia contra Temer, cujos debates terão início nesta terça (17).

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O presidente Michel Temer, alvo de duas denúncias da Procurador­ia-Geral da República, durante evento em São Paulo

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