Em carta a políticos, Temer se diz vítima de ‘conspiração’
CCJ da Câmara deve votar até quinta parecer sobre denúncia contra presidente
Segundo assessores, documento pretendia alertar sobre o poder conferido ao Ministério Público Federal
O presidente Michel Temer decidiu apelar para o espírito de corpo dos parlamentares e enviar uma carta, em caráter pessoal, a deputados e senadores da base para tentar se livrar de mais uma denúncia contra ele, que deve ser votada até o fim deste mês no plenário da Câmara.
Com a nova crise provocada pela divulgação dos vídeos da delação premiada do operador Lúcio Funaro, que implicam diretamente o presidente, Temer resolveu redigir um longo texto no fim de semana em que se diz “vítima” de uma “conspiração” para tirá-lo do cargo.
A carta, que foi encaminhada nesta segunda (16) aos gabinetes do Congresso e a governadores, vereadores e dirigentes do PMDB, tem o objetivo, segundo assessores do Planalto, de convencer os parlamentares de que é preciso barrar o avanço do poder conferido ao Ministério Público Federal e ao Judiciário com o avanço da Lava Jato.
“Jamais poderia acreditar que houvesse uma conspiração para me derrubar da Presidência da República. Mas os fatos me convenceram. E são incontestáveis”, diz.
No documento, Temer admite que está fazendo um “desabafo”, com críticas ao exprocurador-geral da República Rodrigo Janot e aos delatores Joesley Batista, da JBS, e Funaro. Ele desqualifica as delações e diz que elas têm o intuito apenas de atingi-lo.
Segundo o presidente, Janot participou de forma ativa de uma “trama”, com a ajuda do procurador Marcello Miller, para fechar a delação da JBS com o objetivo de tirar o peemedebista do Planalto.
Aos parlamentares, o presidente afirma que está defendendo sua honra e que Janot queria impedir que ele nomeasse um novo titular para a Procuradoria-Geral da República e “ser ou indicar” o novo candidato à Presidência.
Temer cita na carta a entrevista do procurador Ângelo Goulart Vilela à Folha em que ele diz ter permanecido preso durante 76 dias, sem que fosse ouvido: “Nela [entrevista], evidenciou que o único objetivo do ex-procurador-geral era derrubar o presidente da República [...] Veja que trama”.
Temer afirma ainda que as
pela Constituição, cabem aos deputados autorizar o Supremo Tribunal Federal a analisar a denúncia, com o voto de pelo menos Caso isso não ocorra, o caso fica congelado até o fim do mandato de Temer, em 31 de dezembro de 2018 Temer e dois de seus ministros: (Casa Civil) e (Secretaria-Geral) declarações do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso em Curitiba há quase um ano, à revista “Época” indicam que a delação de Funaro só foi aceita porque a de Cunha não entregava o presidente.
“Esta negativa levou o procurador Janot a buscar alguém disposto a incriminar o presidente. Que, segundo o ex-deputado, mentiu na sua delação para cumprir com as determinações da PGR. Ressaltando que ele, Funaro, sequer me conhecia.”
A carta começou a ser distribuída apenas dois dias depois de a Folha divulgar vídeos de depoimentos de Funaro, que implicam Temer em diversos crimes.
A delação de Funaro foi usada por Janot para embasar a segunda denúncia contra o presidente, desta vez por obstrução de Justiça e formação de organização criminosa, acusação que recai também sobre os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral).
Auxiliares do presidente acreditam que, com a carta, os deputados da base —mesmo insatisfeitos com promessas não cumpridas pelo governo, como liberação de cargos e emendas—, tenderão a barrar a segunda denúncia.
Nas palavras de um ministro, Temer quis mostrar que estava “lavando a alma”, numa espécie de desabafo.
Aliados do presidente dizem que é preciso não deixar que se alastre pela base a polêmica deflagrada com as críticas do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), à defesa do peemedebista.
Maia embarca na quarta (18) para o Chile, onde terá agenda oficial. Este é justamente o dia previsto para a votação na CCJ sobre a denúncia contra Temer, cujos debates terão início nesta terça (17).