Em carta a relator da Lava Jato, Joesley defende acordo de delação
“Os bancos obrigaram o PT a beijar a cruz. Eu não vou beijar. Se não der, vou ficar assistindo de fora.” Ciro Gomes, pré-candidato do PDT à Presidência em 2018, assim traçou a diferença de seu pensamento econômico com o dos governos Lula, de quem foi ministro da Integração Nacional (2003 a 2006), e Dilma.
Ele falava, na segunda-feira (16), a estudantes da Faculdade de Economia e Administração da USP sobre seu “antagonismo com o rentismo” e sobre a disposição em trazer os “juros para um padrão menor”.
Ex-governador do Ceará e ex-ministro da Fazenda de Itamar Franco, Ciro Gomes defendeu, além da diminuição dos juros, “um ciclo de reindustrialização forçada”.
Sua agenda, diz, “converge iniciativa privada e Estado saneado”, oferecendo crédito e renúncia fiscal a setores que considera estratégicos: agronegócio, saúde, defesa e indústria de óleo e gás.
“Temos que introduzir no debate um modelo tributário não com a ilusão de que temos carga tributária grande demais —e até temos, mas ela é gravemente regressiva”, afirmou Ciro. Para ele, é necessário discutir a tributação sobre heranças e doações.
“Sobre o povo mais pobre, ela [carga tributária] chega a 42% [da renda]. Sobre os ricos, não passa de 12%.”
Essas ideias ainda integrarão seu programa de governo, a ser discutido com futuros aliados: “Quando eu for entrar numa aliança, os partidos consultados vão dizer se isso não é oportuno”.
Estarão, porém, em um novo livro sobre política econômica que o presidenciável pretende lançar até 2018.
Nesse meio tempo, Carlos Lupi, presidente nacional do PDT, costura os palanques regionais, com 11 candidaturas majoritárias (a senado ou governo estadual) definidas. DISPUTA POLÍTICA Sem Lula, Ciro tem 10% das intenções de voto para presidente, segundo a última pesquisa Datafolha. É o mesmo patamar de Geraldo Alckmin e João Doria, ambos do PSDB. Com o petista, fica com 4% da preferência —o ex-presidente lidera, com 35%.
À Folha o pedetista disse apostar que “em dezembro, [Doria] está fora do baralho”: “Ele não é do ramo. Torrou o orçamento de São Paulo, queimou as pontes. Perdeu o timing para fazer acordo por dentro [do partido] e ser eventualmente candidato a gover- nador. Colidiu com o cara que o inventou e passou para a população a ideia de que é carreirista, não tem compromisso”.
Alckmin, diz Ciro, pode ser afetado pelos “erros” do PSDB, “que está segurando
CIRO GOMES
pré-candidato do PDT nas alças do caixão do governo Temer”.
Sobre Lula, o pedetista comenta que espera que o expresidente seja absolvido, “mas entenda que a candidatura dele é um desserviço a ele e ao país”, porque “passionaliza o ambiente” com “ódios, rancores e violência”.
Para Ciro, o ex-presidente deveria “convocar um grande debate que unificasse as forças progressistas do país”.
“Ele daria o maior exemplo de liderança, de preocupação com o país e não com mero petismo frustrado com a onda antipetista”, afirmou.
Lula deveria apoiar Ciro Gomes? “Não digo necessariamente, senão perco a moral da tese. Evidentemente, não se inventarão candidatos. Mas eu me ponho como um dos possíveis. Não me ponho como o candidato. Digo que depende do PDT, só.” DE BRASÍLIA - O empresário Joesley Batista, da JBS, enviou uma carta ao ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal defendendo a manutenção de seu acordo de delação premiada.
Em setembro, a Procuradoria-Geral da República anunciou o rompimento do acordo e denunciou Joesley, que foi preso. Cabe ao ministro homologar a rescisão do contrato.
O centro da crise da delação da JBS é uma gravação, datada de 17 de março, em que Joesley e o executivo Ricardo Saud, também preso, falam de possível atuação do ex-procurador Marcello Miller no acordo de delação quando ainda atuava no Ministério Público —ele deixou o cargo oficialmente em 5 de abril. O áudio foi entregue pelos delatores à PGR no dia 31 de agosto.
Na carta, Joesley diz que a gravação trata de uma infeliz conversa “de dois amigos em ambiente privado”, que sob “efeito de bebida alcoólica jogam conversa fora, fazem brincadeiras”.
“Quero ainda pedir desculpas por quatro horas de uma conversa que me envergonho profundamente”, diz o texto. O documento foi publicado pelo site Jota e a Folha também teve acesso ao material.
Joesley negou ter ocultado gravações no exterior e diz que jamais prometeu pagar Marcello Miller por serviços ilícitos.
“que Lula é capaz de, se for absolvido, liderando pesquisa, entender que deveria convocar um debate que unificasse as forças progressistas. Ele daria o maior exemplo de liderança