Apoio a governo militar no Brasil é maior do que a média, diz pesquisa
Em estudo de entidade americana, 23% afirmaram não gostar da democracia representativa
Levantamento do centro de pesquisas Pew ouviu 41,6 mil pessoas em 38 países de cinco continentes
A parcela de brasileiros que apoia pelo menos uma forma de governo “não democrática” e que mostra simpatia por militares no poder é maior do que a média global, segundo um levantamento realizado pelo americano Centro de Pesquisas Pew em 38 países e publicado nesta segunda (16).
Segundo a pesquisa, 23% dos entrevistados no Brasil dizem não gostar da democracia representativa e apoiam ao menos uma das três formas de governo: tecnocrático, militar ou com um “líder forte”. Nos 38 países, a média é de 13%, com 23% dizendo descartar formas de governo “não democráticas”.
Se contabilizados os brasileiros que consideram a democracia representativa “boa” mas também apoiam ao menos uma forma de governo “não democrática”, a parcela do país que considera válido um regime militar, tecnocrático ou autoritário sobe para 62%.
O levantamento foi feito de fevereiro a maio com 41.593 pessoas nos 38 países de cinco continentes. No Brasil, foram entrevistadas 1.008 pessoas, entre março e abril, com margem de erro de 4,7 pontos percentuais.
Quando a pergunta é feita especificamente sobre um governo militar, 38% dizem que a opção seria boa no Brasil, contra 55% que se opõem. Em todos os demais países, a média é de 24% de apoio.
O índice do Brasil é semelhante ao de países como Senegal e Tanzânia e maior do que a média de 31% de apoio a governos militares na América Latina —onde foram considerados, além do Brasil, Argentina, Colômbia, México, Chile, Peru e Venezuela.
Em todo o mundo, a simpatia pela ideia dos militares no poder é maior entre quem tem um grau de escolaridade menor, com uma diferença que chega a até 23 pontos percentuais entre os dois grupos, como é o caso no Peru.
No Brasil, 45% dos entrevistados que não tinham completado o ensino médio se disseram favoráveis a esse tipo de governo, enquanto o apoio entre os que tinham essa etapa completa é de 29%.
“Há uma diferença de opinião sobre esse tema entre faixas etárias, o que não ocorre em muitos países. No Brasil, a geração mais velha tende a ver um governo militar de forma mais positiva”, destaca Katie Simmons, diretora-assistente de pesquisas do Pew.
Apesar de mais de um terço dos brasileiros entrevistados se dizer favorável a um governo militar, 63% afirmam ser “ruim ou muito ruim” um governo autocrático. A média de todos os países é ainda mais alta: 71%, com os países europeus puxando o número, com 86% reprovando, em média, esse tipo de modelo.
Segundo Simmons, no Brasil, a visão negativa em relação à democracia representativa é em grande parte uma resposta à insatisfação com a forma como Executivo e Legislativo funcionam hoje.
Em 2013, o Pew havia feito, em outra pesquisa, uma pergunta sobre a democracia no país, e 66% dos brasileiros entrevistados se diziam satisfeitos com o sistema —contra 28% hoje.
“Em alguns casos, essa avaliação está atrelada a questões econômicas, mas, no Brasil, ela é mais uma resposta ao sistema democrático vigente”, disse a pesquisadora do Pew à Folha.
Os números refletem a insatisfação no Brasil com o sistema atual. Segundo o levantamento, 33% dos brasileiros avaliam como “ruim” a democracia representativa e só 8% a consideram “muito boa”. A rejeição é maior do que em todos os seis países africanos, os dez europeus e os seis asiáticos incluídos na pesquisa.
O Brasil teve ainda um dos mais baixos índices de confiança de que o governo faz “o que é certo para o país”: 2% disseram acreditar “muito” nisso, e 22% afirmam acreditar em parte. Na Venezuela, os entrevistados se mostram mais confiantes: 29% declaram confiar no governo, com 14% dizendo confiar muito.