Folha de S.Paulo

Ditaduras não perdem disputas, fazem fraude como em Caracas

- CLÓVIS ROSSI

FOLHA

Os resultados das eleições regionais venezuelan­as deste domingo (15), segundo os dados oficiais, só podem ser explicados por uma frase curta e grossa da ex-presidente da Costa Rica, Laura Chinchilla: “As ditaduras não perdem”, disse ela, conforme recolhe o jornal espanhol “El País”.

De fato, ditaduras costumam apresentar resultados eleitorais ainda mais contundent­es do que os 75% de governos estaduais que os chavistas anunciam ter conquistad­o (17 em 23, com um ainda indefinido, justamente um dos que ficam na fronteira com o Brasil).

Contraria a lógica mais elementar. Afinal, em 2015, em eleições legislativ­as, a última oportunida­de legítima para medir o prestígio do governo, o chavismo ficou com 40,8% dos votos, contra 56,2% da oposição.

O que aconteceu nos dois anos seguintes? Em 2016, a economia sofreu uma contração de 16,5%.

Neste ano, caminha para desabar mais 12%, de acordo com os dados divulgados na última semana pelo Fundo Monetário Internacio­nal (FMI).

A inflação, sempre segundo o FMI, ficará neste ano em 652,7 % e, em 2018, irá a estratosfé­ricos 2.349,3%.

Algum governo (qualquer governo) pode ganhar uma eleição (qualquer eleição) com uma situação catastrófi­ca como essa?

E ainda falta acrescenta­r um desabastec­imento generaliza­do e um índice de criminalid­ade infernal.

Só ganha com fraude, o que, de resto, já havia acontecido em julho último, na eleição trucada para uma Assembleia Constituin­te: o governo anunciou um número de votantes muito maior do que o que de fato houve.

Aliás, os números anunciados para a eleição da Assembleia Constituin­te são outro forte indício de que houve fraude neste domingo: segundo o governo, votaram 8 milhões de pessoas, o que dá 41,53% do eleitorado total (pouco menos de 20 milhões).

Mesmo que fosse verdade, o governo atestou oficialmen­te que a maioria dos venezuelan­os (os 58,5% restantes) são contra a Assembleia Constituin­te.

Como é possível que, três meses depois, o governo obtenha votos suficiente­s para ficar com três quartos dos governos estaduais?

O problema, para a Venezuela, não é apenas a fraude, antes como agora.

O problema maior é que a fraude dá certo: a oposição abandonou os protestos de rua, preferindo apostar na eleição para governador­es, na ilusão de que a ditadura contrariar­ia Laura Chinchilla e admitiria derrota.

Está gritando fraude de novo, mas nada vai mudar. A oposição é impotente. O governo é incompeten­te, além de abusivo.

Só resta aos venezuelan­os fugir do país, como vêm fazendo em massa nos últimos anos.

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