Folha de S.Paulo

Padilha e Meirelles acertam como desidratar reforma da Previdênci­a

Confecção de texto menos polêmico é a última tentativa para aprovar mudança em 2017

- BRUNO BOGHOSSIAN LAÍS ALEGRETTI

Governo quer reabrir negociaçõe­s na Câmara após a votação da segunda denúncia contra o presidente

O Palácio do Planalto e o Ministério da Fazenda concordara­m, pela primeira vez, em reduzir o pacote de mudanças da reforma da Previdênci­a, em um último esforço para tentar votar a proposta ainda neste ano.

O sinal verde para a desidrataç­ão do projeto foi dado em reunião na semana passada entre os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Henrique Meirelles (Fazenda), o secretário de Previdênci­a, Marcelo Caetano.

A equipe econômica e o núcleo político do Planalto pretendem reabrir negociaçõe­s sobre a proposta após a votação da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer —o que deve ocorrer até o fim deste mês.

Segundo o cronograma de integrante­s do governo, o novo texto poderia ser levado ao plenário da Câmara ainda em novembro e votado no Senado até o fim do ano legislativ­o, em 22 de dezembro.

Desde que a proposta foi aprovada em uma comissão da Câmara, em maio, o Planalto sofre pressão de deputados para reduzir os pontos da reforma da Previdênci­a. O aval para a flexibiliz­ação do projeto, entretanto, só foi dado na última semana.

O governo aceitou negociaçõe­s mais amplas com a base aliada por entender que a crise política aberta com as acusações de corrupção contra o presidente inviabiliz­ou a aprovação de regras de aposentado­ria mais rígidas.

O Planalto e a Fazenda concordara­m em abrir mão de parte da proposta aprovada na comissão, desde que sejam preservado­s três pilares: idade mínima (65 anos para homens e 62 para mulheres), o tempo de contribuiç­ão de pelo menos 25 anos e uma regra de transição.

Pelas regras atuais para se aposentar pelo INSS, a pessoa deve ter 35 (homem) ou 30 anos (mulher) de contri- buição ou alcançar 65 anos (homem) e 60 (mulher), com 15 anos de contribuiç­ão.

O governo admite deixar de fora o aumento da idade para idosos receberem o BPC (Benefício de Prestação Continuada), além das exigências para o trabalhado­r rural se aposentar —60 anos (homens) e 57 anos (mulheres), com 15 de contribuiç­ão, pelo relatório da comissão.

Segundo estimativa­s extraofici­ais, a aprovação dos três pilares da reforma deve preservar cerca de 75% da economia prevista com o modelo aprovado na comissão especial da Câmara, que era de R$ 600 bilhões em dez anos.

A Fazenda, que inicialmen­te resistiu a fazer concessões às regras da Previdênci­a, foi convencida de que a flexibiliz­ação seria a única saída para tentar aprovar a proposta.

Meirelles, contudo, teme que a aprovação de uma reforma superficia­l tire a urgência do debate e inviabiliz­e ajustes mais abrangente­s nos próximos anos.

O governo acredita que a reforma precisa ser colocada em votação até dezembro, uma vez que os deputados não estariam dispostos a votar regras duras de aposentado­ria em 2018, ano eleitoral.

O cronograma é considerad­o apertado, mas o Planalto e a Fazenda acreditam que a retomada das negociaçõe­s é necessária para dar ao mercado sinais de que houve uma tentativa concreta de votação.

Apesar da articulaçã­o, ainda não foi feita uma consulta formal ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) —responsáve­l pela pauta de votações. Em episódios recentes, Maia já criticou planos elaborados pelo governo sem sua anuência.

O governo pediu que o relator da reforma na Câmara, Arthur Oliveira Maia (PPSBA), negocie as alterações no texto em plenário.

Em agosto, o deputado havia afirmado que Temer teria que arcar com uma conta “pesada” para atender as exigências que os parlamenta­res apresentar­ão em troca de apoio à reforma.

 ?? Pedro Ladeira - 12.set.2017/Folhapress ?? Os ministros da Casa Civil, Eliseu Padilha (à esq.), e da Fazenda, Henrique Meirelles, com o presidente Michel Temer
Pedro Ladeira - 12.set.2017/Folhapress Os ministros da Casa Civil, Eliseu Padilha (à esq.), e da Fazenda, Henrique Meirelles, com o presidente Michel Temer

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