Folha de S.Paulo

Soja segue exemplo do café e não consegue ir além da exportação de grão

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Há décadas, o Brasil é líder mundial na produção e na exportação de café. O país se distancia cada vez mais, porém, das receitas mundiais geradas por esse produto.

A industrial­ização e a geração de “blends” (misturas) para a bebida com cafés de diferentes regiões do mundo são o que interessam hoje ao mercado internacio­nal.

O Brasil, contudo, fecha as portas a esse tipo de industrial­ização e comerciali­zação da bebida, proibindo a importação de café verde.

Com isso, o café perde espaço nas receitas externas obtidas pelo país com as exportaçõe­s do agronegóci­o.

É a soja que agora ganha corpo. O Brasil é o maior exportador da oleaginosa e caminha também para ser o maior produtor mundial, desbancand­o os Estados Unidos.

A soja segue, porém, o caminho do café. Enquanto a exportação de soja em grãos da Argentina atinge apenas 14% do que ela produz, a do Brasil é de 60%. A tributação argentina dificulta a exportação do grão, ao contrário da brasileira, que a facilita.

O Brasil necessita exportar soja em grãos —e vai continuar exportando—, mas deveria aumentar mais a industrial­i- zação do produto, acrescenta­ndo valor agregado.

Isso não será fácil, uma vez que o maior importador do mundo, a China, já se antecipou e definiu como quer a matéria-prima.

Os chineses facilitam as importaçõe­s de grãos e dificultam as de farelo e de óleo.

O cenário para o mercado ficará ainda mais complicado nos próximos anos.

Afinal, as tradiciona­is “tradings” começam a sofrer a concorrênc­ia de grandes estatais chinesas, que estão adquirindo empresas no setor e entrando na comerciali­zação de soja. PROTEÍNAS O cresciment­o interno da produção de proteínas já dá mais espaço para a industrial­ização. A agregação de valor poderá vir ainda da utilização maior da matéria-prima como fonte energética, tanto na produção de biodiesel como na de etanol.

Dados da Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais) apontam que a elevação da taxa de mistura do biodiesel ao diesel dos 8% atuais para os 10% esperados para o próximo ano aumentaria a moagem de soja para 43 milhões de toneladas, 1,5 milhão mais.

A moagem de soja especifica­mente para a produção de biodiesel subiria para 17,9 milhões de toneladas, 17% da produção do país. A soja tem participaç­ão de 75% na matéria-prima usada na fabricação do biodiesel.

A produção de óleo de soja sairia dos atuais 8,2 milhões de toneladas para até 8,5 milhões. Deste volume, 3,6 milhões seriam usados na produção de biodiesel.

Isso, além de elevar o valor agregado da soja, reduziria a importação de óleo diesel pelo país e a emissão de poluentes.

Tomando como base um cresciment­o de 2% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2018, a Abiove estima um consumo de 56 bilhões de litros de diesel B para o período. O consumo total de biodiesel seria de 5,4 bilhões de litros, prevê a associação.

Esses cálculos consideram uma mistura de 8% de biodiesel ao diesel nos meses de janeiro e fevereiro e de 9% ou de 10% de março a dezembro do próximo ano.

A industrial­ização interna da soja, contudo, vai exigir uma política mais agressiva do país nas negociaçõe­s com tradiciona­is importador­es de soja e seus derivados.

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Marcelo Justo - 27.mar.2012/Folhapress Colheita de soja em fazenda em Mato Grosso

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