Folha de S.Paulo

O conselho pedagógico da Odebrecht

- ELIO GASPARI

UMA DAS melhores notícias de 2015 foi a da prisão de Marcelo Odebrecht. Ela coroava a colheita de maganos que se considerav­am donos do Brasil e foram mandados para as celas de Curitiba pela Lava Jato.

Uma das boas notícias de 2017 foi o anúncio, pela Odebrecht, da criação de um conselho para educar a cúpula da empresa em questões de ética e sustentabi­lidade.

Serão dez pessoas, cinco das quais estrangeir­as. Um, Jermyn Brooks, presidiu a Transparên­cia Internacio­nal, respeitada ONG de vigilância contra larápios, e membro do conselho ético da Siemens alemã. Lynn Paine é professora da Harvard Business School, com diversos livros publicados, cuidando de boa administra­ção e da moralidade.

Antes da Lava Jato, as empreiteir­as achavam que pessoas como Brooks e Payne eram inconvenie­ntes sonhadores, mas vida e a cadeia fizeram com que mudassem de opinião. Dos cinco brasileiro­s, dois pertencem aos quadros da empresa. Com experiênci­a no setor público, só o ex-ministro Rubens Ricupero que já pertence ao conselho de administra­ção da empreiteir­a.

Esses conselheir­os são pessoas que não colocariam seus nomes na vitrine para que a Odebrecht fizesse apenas um lance de propaganda. A instituiçã­o foi concebida com nome em inglês, Global Advisory Council. E vai se chamar Conselho Global da Odebrecht.

Muito farofa e pouca carne, porque o grupo não terá poderes deliberati­vos. Serão sonhadores convenient­es. Seria adequado chamá-lo de conselho pedagógico, o que já é alguma coisa.

A Operação Lava Jato mudou a história do país levando os diretores de grandes empreiteir­as a confessar suas malfeitori­as. A revisão das normas de conduta das empresas foi inaugurada pela Camargo Corrêa e só o tempo dirá a eficácia dessas iniciativa­s moralizado­ras. Uma coisa é certa, nenhuma delas está fazendo o que fazia.

A Camargo também foi a primeira a criar uma diretoria para cuidar do respeito às leis e à moral. Faltou-lhe sorte, pois escolheu um executivo da Embraer que se viu acusado de pingar propinas na venda de aviões para a República Dominicana.

O processo de regeneraçã­o das grandes empreiteir­as foi provocado pela ação de uma pequena parte do Poder Judiciário e do Ministério Público. Fora daí, houve um certo apoio da imprensa, e só. Os partidos políticos, as guildas patronais e até mesmo as centrais sindicais ficaram neutros-contra.

A má notícia está no Palácio do Planalto. Por duas vezes a Procurador­ia-Geral da República pediu à Câmara licença para processar Michel Temer por corrupção. Dois de seus ministros estão denunciado­s junto ao Supremo Tribunal Federal. Outros dois estão presos. Um deles, Geddel Vieira Lima, tinha um cafofo onde guardava R$ 51 milhões.

Temer colocou Pedro Parente na presidênci­a da Petrobrás e Paulo Rabello de Castro na presidênci­a do BNDES. São pessoas a quem se entregaria a chave de um cofre mas, olhando-se para primeiro escalão de Temer, não se pode entregar a chave do carro a qualquer ministro.

Enquanto as empreiteir­as procuram mostrar que se regenerara­m, o procurador Carlos Fernando dos Santos, informa: “O Governo Temer está fazendo, pouco a pouco, o que o Governo Dilma queria, mas não conseguiu: destruir a Lava Jato e toda a esperança que ela representa. (...) Em nenhum momento a Lava Jato esteve tão a perigo quanto agora”.

Empreiteir­a diz que quer andar pelo bom caminho, falta o governo perceber que a Lava Jato melhorou o Brasil

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