Folha de S.Paulo

Macri versus Cristina

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Os argentinos renovarão, neste domingo (22), um terço das cadeiras do Senado e quase metade da Câmara dos Deputados. A despeito da vitória esperada no pleito, as forças governista­s não conseguirã­o reverter a condição de minoria nas duas Casas.

Voltam-se as atenções sobre o desempenho da ex-presidente Cristina Kirchner, hoje na oposição.

Candidata a senadora pela província de Buenos Aires, ela encabeça chapa que deve ser derrotada por pequena margem, apontam as pesquisas, pela da coalizão Cambiemos, do presidente Mauricio Macri. Como há três vagas em disputa, a líder populista provavelme­nte ocupará o assento reservado ao segundo partido mais votado.

Isso posto, tanto o oficialism­o quanto o próprio kirchneris­mo tentam mensurar a atual capacidade de mobilizaçã­o da política que liderou a Argentina de 2003 a 2015 —contados os quatro anos do mandato de Néstor Kirchner, marido de Cristina, morto em 2010.

A ex-presidente vê no Legislativ­o o palanque ideal para consolidar seu plano de voltar à Casa Rosada nas eleições de 2019. Conta, a seu favor, com a maior bancada no Senado, o que obriga o macrismo a negociar com seus representa­ntes cada projeto do governo.

Parte de seus apoiadores teme, porém, que ela não tenha mais fôlego político para enfrentar Macri, que provavelme­nte buscará a reeleição. Recente levantamen­to indicou rejeição a Cristina Kirchner em torno de 60%; o fato de não ter feito seu sucessor em 2015 contribui, claro, para a desconfian­ça.

Outro obstáculo é o risco de ver suas ambições inviabiliz­adas pela Justiça. O ex-ministro do Planejamen­to e hoje deputado federal Julio De Vido, um dos homens mais fortes do antigo governo, será preso preventiva­mente por chefiar um esquema de corrupção, caso a Câmara retire seu foro privilegia­do.

Dada a proximidad­e de De Vido com os negócios da antiga chefe, não se descarta a hipótese de que ela também seja condenada até a disputa pelo Executivo.

Macri, por sua vez, deve se fortalecer com a esperada vitória neste pleito legislativ­o. Entretanto ainda terá de converter em benefício real aos mais pobres as reformas em curso para se postular como favorito daqui a dois anos —seja contra Cristina Kirchner ou não.

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