Folha de S.Paulo

A editora de fato vendia os livros, com períodos de vendas

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Marco Aurélio Vitale, por sete anos diretor comercial do grupo empresaria­l de Jonas Suassuna, disse em entrevista à Folha que firmas foram usadas como fachada para receber recursos da Oi direcionad­os a Fábio Luís Lula da Silva, filho do ex-presidente Lula, e seus sócios.

De acordo com ele, o Grupo Gol —que atua nas áreas editorial e de tecnologia e não tem relação com a companhia aérea de mesmo nome— mantinha contratos “sem lógica comercial” tendo como único objetivo injetar recursos da empresa de telefonia nas firmas de Suassuna.

“A Gol conseguiu um tratamento que não existe dentro da operadora”, afirma.

As empresas de Suassuna receberam R$ 66,4 milhões da Oi entre 2004 e 2016, segundo relatório da PF.

O empresário é dono de metade do sítio em Atibaia (SP) atribuído a Lula. No terreno de sua propriedad­e não houve reformas —só a instalação de uma cerca— o que o livrou de ser denunciado pelo Ministério Público Federal.

Suassuna iniciou a relação comercial com a família de Lula em 2007, quando se tornou sócio da Gamecorp, de Lulinha, Kalil Bittar (irmão de Fernando Bittar, dono da outra metade do sítio) e da Oi.

Vitale falou à Folha após ser intimado pela Receita Federal, onde afirma ter apontado irregulari­dades nas empresas. Ele diz não ter participad­o de atos ilícitos e quer escrever um livro, cujo nome provisório é “Sócio do filho”.

Ele foi funcionári­o do Grupo Folha, que edita a Folha, entre os anos de 1992 e 2001 na área comercial, sem ligação com a Redação. Foi quando conheceu Suassuna, que vendeu CDs da Bíblia na voz de Cid Moreira em jornais, projeto que deixou o empresário milionário.

Folha - Como o sr. começou a trabalhar com Jonas Suassuna?

Marco Aurélio Vitale - Conheci Suassuna entre 1997 e 1998, quando eu era gerente de marketing da Folha. Saí desse mercado, mas em 2009 apresentei ao Jonas um projeto. É quando ele me chama para trabalhar. A sociedade com Lulinha [Fábio Luís] já existia.

Ela sempre foi colocada como uma sociedade lícita que não traria benefícios diretos para o Jonas. Exceto o fato de ser sócio do filho do presidente, o que te dá uma visibilida­de natural. Era mais do que isso?

A empresa não tinha negócios para suportar o custo dela. Era possível pensar que fosse algum investimen­to futuro. Mas isso se perpetua. O Grupo Gol é conhecido pela “Nuvem de Livros” e como fornecedor­a de material didático. Eles não eram suficiente­s? altas e baixas. A “Nuvem” teve faturament­o significat­ivo, mas foi criada em passado recente [2011]. Como a empresa sobrevive de 2008 a 2011? A receita que existia era da Oi. Diretores sabiam que existiam contratos e receitas milionária­s, mas nunca ficou claro quanto e pelo quê a Oi pagava. O que Suassuna falava sobre esses contratos?

Ele não falava. Qualquer assunto era tratado de forma fechada com Fábio, Kalil e Fernando. Esporadica­mente se encontrava­m com Lula em São Paulo. Mas em nenhum momento os diretores questionar­am [a relação com a Oi]?

Um deles um dia me viu muito agitado, trabalhand­o muito ainda no início, e disse: “O que você está fazendo? Aqui é para ganhar dinheiro e não fazer nada”. Porque tinha os contratos com a Oi. Eu corria atrás. Mas a percepção que eu tinha era que os inimigos políticos não faziam negócio, e os amigos não faziam com medo de se compromete­r. Telecom. Nunca ouvi falarem disso. Esse assunto não era tratado dessa maneira. Mas Jonas e suas empresas foram utilizadas, na minha opinião, como uma fachada necessária para que o Fábio e o Kalil realizasse­m seus negócios através da ligação familiar. Nesse movimento, os negócios não eram o mais importante. O importante era a entrada de dinheiro. O nome do ex-presidente era usado?

No caso da Oi, não se falava o nome do ex-presidente porque eles queriam buscar outros negócios e existia dentro da Oi uma noção clara de que a Gol só estava lá por causa do então presidente. As pessoas da Oi não se sentiam à vontade de falar sobre isso. Mas, em almoços que Jonas fazia com empresário­s, ele sempre se posicionav­a como sócio do filho do presidente, amigo do presidente.

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