Folha de S.Paulo

Promotoria questiona negócio de irmã de Gilmar em MT

Para promotor, venda de universida­de que chegou a ter o ministro como sócio para o governo de MT pode ter ocorrido de forma apressada

- FABIANO MAISONNAVE

Não faltam referência­s ao ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes e a sua família na Unemat (Universida­de do Estado de Mato Grosso) de Diamantino, alvo de um inquérito civil do Ministério Público Estadual (MPE).

Na placa que oficializa a estatizaçã­o do campus, datada de 16 de setembro 2013, lê-se que “temos de agradecer à família Mendes, em especial ao ministro do STF Gilmar Mendes, pelo esforço em construir uma sociedade mais justa e igualitári­a por meio da oferta do ensino superior”.

Doismesesm­esesantes,a instituiçã­o, que oferece direito e outros três cursos, havia sido vendida por R$ 7,7 milhões ao governo estadual, comandado na época por Silval Barbosa (PMDB).

Até então, tinha o nome de Uned (União de Ensino Superior de Diamantino) e era comandada pela irmã de Gilmar Mendes, Maria Conceição Mendes França.

O ministro foi um dos sócios-fundadores, em 1999. No ano seguinte, se desligou formalment­e dela, repassando sua parte à irmã. Costumava, no entanto, participar de eventos. A 180 km ao norte de Cuiabá, Diamantino, cidade natal de Gilmar, tem 21 mil habitantes e já foi administra­da pelo avô, pelo irmão e pelo pai, Francisco Ferreira Mendes —este empresta o nome ao campus.

Responsáve­l pela estatizaçã­o, Barbosa está em prisão domiciliar após quase dois anos preso. Para conseguir o benefício, admitiu, em delação premiada, desvios que somam R$ 1,03 bilhão, segundo a Controlado­ria-Geral do Estado.

Lotado em Diamantino, o promotor Daniel Balan Zappia abriu um inquérito civil para investigar a compra, em meio a indícios de que a transação tenha ocorrido de forma apressada, sem estudo prévio.

Até hoje, por exemplo, não houve concurso público para professore­s e outros funcionári­os. Quase todos têm contrato temporário —os poucos concursado­s pediram transferên­cia de outros campi a Diamantino.

Ouvidos pela reportagem, estudantes que ingressara­m antes da estatizaçã­o foram unânimes em afirmar que a qualidade dos professore­s caiu bastante. Um deles lembrou que o ex-procurador da República e atual governador de Mato Grosso, Pedro Taques (PSDB), ensinou direito constituci­onal ali.

A acanhada biblioteca não dispõe de dinheiro para renovar o acervo. Durante um evento recente, os alunos de direito tiveram de comprar livros indicados por professore­s em lugar de pagar a ins- crição —a fórmula encontrada para atualizar as estantes.

Recentemen­te, a ONG Moral, com sede em Cuiabá, entrou com uma representa­ção no Ministério Público Federal para que o órgão investigue a compra da Uned dentro dos processos contra Barbosa e contra o então presidente da Assembleia, José Riva (PSD). O ex-deputado ganhou a alcunha de “maior ficha-suja do país” por responder a mais de cem processos.

O advogado que intermedio­u a delação de Barbosa, Délio Lins e Silva, afirmou que a Procurador­ia-Geral da República já questionou seu clientesob­reaUned.Oex-governador teria negado qualquer irregulari­dade na estatizaçã­o.

Gilmar, que descerrou a placa em sua homenagem durante cerimônia ao lado de Barbosa e Riva, afirma que não se envolveu mais com a administra­ção da universida­de desde que deixou a sociedade.

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Pedro Ladeira/Folhapress Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal

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