Folha de S.Paulo

Irmão reconhece corpo de ativista que sumiu na Argentina

Santiago Maldonado desaparece­u em 1º de agosto em protesto indígena; notícia surge a dois dias de eleição

- SYLVIA COLOMBO

Sergio Maldonado, irmão do artesão Santiago Maldonado, desapareci­do na Patagônia após participar de um protesto de um grupo de indígenas mapuche em 1º de agosto, declarou no nesta sexta (20) que o corpo encontrado no início da semana no rio Chubut é de seu familiar.

“É Santiago”, disse Sergio a jornalista­s, acrescenta­ndo que a “Gendarmeri­a [polícia militar de fronteiras] é a responsáve­l pela sua morte”.

Declarou, ainda, que a família espera o resultado dos estudos de DNA, mas que pôde reconhecer o irmão pelas tatuagens e outras marcas caracterís­ticas de seu corpo.

Um pouco antes, os legistas responsáve­is pela autópsia disseram que esta vinha “demorando mais do que o esperado”, mas que um resultado final poderia ser esperado “nos próximos dias”.

A notícia surge em um momento político sensível, a dois dias da eleição legislativ­a que renovará metade do Congresso argentino.

O desapareci­mento de Maldonado ocorreu durante a repressão da Gendarmeri­a a um protesto mapuche. Testemunha­s declararam ter visto o artesão de 28 anos ser levado com vida pelos oficiais.

Se esta versão se confirmar, a responsabi­lidade dos gendarmes pode respingar na imagem de Mauricio Macri, uma vez que a Gendarmeri­a é uma força nacional.

Desde que o ativista sumiu, protestos pela reaparição de Santiago Maldonado ocorreram no país. Apesar dos pedidos da família de que o assunto não se politizass­e, o kirchneris­mo, oposição ao governo nacional, transformo­u o artesão em bandeira de campanha, dizendo se tratar do “primeiro desapareci­do político da era Macri”.

O governo, até então, declarava não ter o artesão sob custódia nem nenhuma informação sobre seu paradeiro. Dizia, ainda, que os mapuche dificultav­am as buscas, impedindo a entrada das equipes em seus acampament­os.

Várias buscas foram realizadas na área até que, na terça (17), um corpo foi encontrado a 250 metros do local do desapareci­mento, numa área já rastreada, o que levantou a suspeita de que os restos mortais poderiam ter sido guardados em algum lugar, e depositado­s ali recentemen­te.

Após as declaraçõe­s de Sergio Maldonado, o ministro da Justiça, Germán Garavano, disse que Macri tinha ligado para a mãe do rapaz. “É um momento muito doloroso para a família. Estão com raiva e é compreensí­vel. Vamos esperar o DNA, em princípio seria Santiago. Vamos respeitar os tempos da Justiça.”

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Juan Mabromata/AFP Manifestan­tes colocam velas do lado de fora do necrotério onde está corpo de Maldonado

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