Folha de S.Paulo

A mobilidade dos waraos, porém, está gerando atritos

-

levar ajuda a familiares, principalm­ente por causa da diminuição das doações.

“Aqui tem comida três vezes ao dia, medicament­o”, diz Freddy Cardona, 30, que vive em um grande abrigo do governo estadual com capacidade para 300 pessoas, onde atualmente há 128.

“O problema é que, antes, muita gente dava ajuda. Isso acabou”, completa, ao explicar por que sua mãe, cunhada e dois primos foram de Manaus a Belém de barco, uma viagem de cinco dias.

No início do ano, os waraos estavam acampados ao lado da rodoviária de Manaus, sob um grande viaduto, e em casas semiabando­nadas no centro da cidade. Na época, cinco indígenas morreram, dos quais três crianças.

As condições precárias comoveram os moradores da cidade. Muitos paravam ali para deixar alimentos, dinheiro e roupas. Com a mudança para os abrigos e a percepção de que o problema foi resolvido, essa ajuda minguou.

Os waraos afirmam que a situação das comunidade­s na Venezuela está cada vez mais crítica devido ao desabastec­imento, ao custo dos alimentos e à falta de remédios. Estimados em 49 mil pessoas, vêm do Delta Amacuro (nordeste do país, a cerca de 1.800 km de Manaus por estrada).

Em 22 de setembro, dois waraos foram mortos a tiros pela polícia durante um protesto em que pediam comida. Outros três saíram feridos a bala. Nesta sexta (20), dez policiais foram presos.

Para ajudar parentes que ficaram, waraos viajam de Boa Vista (RR), Manaus e Belém até suas comunidade­s, onde deixam comida, roupas e remédios, e voltam com peças de artesanato ou fibra de buriti para produzi-las. BARRADOS NO ABRIGO com a administra­ção do abrigo de Manaus, que não permite a reunificaç­ão familiar dos que voltam do Pará.

Na quinta (19), dois waraos abandonara­m o abrigo depois que seus parentes foram barrados. Rosa coletou o relato de uma mulher e duas crianças que voltaram a Manaus após seis dias de viagem, mas não puderam entrar.

“Não entendemos essa regra”, diz Cardona, que não sabe o que fará quando seus parentes vierem de Belém. “Nas nossas comunidade­s, podemos passar seis anos fora e voltamos tranquilam­ente. Agora não sei por que no Brasil não podemos fazer isso.”

A administra­ção do abrigo, sob responsabi­lidade da Secretaria da Assistênci­a Social do Amazonas, informou que segue um fluxograma de trabalho acordado com o Ministério Público Federal segundo o qual só os waraos que chegam diretament­e da Venezuela podem ser acolhidos.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil