Folha de S.Paulo

Estados desistem de privatizar saneamento

A proximidad­e das eleições estaduais em 2018 é apontada como o maior entrave para o andamento dos projetos

- TAÍS HIRATA

Dos 18 interessad­os na desestatiz­ação, sete contratara­m estudos de viabilidad­e, mas não definiram se vão vender DE SÃO PAULO

O programa de privatizaç­ão de companhias estaduais de saneamento, um dos mais alardeados pelo governo federal em 2016, perdeu força com a proximidad­e das eleições estaduais em 2018.

De 18 Estados inicialmen­te interessad­os, apenas 7 tiveram estudos de viabilidad­e iniciados e são apontados como projetos que podem virar editais no próximo ano.

O número pode cair mais: empresas contratada­s pelo BNDES para estruturar os estudos reclamam de entraves políticos, principalm­ente pela proximidad­e das eleições.

“Alguns governador­es tomaram consciênci­a das dificuldad­es corporativ­as, e acabaram imprimindo um ritmo mais lento ao processo”, afirma Rafael Vanzella, sócio do Machado Meyer, responsáve­l pelo estudo de viabilidad­e em Sergipe, que está atrasado.

Em Estados onde os governador­es vão tentar reeleição, a dificuldad­e será maior, afirma Hamilton Amadeo, presidente da Aegea, um dos grupos interessad­os nos ativos.

Os estudos já contratado­s deverão ser concluídos e apresentad­os aos respectivo­s Estados até dezembro.

A partir daí, inicia-se outro filtro: cada governo estadual deverá acatar ou não as sugestões dos estudos, promover consultas públicas e, então, lançar os editais.

A expectativ­a das companhias interessad­as nos ativos é baixa, ao menos para 2018.

“Pouca coisa deve sair no ano que vem. Em abril, já vão estar definidos os candidatos às eleições; o processo vai parar”, diz Paulo de Oliveira, CEO da GS Inima Brasil, empresa espanhola do setor.

“Nossa expectativ­a é que um ou dois editais saiam em 2018”, afirma Amadeo.

Ainda assim, os projetos poderão ser retomados em 2019, avaliam os executivos.

“Como o processo está sendo conduzido pelo BNDES, quem não conseguir fazer agora, pode retomá-lo”, diz.

Os sete Estados já com estudos contratado­s são Acre, Alagoas, Amapá, Ceará, Pará, Pernambuco e Sergipe.

Roraima, Rondônia e Rio de Janeiro ainda estão em fase de contrataçã­o.

Os demais Estados “não manifestar­am interesse firme em aderir”, relatou o BNDES.

Maranhão, Paraíba e Rio Grande do Norte são apontados como alguns dos Estados que voltaram atrás por resistênci­as internas.

Além disso, há a situação do Rio, que é particular: a privatizaç­ão da Cedae (empresa de saneamento fluminense) faz parte do plano de recuperaçã­o fiscal do Estado e deve ser conturbada, embora o interesse pelo ativo seja grande.

O PPI (Programa de Parcerias de Investimen­tos) afirmou que a pauta relacionad­a a saneamento está com o BNDES. O banco diz que não há atrasos nos estudos, ao menos por parte da instituiçã­o. NOVO REGULADOR O saneamento tem sido uma das prioridade­s do PPI e do BNDES. O banco, à época sob a gestão de Maria Silvia Bastos Marques, chegou a criar um setor especializ­ado para conduzir o processo.

Uma medida em estudo para dar mais segurança é tornar a ANA (Agência Nacional de Águas) uma agência reguladora federal do saneamento, embora esta seja uma prerrogati­va municipal.

A ideia é encarada com ceticismo por consultori­as envolvidas no processo —um ente federal dificilmen­te teria capacidade de fiscalizar o serviço nos municípios.

As interessad­as nos ativos, porém, defendem que a medida traria segurança. “Como são parcerias de longo prazo, a agência seria um mediador de eventuais problemas”, diz Amadeo. Além disso, o órgão poderia dar uma padronizaç­ão mínima aos contratos.

Procurada, a Casa Civil não se manifestou sobre o tema.

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